Quel Gran Pezzo dell'Ubalda Tutta Nuda e Tutta Calda (Paolo Lombardo, 1972)
Com: Pippo Franco, Umberto D'Orsi, Edwige Fenech, Karin Schubert, Pino Ferrara
A.K.A. Ubalda - All Naked and Warm — Olhando de fora, Ubalda tem cara e jeito de mais um sexploitation barato dos anos 70. A verdade, no entanto, está bem distante disso. A ênfase não é a lascívia, mas sim o pastelão. Todas as vertentes do pastelão para falar a verdade, da verborrágica à física, passando por gags visuais ora inocentes e ora bem sacadas. Edwige Fenech, obviamente o maior atrativo da película, é a esposa de um farinheiro em plena Idade Média, mas ela não é a protagonista. A história gira ao redor de Olimpio (Pippo Franco), um cavaleiro que retorna para casa depois da guerra, ansioso para saciar a secura nos braços da bela esposa (Karin Schubert). Infelizmente, ela dá o tombo no rapaz, negando-lhe a abertura do cinto de castidade por algumas semanas enquanto fornica com quatro ou cinco quando ele não está olhando. Mas Olimpio precisa também resolver uma disputa de terras com o vizinho ranzinza (Umberto D'Orsi), tarefa que se torna bem menos indesejável quanto ele deita os olhos na esposa do inimigo, feita por Edwige Fenech. E dá-lhe tramoia após tramoia de Olimpio tentando catar a mulher do outro, que também é uma safada de primeira. Tirando o fato de nunca ser explicado direito porque o marido ciumento não consegue possuir Fenech, a evolução das confusões é agradável e nunca monótona, com um punhado de boas risadas e situações bem engraçadas apesar de um leve exagero no lado físico da comédia. O elenco é ótimo e as atrizes ficam bem à vontade ao longo de todo o filme. Porém, como a nudez nunca é total, a história jamais descamba para a putaria generalizada.
Shrek Terceiro (Chris Miller e Raman Hui, 2007)
Vozes: Mike Myers, Eddie Murphy, Cameron Diaz, Antonio Banderas, Rupert Everett
Tal qual o chucro australiano Mick Dundee fez em sua trajetória cinematográfica, Shrek (Mike Myers) saiu de seu ambiente para acompanhar a amada. A intenção do ogro verde ao final de Shrek Terceiro é também voltar para casa, mas para isso ele precisa encontrar o herdeiro do trono do pai de Fiona (Cameron Diaz), aquele que irá governar o reino em seu lugar. Acompanhado do Burro (Eddie Murphy) e do Gato-de-botas (Antonio Banderas), Shrek tem que levar o jovem Arthur Pendragon (Justin Timberlake) à côrte, tendo ainda que se virar com a inesperada gravidez de Fiona e o retorno do traiçoeiro príncipe encantado do filme anterior (Rupert Everett), que desta vez está amparado por uma trupe de vilões clássicos dos contos-de-fadas. Mais uma vez, é somente graças ao carisma previamente conquistado pelos personagens que este terceiro capítulo fica agradável, pois ele é visivelmente inferior à ótima e anárquica segunda parte. O único novo elemento da trama é Arthur, e ele é insuficiente para garantir o fator necessário a uma nova trama - daí o retorno óbvio do maquiavélico príncipe, reduzido a um ator de teatro de segunda categoria no início do filme. Num grupo de personagens onde os maiores atrativos são os coadjuvantes, eu ainda achei que o Gato-de-botas deveria ter sido mais bem aproveitado.
Terror na Antártida (Dominic Sena, 2009)
Com: Kate Beckinsale, Gabriel Macht, Tom Skerritt, Columbus Short, Alex O'Loughlin
O meu maior medo com relação a Terror na Antártida era que o filme seguisse os passos do superestimado O Enigma do Outro Mundo, porque o trailer claramente apontava para essa possibilidade. Espero que o leitor não qualifique isso como spoiler, mas devo dizer que felizmente isso não acontece. Baseado numa HQ escrita por Greg Rucka, o filme é um thriller whodunnit clássico que se passa todo em pleno Pólo Sul. Kate Beckinsale é a agente federal responsável pela segurança de uma estação de pesquisas. Poucos dias antes dela partir para um novo posto um corpo é encontrado no gelo, e as circunstâncias da sua morte desencadeiam um mistério envolvendo uma carga preciosa soterrada sob a neve. A piora das condições climáticas, a presença de um assassino misterioso no complexo e a chegada súbita de um agente do FBI (Gabriel Macht) se combinam para criar uma situação desesperadora. Com uma estrutura narrativa enxuta (que remete vagamente aos melhores episódios da série Arquivo X), Terror na Antártida entretém sem aborrecer. A produção transmite com ótimos resultados a sensação de se expôr a temperaturas inferiores a –50°C enquanto a merda vai para o ventilador. Injustamente subestimado, o filme foi ignorado pelo circuito de cinema nacional e merece ser apreciado como o bom suspense que é.
Brinquedo Assassino (Tom Holland, 1988)
Com: Catherine Hicks, Chris Sarandon, Alex Vincent, Brad Dourif, Dinah Manoff
Não consigo deixar de pensar que Brinquedo Assassino é a cara do cinema de terror norte-americano dos anos 80. Temos aqui uma história fora dos eixos que implora pela imediata suspensão de descrença, um vilão bem caracterizado (pequeno amálgama de vários vilões oitentistas), uma vítima clássica, heróis também clássicos em sua ignorância diante do desconhecido e a típica cinematografia tão marcante desta época. Antes de ser morto dentro de uma loja de brinquedos, bandido revoltado (Brad Dourif) conjura um feitiço macabro que transfere sua mente para o corpo de um famoso boneco, o qual acaba indo parar no lar do garoto Andy (Alex Vincent). O moleque se torna o principal suspeito quando uma amiga da mãe morre em circunstâncias misteriosas e insiste que o responsável por tudo é o boneco, cujo nome é Chucky. Não demora para que Chucky se mostre uma presença bem mais ameaçadora para todos à sua volta, em especial para os desafetos de quando era humano e para o policial que o "matou", interpretado por Chris Sarandon. Como a mãe, Catherine Hicks está um pouco histérica, mas quem não ficaria se soubesse que uma miniatura do Fofão está à solta querendo matar seu filho? A verdade é que por mais que o filme se esforce e faça tudo certinho do ponto de vista do roteiro, simplesmente não dá para levar Brinquedo Assassino a sério. Ainda assim, é possível entender porque tantas crianças faziam xixi na cama de medo por causa de Chucky. Nem adianta fazer graça comigo, essa é a primeira vez que assisto ao filme!
O Corvo (Roger Corman, 1963)
Com: Vincent Price, Peter Lorre, Boris Karloff, Hazel Court, Jack Nicholson
O Corvo é um dos poemas mais famosos do escritor Edgar Allan Poe. Como "versão" cinematográfica, o longa-metragem dirigido por Roger Corman adapta livremente a ideia geral dos versos de Poe numa comédia de horror como nenhuma outra, a começar pela trinca de astros do gênero compondo o elenco: Boris Karloff, Vincent Price e Peter Lorre. Numa época que parece ser a Idade Média, Price ainda sofre com a recente perda da esposa (Hazel Court), sozinho em seu casarão. Até o dia em que um corvo falante o surpreende e exige que ele utilize seus dons de magia para revertê-lo à forma humana. E eu não vou escrever mais nada da história. Basta saber que lá pelas tantas há um confronto de magos épico entre Vincent Price e Boris Karloff. Só isso já vale o filme, ora bolas! O melhor é que, além de trazer três monstros sagrados em sua melhor forma, O Corvo é muito engraçado, imprevisível e extremamente divertido. Os valores de produção podem ser irrisórios, mas são aproveitados como só um cineasta como Roger Corman é capaz de fazer. A curiosidade maior fica por conta de um jovem Jack Nicholson no papel de filho do gordinho Peter Lorre. Imperdível para qualquer fã de terror ou comédia.
I Corpi Presentano Tracce di Violenza Carnale (Sergio Martino, 1973)
Com: Suzy Kendall, Tina Aumont, Luc Merenda, John Richardson, Conchita Airoldi
A.K.A. Torso — Eu nem sabia que esse giallo tinha uma fama tão boa antes de assisti-lo. Na superfície ele é igual a muitos outros: maníaco encapuzado começa a matar indiscriminadamente os jovens de um campus na Peruggia, espalhando pânico geral. Para fugir do perigo e descansar, quatro amigas resolvem se retirar numa casa de campo do tio de uma delas, mas é claro que o assassino vai dar um jeito de chegar até lá. Torso começa bem normalzinho, com a contagem de corpos subindo sem que haja muitas surpesas, até o momento em que o roteiro quebra a expectativa da plateia e capricha num suspense de nível arrebatador... para depois se render ao clichê no desfecho. É exatamente o trecho intermediário que garante a popularidade do filme junto aos entusiastas de giallos. Eu gostei particularmente do fato do roteiro permitir que o público elimine aos poucos as suspeitas de quem é o bandido sem usar nenhuma trapaça narrativa. Há também um forte componente de choque adicionado com uma apreciável sutileza cênica, que se contrapõe à nudez em profusão de parte do elenco feminino. Quem será o assassino? O namorado ciumento de uma das moças, o professor de arte, o tio prestativo ou alguém completamente inesperado? A resposta faz com que a aparentemente desconexa cena introdutória faça bastante sentido. E isso para mim é indicativo de um bom giallo, capaz até de abonar o ritmo derrapante da primeira parte da história.
Divagações postadas por Edward de 12 a 18 de Julho de 2010