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Aprendendo Inglês com Filmes
Às vezes sou perguntado sobre onde aprendi a falar inglês, ou o que fazer para aprender inglês de maneira efetiva. Nestes últimos dias estive pensando sobre isso, mais ou menos após aprender o significado de "cuckold" por meio do filme Dossier Érotique d'un Notaire (Jean-Marie Pallardy, 1972).
Quase sempre a minha resposta para a pergunta do parágrafo acima é básica: mamãe e papai me colocaram na escolinha do Fisk quando tinha 12 anos e blá-blá-blá. Sim, é verdade, o fato de ter feito um curso direcionado bem cedo na vida foi decisivo. Um curso assim representa um importante passo para todos que desejam dominar o idioma. Infelizmente, o mais importante no meu ponto de vista não é esse tal curso oferecido pelos Fisks, CCAAs e Wizards da vida, que muita gente ainda acredita ser uma coisa mágica. Experimente, por exemplo, fazer o curso completo e ficar 1 ou 2 anos longe de qualquer coisa que tenha a ver com inglês. O que acontece?
Na minha opinião, existem duas verdades absolutas sobre aprender inglês:
- É preciso gostar - se você não gosta de algo, por que dedicar seu tempo a isso? Você pode aprender na marra, mas nunca sairá do nível do necessariamente medíocre;
- É preciso se manter em atividade, lendo, falando, escrevendo - acima de tudo, aprendendo mais neste processo e ampliando o vocabulário.
Geralmente, quem se mantém em atividade depois de fazer um curso regular são aqueles que trabalham com o idioma no dia-a-dia ou possuem atividades extras que envolvem uma boa quantidade de inglês. Foi pensando nestas tais atividades extras que esse texto/post nasceu. O mundo hoje está tão globalizado que é praticamente impossível o inglês ficar completamente ausente da rotina diária de um profissional ou de um estudante. É inglês em livros, revistas, música, cinema. E o inglês no cinema representa, para mim, uma das fontes de contínuo aprendizado mais prazerosas de se ter. Assistindo a um filme COM legendas é possível aprender muita coisa, e em 90% dos casos em que a pessoa tem um conhecimento no mínimo mediano nem é necessário um dicionário para captar a mensagem.
Outro exemplo não muito distante de uma palavra que aprendi/fixei quando assisti a um filme foi no caso do ótimo Meu Primo Vinny (Jonathan Lynn, 1992). A palavra é "contempt". Fred Gwynne (no papel do juiz responsável pelo julgamento do primo de Vinny acusado de assassinato) é bastante enfático quando a pronuncia, e não é preciso dicionário nenhum para que saibamos o que ela significa. Pode parecer uma contribuição boba, mas acredito que se for possível tirar no mínimo uma palavra ou expressão nova de um filme ao qual assistimos já está de bom tamanho.
Vejam outros exemplos de palavras que aprendi em filmes ao longo dos anos e nunca esqueci:
- Exist (verbo) - Eu era bem moleque, e para mim o verbo haver no sentido de existir só podia ser expresso de duas formas: there is e there are. Até o dia em que alugamos A Hora do Espanto II (Tommy Lee Wallace, 1988). Faz tempo que não vejo o filme (até porque ele continua inédito no mercado de DVD nacional), mas lembro-me muito bem da cena de abertura, que mostra o herói do filme anterior (William Ragsdale) diante do psicólogo afirmando veementemente que "vampires don't exist". Pode não parecer agora, mas na época foi uma descoberta desconcertante o fato de que eu posso dizer que algo exists... Ou não!
- Dodge (verbo) - Quem nesse milênio não assistiu ao neo-clássico Matrix (Wachowskis, 1999) levante a mão. Ótimo, todos viram então. Lembram-se da cena em que Neo e Trinity estão às turras com os agentes da Matrix no topo de um prédio e um deles se esquiva de todas as balas disparadas pelos heróis? Chega uma hora em que Trinity fica de saco cheio e, antes de atirar à queima-roupa no agente, vocifera com gosto: "Dodge this!" E pow, lá se foi um agente malvado da gangue do Smith!
- Stifle (verbo) - Christopher Lee é o terror das mocinhas em O Vampiro da Noite (Terence Fisher, 1957), clássico da era de ouro da Hammer. Há uma cena em que, bem mandada, a empregada coloca no quarto da vítima inocente o que parece ser um caminhão de alho e brotos de alho. Atormentada com o excesso de alho ao seu redor, a mocinha diz algo assim: "Take them away, they stifle me!" Até quem não assistiu ao filme pode dizer o que Drácula aprontou com ela depois, né?
- Kneel before (expressão) - Terence Stamp é o general Zod em Superman II (Richard Lester, 1980), um dos melhores filmes de super-herói de todos os tempos. E ele é o calo no caminho heróico do Superman. Quem não se recorda da megalomania do general ao dar a ordem ao filho de Krypton? "Kneel before Zod!"
- Clap (substantivo | gíria) - As passagens em que a palavra clap é mencionada no pastiche Girl Boss Guerilla (Norifumi Suzuki, 1992) são engraçadas, para dizer o mínimo. A cambada de desocupados descobre que está com alguma doença de origem venérea! Essa eu olhei no dicionário sim (ou será que foi no Google?), mas não a esquecerei tão cedo...
- Grab (verbo) - Outra de uma cena de abertura. Riggs e Murtaugh tentam desarmar uma bomba logo no início de Máquina Mortífera 3 (Richard Donner, 1992), mas a ação desastrada dos dois dá em merda. Como deixar um gatinho para morrer carbonizado é antiético em filmes para o grande público, Riggs dispara para Murtaugh antes de começar a correr: "Grab the cat!".
- Awe (substantivo) - Awful e awesome são adjetivos plenos e muito usados. Já a palavra "awe" não é vista com a mesma frequência. Pelo menos podemos deduzir algum sentido a partir de suas derivações. A sua melhor e mais clara utilização num filme ocorre na interação entre o maluco Ralph Fiennes e sua vítima Philip Seymour Hoffman no subestimado Dragão Vermelho (Brett Ratner, 2002). Depois de um discurso assustador, Fiennes se inclina sobre Hoffman e declama em tom quase apocalíptico: "You owe me awe!
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Chopper (substantivo) - Um dos muitos significados da palavra "chopper" está explicitado num dos diálogos mais geniais escritos para um filme, protagonizados por Bruce Willis (Butch) e pela gostosura Maria de Medeiros (Fabienne) no neoclássico Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994). Reproduzo-o abaixo e, assim, encerro por hoje:
FABIENNE
Butch, whose motorcycle is this?
BUTCH
It's a chopper.
FABIENNE
Whose chopper is this?
BUTCH
Zed's.
FABIENNE
Who's Zed?
BUTCH
Zed's dead, baby, Zed's dead.
Texto postado por Edward em 19 de Julho de 2010