Kick-Ass - Quebrando Tudo (Matthew Vaughn, 2010)
Com: Aaron Johnson, Chloe Moretz, Christopher Mintz-Plasse, Nicolas Cage, Mark Strong
A ideia conceitual de Kick-Ass, tanto o filme quando a HQ (desenvolvidos ao mesmo tempo), é de uma simplicidade e genialidade incríveis, e soa tão espetacular quanto alarmante quando se considera sua possível influência sobre jovens e impressionáveis mentes adolescentes. Nerd e fanático por heróis de história em quadrinhos, um estudante do colegial (Aaron Johnson) decide combater o crime como um de seus ídolos, com fantasia e tudo. O único problema é que ele não tem nenhum superpoder, não sabe lutar nenhuma arte marcial e carece de qualquer senso de perigo na cachola avoada. Ao se auto-intitular Kick-Ass, suas desastradas incursões como justiceiro noturno acabam por incentivar o surgimento de uma série de vigilantes fantasiados cujos destinos estão ligados a um poderoso chefão do crime de Nova York (Mark Strong, agora especialista em papéis de vilão).
Todo fã de HQs ou mídias associadas sempre sonhou com um filme que retratasse fielmente o que se vê nas páginas das revistas, e Kick-Ass é provavelmente a adaptação que mais chega perto de conseguir esse intento. Alguns se incomodam com o fato de uma menina de 11 anos (Chloe Moretz, espetacular) proferir a palavra "cunt", mas não há como negar que isso é plenamente justificado no contexto do filme. A linguagem e a violência são herdadas da HQ (que é muito mais cruel e profana, diga-se de passagem), e o tratamento narrativo aproxima-se com louvor de uma bem-vinda veia tarantinesca. Expectativas são recicladas, quebradas e ultrapassadas por coisas como a incompetência crônica do protagonista, a ascensão do eterno McLovin à categoria de supervilão ou a vingança tardia de Nicolas Cage por nunca ter sido o Super-Homem no cinema. Não há dúvida: a mistura de ação, comédia e a dose certa de carga dramática fazem do filme um espetáculo de entretenimento de primeira categoria. Só não fiquei muito fã do fato do moleque levar porrada de tudo quanto é jeito e aparecer de cara limpa na escola no dia seguinte. Será que ele tem fator de cura e esqueceram de mencionar?
La Nuit de la Mort (Raphaël Delpard, 1980)
Com: Isabelle Goguey, Betty Beckers, Michel Flavius, Charlotte de Turckheim, Jean Ludow
A.K.A. Night of Death! — Terror francês atmosférico e acima da média, com bom senso de estilo para compensar o roteiro um pouco truncado. Moça desempregada há meses (Isabelle Goguey) finalmente consegue uma vaga de trabalho num asilo de velhos comandado por uma diretora com mão de ferro (Betty Beckers), cujo zelador (Michel Flavius) é um manco mais que sinistro. A natureza sombria do lugar começa a incomodá-la de vez quando sua colega de trabalho (Charlotte de Turckheim) desaparece misteriosamente sem deixar pistas. O clima suscitado pela introdução é magnífico, mas acho que o choque vem cedo demais na história, que a partir de então derrapa um pouco para manter as coisas em movimento. Não vou entregar aqui do que se trata o cerne do filme para não entregar a surpresa, mas basta ter em mente uma coisa: velhinhos sinistros. A introdução do tal serial killer estuprador misterioso lá pela metade do filme, feita somente via passagens de jornal, soa vaga demais e poderia ter sido melhor trabalhada. La Nuit de la Mort me lembrou bastante o ótimo A Sentinela dos Malditos, e apesar das falhas (incluindo aí um trabalho de maquiagem criativo porém limitado) merece ser devidamente conhecido pelos fãs do gênero.
Estripador de Las Vegas (Nick Palumbo, 2004)
Com: Sven Garrett, Jade Risser, Valerie Baber, Tony Todd, Gunnar Hansen
Cuidado! Esse filme não vale nada! Não adianta ir pela capa bacana ou pelo teor chamativo do pacote, porque tudo em Estripador de Las Vegas é um lixo. Para se ter uma ideia, nem o desfile de uma quantidade enorme de mulher pelada consegue salvar essa produção do total desastre artístico. O filme nada mais é do que a rotina entediante de um alemão nazista (Sven Garrett) que passa todo o seu tempo em Las Vegas seduzindo e matando mulheres em seu porão, em quartos de motel e em banheiros públicos. Como o cara não atrai a atenção da polícia só mesmo Miss Marple e Sherlock Holmes para descobrir, porque a divisão de Las Vegas na visão do diretor Nick Palumbo deve ser de uma incompetência assombrosa. Não há desenvolvimento de personagens, e o inexplicável arco narrativo que envolve a namorada teimosa e a irmãzinha temerosa só serve de muleta para um final completamente imbecil. As participações de medalhões cult como Tony Todd, Gunnar Hansen e Edwin Neal são extremamente forçadas e nada acrescentam à história. E como se não bastasse o nível vergonhoso do elenco, as cenas de violência não conseguem transmitir nenhum senso de suspense, estilo ou originalidade. Fujam!
Alta Velocidade (Renny Harlin, 2001)
Com: Sylvester Stallone, Burt Reynolds, Kip Pardue, Til Schweiger, Estella Warren
Não há como negar: existem situações em que a confluência de talentos resulta em desastre, e Alta Velocidade é um exemplo clássico disso. Após a parceria bem-sucedida de Risco Total, Stallone e o diretor Renny Harlin novamente uniram forças para fazer um filme sobre corridas, mais precisamente um amálgama entre as categorias mais famosas do automobilismo na época: a Fórmula 1, a Fórmula Indy e as corridas da categoria CART. Infelizmente, a produção é um desastre, para não dizer um insulto com o automobilismo profissional. O roteiro é infantilóide ao extremo, as corridas são retratadas de forma absolutamente irreal e retardada, os pilotos são fantoches sem noção e a insistência de Stallone em aparecer no filme deixa a história sem um protagonista definido. O nível de canastrice é medido pela presença de atores como Burt Reynolds, que satiriza a si mesmo no papel de um chefe de equipe carrancudo. O mais impressionante: Harlin consegue esticar o filme até quase a casa das duas horas. O mais aterrorizante: originalmente, o roteiro de Stallone consistia numa cinebiografia de Ayrton Senna. O mais engraçado: Stallone declarou, em entrevista não tão recente, que este é um dos filmes que ele se arrepende amargamente de ter feito.
Las Orgías Inconfesables de Emmanuelle (Jesus Franco, 1982)
Com: Muriel Montossé, Antonio Rebollo, Antonio Mayans, Asunción Calero, Carmen Carrión
A.K.A. The Inconfessable Orgies of Emmanuelle; Emmanuelle Exposed — De acordo com Jesus Franco, que nem mesmo gostava de Sylvia Kristel, o Emmanuelle do título não passou de uma imposição do estúdio para capitalizar em cima da famosa série erótica lançada em 1974. É fato que seu filme tem algo da atmosfera do "original", ainda que esteja marcado por todas as nuances características do cineasta. A história é narrada por um altivo empresário espanhol (Antonio Rebollo) que relata a visita da tal Emmanuelle (Muriel Montossé) ao seu vilarejo em companhia do marido (Antonio Mayans) numa segunda lua-de-mel. Depois de fazer um showzinho lésbico com a amante do espanhol numa boate, a moça provoca o ciúme do marido e passa o resto do filme se aventurando. Contrariando o chamativo título do filme, não há nenhuma orgia em cena, e mesmo o que é mostrado na tela não tem lá muita carga erótica. Ida Balín (pseudônimo de Asunción Calero) só é bonita enquanto não tira a roupa, então todos os holofotes recaem somente sobre a bela francesa Muriel Montossé. Um detalhe interessante deste filme é o modo como Franco tira sarro dos espanhóis, especialmente na cena em que o narrador cheio de panca resolve mostrar à forasteira como fazer uma mulher se apaixonar pelo jeito espanhol de fazer amor. É uma das coisas mais hilárias que Franco já filmou. Só é uma pena que o longa seja bem enfadonho na maior parte do tempo.
Salt (Phillip Noyce, 2010)
Com: Angelina Jolie, Liev Schreiber, Chiwetel Ejiofor, Daniel Olbrychski, August Diehl
Se depender do diretor Phillip Noyce e do roteirista Kurt Wimmer (diretor da atrocidade conhecida como Ultravioleta), a Guerra Fria continua mais viva do que nunca. Ou pelo menos dormente. Que o diga Evelyn Salt (Angelina Jolie), uma agente da CIA que é surpreendida por um desertor do serviço secreto russo que a acusa de ser uma espiã russa. E não é só isso, ele declara que a dona vai assassinar o presidente russo em solo americano dentro de um dia. E dá-lhe correria, explosões, assassinato e reviravoltas a torto e a direito. Afinal, ela é ou não é uma espiã? Tirando o fato de que é preciso relevar muita coisa para acompanhar o fluxo narrativo do filme, há de se admitir que ele entretém e empolga. As influências e as comparações com a estética definida por Jason Bourne são inevitáveis, mas Angelina Jolie consegue imprimir sua própria marca na personagem, e a trilha sonora de James Newton Howard é com certeza uma das mais bacanas dos filmes de ação recentes. Apesar de ferir a lógica de forma gritante várias e várias vezes, Salt é paranóico e movimentado, e agrada em cheio aos fãs do gênero que sentem falta de uma personagem feminina forte nas telonas.
Nightbreed - Raça das Trevas (Clive Barker, 1990)
Com: Craig Sheffer, David Cronenberg, Anne Bobby, Charles Haid, Doug Bradley
Foram praticamente duas décadas de atraso, mas finalmente consegui assistir a este filme. Em época de franca adolescência, a HQ de Raça das Trevas era uma das minhas favoritas, e só de descobrir que um filme havia sido feito com aqueles personagens eu já fiquei emocionado, ainda mais quando ele foi dirigido pelo próprio pai da criança, o inglês Clive Barker. Infelizmente, minhas expectativas não foram correspondidas na experiência cinematográfica, a partir da qual a HQ foi na verdade adaptada (fiquei sabendo disso só agora). Aaron Boone (Craig Sheffer, do qual David "Angel" Boreanaz é um óbvio sósia) é um jovem atormentado por pesadelos sobre um mundo habitado por monstros chamado Midian. Certo dia seu psiquiatra (David Cronenberg - sim, o diretor) acusa-o de ser o autor de uma série de assassinatos terríveis que casam com as descrições de seus sonhos, o que coloca Boone pra correr e faz com que ele finalmente encontre Midian. A subversão dos papéis entre humano e monstro é apenas uma das coisas que não funcionam bem no filme, que padece ainda de um desenvolvimento pobre de personagens e de uma histeria injustificada que permeia toda a história. Dizem por aí que Barker quer viabilizar o lançamento de uma versão definitiva, mas acho difícil ele conseguir melhorar, por exemplo, o punhado de atuações exageradas de seu elenco. O único que justifica um pouco o exagero é Cronenberg, que parece bem à vontade em seu papel.
Sexta-feira 13 - Parte VI: Jason Vive (Tom McLoughlin, 1986)
Com: Thom Mathews, Jennifer Cooke, David Kagen, Renée Jones, Kerry Noonan
Com tanta gente retardada no mundo, Jason tinha que ser morto por um retardado. Se bem que, pensando bem, Tommy (Thom Mathews) não era retardado na parte IV (em papel feito por Corey Feldman). Nesta parte VI, Tommy já está adulto e começa o filme exumando o cadáver de Jason em companhia de um amigo. Em meio a uma tempestade torrencial, o corpo de Jason é atingido por um raio e volta à vida. E o resto, caros amigos, é o que todos nós já sabemos. Se o cara já era foda em vida, que dirá na morte... Depois de fazer amizade com a filha do xerife (Jennifer Cooke), Tommy tenta de tudo para impedir um novo massacre no reformado acampamento Crystal Lake, desta vez repleto de crianças em nova temporada de férias. Considerado por muitos como um dos melhores exemplares da série, Jason Vive tem como mérito maior o fato de recolocar o famoso psicopata de volta ao seu percurso normal (depois do desastre concebido na parte V), dando-lhe a esperada imortalidade que garantiu aos seus filmes uma sobrevida considerável. Jason é uma força da natureza. Ele mata porque é de sua natureza matar, e aqui o faz de formas bem divertidas, apesar da completa ausência de nudez das adolescentes da vez. Atenção para a participação do ator/diretor Tony Goldwyn na primeira cena de monitores assassinados.
Divagações postadas por Edward de 14 a 17 de Agosto de 2010