La Ragazzina (Mario Imperoli, 1974)
Com: Gloria Guida, Paolo Carlini, Colette Descombes, Andrés Resino, Gianluigi Chirizzi
A.K.A. Monika — Sem a menor pretensão de chegar aos pés de Lolita (Stanley Kubrick, 1962), La Ragazzina é um daqueles pastiches descartáveis que apresentam mais uma visão para a destruição social que uma mocinha de 15 anos é capaz de causar no mundo masculino à sua volta. Bem, é mais ou menos isso, apesar do visível relaxo narrativo do filme. Monika (Gloria Guida) está prestes a fazer aniversário, e continua a rejeitar as investidas toscas do namorado, uma rapaz que é também aprendiz de cafetão. Ela adora saracotear pra lá e pra cá com os vestidos mais provocantes possíveis, daqueles de deixar bodes velhos doidos de desejo. Um deles inevitavelmente cai na sua teia, mas o verdadeiro interesse da garota parece estar em outro lugar. O desenvolvimento da história é frouxo e relaxado, principalmente na caracterização básica de personagens (como o namorado cafetão, visivelmente esquecido na reta final), e a pouca variação emocional fica reservada para o desfecho engraçadinho. Dito isso, mais uma vez o maior atrativo do filme termina sendo a belíssima protagonista, que faz a alegria dos admiradores de um guilty pleasure rasteiro e inocente.
Mensagens do Além (David Fairman, 2007)
Com: Jeff Fahey, Kim Thomson, Martin Kove, Bruce Payne, Jon-Paul Gates
Médico patologista (Jeff Fahey) vive em crise pessoal e se afoga em bebida desde o trágico falecimento da esposa. Quando um assassino encapuzado começa a matar várias mulheres da cidade ele passa a integrar a equipe de investigação, que inclui ainda um famoso detetive norte-americano (Martin Kove) e uma ex-colega de faculdade (Kim Thompson). Ao mesmo tempo, várias mensagens estranhas começam a aparecer em sua rotina diária, trazendo à tona um passado conturbado e colocando-o numa situação desconfortável diante dos colegas. É notável o potencial latente de grande filme que existe em Mensagens do Além. Infelizmente, o longa padece de uma atmosfera de Super Cine que mina as expectativas da história antes mesmo delas serem estabelecidas. Jeff Fahey é quem mais surpreende numa performance inspirada, enquanto o sempre canastra Martin Kove aparece como um dos pontos baixos do elenco ao destoar completamente do restante dos colegas. O roteiro comete alguns exageros desnecessários no tratamento dado ao limiar entre o real e o sobrenatural, e quase consegue de redimir na revelação final. Mas não tem jeito, o veredito é de Super Cine mesmo. Passável, mas ainda assim Super Cine.
Shrek Para Sempre (Mike Mitchell, 2010)
Vozes: Mike Myers, Eddie Murphy, Cameron Diaz, Antonio Banderas, Walt Dohrn
Depois da experiência inferior de Shrek Terceiro, a franquia do ogro verde retorna às mãos de um cineasta mais experiente, ainda que essa seja a estreia em longas de animação do diretor Mike Mitchell. Shrek (Myers) está de volta ao seu amado pântano, em companhia da esposa Fiona (Diaz) e de seus três filhos, além dos melhores amigos Burro (Murphy) e Gato-de-botas (Banderas). Mas ele vai ficando cada vez mais infeliz por causa da rotina e de seu novo status de ogro bonzinho. Ao perceber isso, o sorrateiro Rumpelstiltskin (Walt Dohrn) o convence a assinar um de seus traiçoeiros contratos, dando-lhe um dia inteiro para voltar a ser um ogro de verdade. O que Shrek não percebe é que tudo não passa de um plano para que o vilão tome o reino para si. E nesta nova realidade, nenhum de seus amigos sabe quem ele é. Ao mesmo tempo em que Shrek Para Sempre consegue ser engraçado sob um ponto de vista convencional, a presença de um humor mais sutil (benefício claro dos avanços na tecnologia de animação gráfica) é algo que eu gostei bastante. Ponto positivo também por terem tornado Fiona menos chata, só é uma pena que ela volte a ser quem era quando o filme acaba.
Predadores (Nimród Antal, 2010)
Com: Adrien Brody, Alice Braga, Topher Grace, Walton Goggins, Laurence Fishburne
Podem falar o que quiserem de Predador 2 (Stephen Hopkins, 1990), mas essa foi uma ótima continuação. De lá para cá dois grandes sacrilégios foram feitos à mitologia criada pelo original de 1987, mas ainda bem que Hollywood decidiu parar por um tempo com os crossovers inúteis. Produzido pelo fã famoso Robert Rodriguez, Predadores é uma tentativa de retornar ao estilo que marcou um dos melhores filmes de horror/ficção científica da década de 80. Numa selva desconhecida, vários estranhos caem de pára-quedas sem saberem como foram parar ali. Como exceção de um deles, logo todos descobrem que foram tirados de suas rotinas militares, mercenárias ou assassinas. E não demora para eles entenderem que estão ali para serem caçados por criaturas alienígenas conhecidas (por nós) como predadores. Adrien Brody e a brasileira Alice Braga seguram as pontas como os líderes do grupo, que mais tarde é surpreendido por um sobrevivente de caçadas anteriores (Laurence Fishburne, em participação especial). As semelhanças entre Predadores e Predador, o original de 1987, são apimentadas por um dilema meio forçado sobre a natureza obscura do ser humano (por que ninguém questiona o passado de Topher Grace assim que ele entra para o grupo?). Faltou um pouco mais de ousadia no design de produção que deveria retratar a floresta alienígena, mas mesmo assim o filme é ótima diversão e apaga com louvor o azedume deixado pelos encontros mequetrefes entre predadores e aliens.
O Orfanato (Juan Antonio Bayona, 2007)
Com: Belén Rueda, Fernando Cayo, Roger Príncep, Geraldine Chaplin, Mabel Rivera
Se tem alguém aí que ainda não assistiu a este filmaço, pare agora e corra atrás de uma cópia (legítima), seja em DVD ou Blu-ray, e corrija imediatamente essa terrível ausência em sua cultura cinematográfica contemporânea. Afinal, poucos são os filmes de horror, principalmente em tempos recentes, que merecem a alcunha de obras-primas. O Orfanato orgulhosamente é um destes filmes, e quem diz o contrário tem problemas muito sérios de aceitação social ou orientação sexual. O alcance emocional deste trabalho impressionante é algo raramente obtido em cinema, principalmente quando o diretor e boa parte da equipe técnica são estreantes em produções de longa-metragem. O filme é ainda notório por trazer uma carga dramática acima da média para uma obra do gênero, culminando num dos desfechos mais catárticos já concebidos em película.
Agora é só rezar para que os norte-americanos não estraguem o legado criado pelos espanhóis com mais uma refilmagem desnecessária!
Boa vs. Python - As Predadoras (David Flores, 2004)
Com: David Hewlett, Jaime Bergman, Kirk Woller, Adamo Palladino, Angel Boris Reed
Confesso que o único motivo de eu ter adquirido essa pérola da ruindade foi a curiosidade de saber que diabos poderia existir de premissa para uma luta entre uma jiboia e uma sucuri (boa é o nome científico da jiboia, e python é o nome genérico dado às sucuris e anacondas). Historicamente, existem filmes chamados Boa e Python, mas receio que não exista qualquer relação entre eles e esta atrocidade, tal qual aquela existente no caso de crossovers famosos como Alien Vs. Predador e Freddy Vs. Jason. Boa Vs. Python é a história de uma sucuri gigantesca que escapa do cativeiro de um mercenário (Adamo Palladino) que promove caçadas ilegais. Um agente do FBI (Kirk Woller) se encarrega de capturá-la, e para isso "recruta" a descomunal jiboia de estimação de um cientista (David Hewlett) para que as duas, sei lá... lutem até a morte? O que acontece a seguir é uma das maiores bizarrices ruins que já vi em toda a minha vida de cinéfilo, enquanto polícia e bandidos saem a esmo procurando as serpentes vitaminadas. Infelizmente, não é só a história e os efeitos especiais que são hediondos, já que as cenas de ação parecem ter sido filmadas e editadas por um retardado. David Flores, o responsável, foi obviamente promovido ao cargo de diretor dessa joça por ter trabalhado na edição de Boa e Python 2. A única coisa que se salva em meio ao festival de ruindade é a bela Angel Boris Reed, no papel da namorada do homem da cobra. E é só por ela que essa porcaria não leva nota zero.
Ata-me! (Pedro Almodóvar, 1990)
Com: Victoria Abril, Antonio Banderas, Loles León, Francisco Rabal, Rossy de Palma
Como é interessante rever um filme como Ata-me! quando se está anos mais experiente. Lembro-me de não ter ficado nem um pouco impressionado quando o vi há vários anos atrás, mas agora preciso dizer que adorei o filme. Aqui fica óbvio que Almodóvar em início de carreira era um cineasta desprendido, que podia fazer filmes ótimos sem a profundidade narrativa que se tornaria um forte em seus trabalhos futuros. Não que Ata-me! não seja contundente no que pretende mostrar, e isso o filme demostra com abundantes cores e formas - que o digam as cenas tórridas entre Antonio Banderas e a já quarentona Victoria Abril. Ela é uma ex-atriz pornô e ex-viciada que está fazendo um filme convencional. Ele é um doente mental que acaba de ser liberado da instituição psiquiátrica por bom comportamento. Obcecado pela atriz, o rapaz vai de encontro a ela como um trem-bala, e vai ter o que deseja nem que seja à força. O filme é uma mistura bem-acabada de suspense, humor negro e drama, e de certa forma trapaceia por confundir a percepção da plateia sobre o personagem de Banderas. Afinal, é certo ou errado sentir-se culpado por simpatizar com sua loucura (até certo ponto) e querer relevar os delitos que ele comete em nome de uma paixão cega? Deve ter sido mais ou menos isso o dilema vivido pela atriz encurralada (ótima performance da sra. Abril). E há quem enxergue uma veia crítica/satírica no roteiro de Almodóvar, porém analisar o filme sob essa perspectiva corre o risco de fazer com que ele perca a graça.
Divagações postadas por Edward de 27-JUL a 1-AGO de 2010