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Filmes Vistos em Dezembro - Parte 1

El Monte de las Animas (Vick Campbell, 2007) 0/10

Com: Eloisa McNought, Julián Santos, Thais Buforn, Albert Gammond, Raquel Ezpeleta

A.K.A. El Retorno de los Templarios, Graveyard of the Dead — Dizer que Amando de Ossorio deve estar se revirando no túmulo em desgosto com essa "homenagem" é pouco. A sua série dos Blind Dead é um dos prazeres proibidos mais bacanas dos aficcionados pelo horror setentista underground, mas isso aqui é uma coisa indescritível de tão ruim. Você achou a capa chamativa? Pois bem, saiba que não há nada disso aí na historieta retardada do grupo de templários bebedores de sangue que ressuscita para causar o pavor num vilarejo povoado por gente retardada. A nudez é praticamente inexistente, a mulherada é feia e o "nível" (entre aspas mesmo) da direção é abominável. Não tenho nada contra filmes de baixo orçamento, mas prescindir do básico na linguagem cinematográfica é algo que você só pode fazer nos filmagens caseiras de fim de semana. Edição, ritmo, elenco, roteiro? Aqui isso não existe, é tudo um dos desastres mais enfadonhos e escalafobéticos que já vi na vida. Essa porcaria é o tipo de coisa muito divertida de se fazer como palhaçada entre amigos, mas conseguir lançar uma coisa dessas comercialmente é algo que vai além da minha parca compreensão.

Skyline - A Invasão (Colin Strause e Greg Strause, 2010) 5/10

Com: Eric Balfour, Scottie Thompson, Donald Faison, David Zayas, Crystal Reed

É simples assim: durante uma noite qualquer, uma sucessão de focos luminosos despenca do céu e se aloja no centro de Los Angeles, iniciando uma série de eventos catastróficos que têm como objetivo a invasão do planeta por criaturas extraterrestres. Tudo o que acontece, da confusão inicial ao caos que vem em seguida, é mostrado de acordo com o ponto de vista de um grupo reduzido de pessoas dentro de um dos prédios situados no olho do furacão. Com certeza já vimos isso em algum outro lugar, o que praticamente destrói qualquer expectativa em relação a algo novo. Mais contundente ainda é a carga de influências sobre as quais o filme é construído, sendo as principais na minha opinião Guerra dos Mundos, Cloverfield - Monstro, Distrito 9 e as séries Alien e Matrix. Como diversão, Skyline é um filme difícil de ser categorizado porque sofre de vícios de roteiro muito fortes na primeira metade (o pior deles é o grupo de personagens antipáticos ou sem carisma algum), o que resulta num ritmo desigual que não prepara a plateia o suficiente para a destruição que vem em seguida. Ao mesmo tempo, a sensação de que o mundo está acabando e que não há esperança de sobrevivência é muito bem estabelecida, culminando num final tão anti-hollywoodiano quanto paradoxalmente otimista - de uma forma deliciosamente anormal. Mesmo com todos os defeitos, seria no mínimo interessante ver onde os cineastas levariam a ideia de Skyline se uma sequência fosse realizada.

A Liberdade é Azul (Krzysztof Kieslowski, 1993) 8/10

Com: Juliette Binoche, Benoît Régent, Florence Pernel, Charlotte Véry, Hélène Vincent

Celebrando os 200 anos da Revolução Francesa, os três filmes da chamada "trilogia das cores" têm por objetivo espelhar os ideais políticos da França, que por sua vez são simbolizados pelas cores de sua bandeira: liberdade, igualdade e fraternidade. A Liberdade é Azul é o primeiro deles, e pelo menos para mim foi difícil associar a história trágica de Julie (Juliette Binoche) com o conceito de liberdade, a não ser por meio de uma interpretação meio bizarra. Depois de perder o marido e a filha num acidente trágico, a dona decide se isolar do próprio passado, abandonando todas as posses e passando a viver uma rotina vazia e desprovida de sensações de qualquer tipo. Se tal situação é um paralelo com a ideia de liberdade, é bom saber que Julie simplesmente não consegue se desvencilhar totalmente de sua própria identidade. A linguagem adotada por Kieslowski provoca sem jamais ser intrusiva, com imagens marcantes como os vários cortes falsos de cunho operístico (fade outs que retornam à mesma cena, quebrando a expectativa da plateia e oferecendo uma janela inesperada à psiquê da protagonista) ou a passagem que mostra o cubo de açúcar na xícara de café, uma das coisas mais bonitas que já vi num filme.

A Rede Social (David Fincher, 2010) 7/10

Com: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Rooney Mara

O advento da Internet acarretou mudanças profundas no mundo moderno, e o surgimento de megacorporações a partir deste meio não é novidade para ninguém hoje em dia. A trajetória de sucesso do Facebook, o site de relacionamentos atualmente mais usado no planeta, é um misto épico de empreendedorismo, genialidade e ambição corporativa, conforme demonstrado pelo filme de David Fincher, que por sua vez é baseado num livro escrito sobre o sucesso da companhia. Fincher é garantia de mão firme na condução da história, que vai e vem entre os primórdios da rotina nerd de Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) e as disputas judiciais que ele travou com os colegas envolvidos na criação do site. Retraído e antissocial ao extremo, Zuckerberg recebe uma caracterização extremamente antipática em A Rede Social, o que em teoria vai completamente contra a natureza da maioria das cinebiografias já produzidas. Em outras palavras, o cara é um canalha, e não há praticamente nada no filme que o redima. Fica no ar a questão de até que ponto ele se considerava dono da ideia e do produto que desenvolveu, o que mesmo assim não é justificativa para a completa falta de tato comunicativo ou mesmo uma sinceridade básica em relação àqueles que estavam mais próximos do projeto. A Rede Social é interessante sob o ponto de vista mercadológico atual ou para quem tem afinidade pelo tema, sem ser no entanto um trabalho espetacular. Em tempo: eu tenho um perfil no Facebook, mas raramente o acesso.

O Retorno dos Tomates Assassinos na França (John De Bello, 1992) 6/10

Com: Marc Price, Angela Visser, John Astin, Steve Lundquist, Eileen Bowman

Prestes a ser executado em sua prisão na França, mais uma vez o maléfico Dr. Gangreen (John Astin) consegue escapar das garras da lei com a ajuda do sobrinho bocó Igor (Steve Lundquist). Aproveitando a estadia no país e uma profecia maluca que diz que Igor será o novo rei da França, Gangreen elabora um plano mirabolante para criar o tomate mais assassino de todos os tempos, mas para isso ele terá que capturar Tomate Felpudo, o dissidente escarlate que se tornou amigo da humanidade e popstar desde que apareceu pela primeira vez em O Retorno dos Tomates Assassinos. Quem cai de pára-quedas para enfrentar os vilões é um rapaz norte-americano em viagem pelo país (Marc Price) e uma beldade francesa (a holandesa Angela Visser, Miss Universo 1989). O maior mérito desta que é a quarta parte da trilogia dos Tomates Assassinos (como apresentado nos créditos de abertura do filme) é se recuperar bem do baixo nível mostrado pelo terceiro capítulo. O nonsense e a metalinguagem extrema estão de volta com um carisma que chega perto da excelente segunda parte. Nota-se uma visível melhora nos efeitos especiais, e apesar de muitas das referências ao mundo pop da época se perderem quando se assiste ao filme hoje em dia é óbvio que o resultado final está acima da média.

As Crônicas de Nárnia - A Viagem do Peregrino da Alvorada (Michael Apted, 2010) 7/10

Com: Georgie Henley, Skandar Keynes, Ben Barnes, Will Poulter, Gary Sweet

Nárnia é um limbo inalcançável, uma dimensão alternativa que só pode ser acessada por crianças. Acho que é por isso que os irmãos Pevensie mais velhos são deixados de lado nesta terceira parte da saga, protagonizada somente pelos mais jovens Edmund (Skandar Keynes) e Lucy (Georgie Henley), que são arrastados de volta a Nárnia juntamente com o primo antipático e mesquinho Eustáquio (Will Poulter). Lá chegando eles se juntam aos navegantes do Peregrino da Alvorada, navio capitaneado pelo agora rei Caspian (Ben Barnes) que está em busca de sete fidalgos desaparecidos e das espadas sagradas de Aslan, a única esperança de derrotar a nova ameaça que paira sobre o reino. Sinceramente, nem dá para perceber a diferença nos alegados valores de produção oriundos da mudança de estúdio (sai Disney, entra Fox) e do orçamento radicalmente reduzido, o que serve como prova de que não são necessários centenas de milhões de dólares para se contar uma boa história de fantasia. Mais emocionante e menos forçado que Príncipe Caspian, o filme flui num ritmo bom, que alterna humor, ação e algumas surpresas ao longo de uma narrativa sem muitas complicações. Antes exposta de forma velada, a veia cristã da história é escancarada no seu desfecho. Se depender do resultado artístico deste filme, fico torcendo para que o estúdio continue a produzir as demais adaptações da série.

Megamente (Tom McGrath, 2010) 10/10

Vozes: Will Ferrell, Tina Fey, Brad Pitt, Jonah Hill, David Cross

Imagine uma história de super-herói em que o vilão, não o mocinho, é o centro das atenções. Jogue um pouco da mitologia do Super-Homem na fórmula e aplique uma pitada de outras tantas criações deste peculiar universo. Se o resultado vem num filme de animação produzido pela Dreamworks, por si só a experiência é obrigatória tanto os para fãs de animações quanto para os fãs super-heróis. Espetacular em todos os sentidos, Megamente tem como personagem-título um vilão cabeçudo de pele azul (voz de Will Ferrell) que vive às turras com o herói super certinho Metroman (voz de Brad Pitt). Durante um de seus inúmeros confrontos, alguma coisa dá errada e Metroman é finalmente obliterado, abrindo caminho para o reino de vilania sempre sonhado pelo bandido intergaláctico. Original, movimentado, carregado de referências e extremamente engraçado, Megamente é uma animação soberba, daquelas que te fazem sair do cinema com um sorriso de orelha a orelha. A familiaridade com universos de HQs famosas, o espetacular uso do 3D e a ousadia já esperada das situações cômicas acrescentam uma dimensão a mais à história - a Metrópolis do Super-Homem aqui é Metro City, e Lois Lane reencarna na figura da curvilínea Roxanne Ritchie (Rosane Rocha na dublagem em português). Além disso, a trilha sonora é fantástica, das composições incidentais aos clássicos do rock escolhidos a dedo. Imperdível!

Enterrado Vivo (Rodrigo Cortés, 2010) 6/10

Com: Ryan Reynolds, Ivana Miño, Robert Paterson, Stephen Tobolowsky, José Luis García Pérez

A maior verdade sobre Enterrado Vivo é que trata-se de um trabalho extremamente ambicioso em sua simplicidade. O filme começa na escuridão, com um homem (Ryan Reynolds) acordando dentro de um caixão de madeira intransponível. A primeira constatação é que ele está, portanto, enterrado. As demais vêm à medida em que ele descobre os vários itens que estão ao seu alcance, entre eles um isqueiro, um cantil com bebida e um aparelho celular. As ligações que o cara faz em meio ao desespero revelam os motivos de ele ter parado nessa sinuca de bico, e o conduzem a uma tênue esperança de salvação. Minimalista ao extremo, a história não cede em nenhum momento à tentação de abandonar a escuridão, rendendo um bom suspense às custas de uma certa vista grossa quando às tecnicalidades de não se consumir todo o oxigênio do recinto, seja acendendo uma chama durante a maior parte do tempo ou falando sem parar ao telefone. Há também um paralelo narrativo que oferece uma janela expositiva e crítica sobre o conflito da ocupação norteamericana no Iraque, que até provoca questionamentos mas não pode avançar muito devido às limitações cênicas. Enterrado Vivo é interessante como experiência cinematográfica, sendo mais indicado aos que apreciam suspenses que carregam um enfoque diferenciado.

Texto postado por Edward em 17 de Dezembro de 2010