Fúria de Titãs (Louis Leterrier, 2010)
Com: Sam Worthington, Gemma Arterton, Mads Mikkelsen, Liam Neeson, Ralph Fiennes
Crianças que cresceram na década de 80 conhecem bem a primeira versão de Fúria de Titãs, um pequeno clássico marcado por ser o último trabalho do veterano Ray Harryhausen no cinema. Infelizmente, a verdade é que com exceção dos efeitos especiais de Harryhausen, o filme original é fraquinho que dói. A refilmagem dirigida por Louis Leterrier tenta balancear as coisas ao apresentar uma história menos incoerente e um elenco mais apto para acompanhar a avalanche de efeitos especiais digitais, e quase consegue ser completamente bem sucedida. Numa época em que os deuses do Olimpo participavam ativamente do destino da humanidade, o jovem Perseu (Sam Worthington) é tragado para uma guerra entre deuses e homens quando sua família é assassinada. Ele descobre ser filho de Zeus (Liam Neeson), e é alçado à liderança de um pequeno exército cuja missão é obter os meios para derrotar o sanguinário Hades (Ralph Fiennes). Entre outras malvadezas, Hades joga uma praga sobre a princesa Andrômeda (Alexa Davalos), enquanto planeja surrupiar o trono do irmão Zeus.
Esse Fúria de Titãs até passa como aventura de mitologia, mesmo com alterações malucas como a transformação de Io (Gemma Arterton) no interesse amoroso de Perseu. Infelizmente, o filme soa derivativo em muitos trechos, como na batalha contra os escorpiões (feita anteriormente em Transformers) ou na aparição do Kraken (muito parecido com a criatura de Cloverfield - Monstro). Sam Worthington não está muito bem, o que é provavelmente culpa do roteiro, e assim abre espaço para que coadjuvantes como Draco (Madds Mikkelsen) roubem a cena. Uma observação sobre a versão em 3D: como o filme não foi originalmente concebido como um trabalho em 3D, o efeito foi obtido na pós-produção e, sinceramente, decepciona. Nas cenas em que os atores aparecem em close, por exemplo, suas faces parecem projeções planas com bordas visivelmente aparentes. O foco e a composição de algumas cenas também foi afetado negativamente. Detalhes menores que, infelizmente, desabonam a conversão para 3D. Não recomendo.
L'Amante del Demonio (Paolo Lombardo, 1972)
Com: Rosalba Neri, Robert Woods, Ferdinando Poggi, Maria Teresa Pingitore, Edmund Purdom
A.K.A. Lucifera - Demon Lover — É preciso tomar cuidado com filmes de horror que se passam em castelos e foram produzidos na Itália durante a década de 70. Parece que, ao contrário dos franceses, que até conseguiam se sair bem com este mesmo tema, os italianos tinham o dom de produzir asneiras após asneiras, todas do mesmo porte dessa porcaria. Na história, um trio de amigas resolve parar para conhecer um castelo cuja fama indica que ele pertencera ao demônio. À noite, a mais bonita delas (Rosalba Neri) dorme e sonha com a época em que ela, séculos atrás, teria sido a tal amante do capeta. Parece inacreditável como o filme se arrasta sem chegar a lugar nenhum, mas isso é tudo culpa de um roteiro que perde tempo demais mostrando banalidades sobre o casamento malfadado da tal Lucifera (que em nenhum momento atende por esse nome) sem fazer mais nada direito, seja nas poucas passagens com nudez ou nos resvalos espasmódicos em direção a uma estética vampiresca. Belíssima, Rosalba Neri é com certeza a única coisa de valor nessa palhaçada que dura 77 minutos mas parece levar duas horas para acabar.
Vidas Passadas (Patchanon Thammajira, 2006)
Com: Pimpan Chalayanacupt, Witthaya Wasukraipaisarn, Kunteera Suttabongoch, Sonthanee Yuwanangkool, Pontip Prasertyingsook
Após uma gravidez não planejada, rapaz e moça decidem se casar e ir morar junto com a mãe dele. A gravidez transcorre sem problemas, mas após o nascimento o bebê passa a apresentar um comportamento estranho, chorando sem parar. Enquanto os pais tentam encontrar uma solução para o tormento da criança, acontecimentos cada vez mais bizarros ocorrem com todos à sua volta. Depois do sucesso estrondoso de Espíritos - A Morte Está ao Seu Lado (2004), é natural que se tenha boas expectativas dos filmes de terror tailandeses. Infelizmente, Vidas Passadas não chega nem perto de ser tão bom, padecendo de um roteiro previsível e de uma falta de coesão geral da ideia apresentada. Afinal, o que têm a ver as cólicas da criança (vide o título original do filme) com a natureza do fenômeno do qual ela é vítima? O elenco pelo menos é esforçado, o que não se pode dizer do trabalho de fotografia - excessivamente escura e carente de um senso de estilo mais condizente com o tema da obra. A trilha sonora, em especial a música dos créditos finais, é outro ponto positivo de um trabalho indicado somente para os mais fanáticos pelo gênero.
Dossier Érotique d'un Notaire (Jean-Marie Pallardy, 1972)
Com: Claude Sendron, Evelyne Scott, Angela Hansen, Jean-Marie Pallardy, Jacques Insermini
A.K.A. My Body Burns — Dizem que este filme é baseado numa história real, mas o que mais impressiona é o modo como a história evolui de uma pornochanchada leve para um drama de suspense com um desfecho que foge do convencional. Um velho cartorário lascivo e sem-vergonha (Claude Sendron) precisa se casar para abafar o falatório que começa a incomodar seus negócios, escolhendo como futura esposa uma mulher de reputação não tão boa assim (Evelyne Scott). O problema é que a amante lésbica da moça (Angela Hansen) ameaça aprontar o diabo se as duas se separarem, o que os leva a tomar uma decisão extrema para lidar com a situação. Mais polêmico que estritamente interessante (para a época em que foi feito), o filme é simplesmente de um desleixo descomunal, executado com um relaxo digno de produções caseiras. A edição é um desastre, com cortes sem qualquer noção de continuidade e cenas e diálogos que se repetem vergonhosamente. Para piorar, o elenco feminino nem está tão em forma assim, o que definitivamente restringe o apelo do longa aos aficcionados por esquisitices.
Purani Haveli (Shyam Ramsay e Tulsi Ramsay, 1989)
Com: Deepak Parashar, Amita Nangia, Tej Sapru, Satish Shah, Neelam Mehra
A.K.A. Mansion of Evil — Copiar uma fórmula à exaustão e aplicá-la a uma história sem sentido algum é um desrespeito com o público-alvo de qualquer gênero de filme, e Purani Haveli é um dos exemplos mais característicos disso. Por um lado, ele trilha a mesma estrutura narrativa de Purana Mandir, a obra que incendiou o cinema de horror indiano nos anos 80. Por outro, a escassez de lógica e ideias novas é tamanha que o filme é quase inassistível. Uns parentes gananciosos que administram a fortuna de uma moça (Amita Nangia) compram uma mansão decrépita, e para lá se mudam com uma cambada de acompanhantes para fazer sei-lá-o-quê, isso depois que o tio dela desaparece durante uma visita de reconhecimento. Sem qualquer vínculo com ninguém, vira e mexe uma criatura cabeluda sai de um calabouço e mata o primeiro que vê pela frente. E assim o filme segue, por mais de duas horas, formulaico ao extremo, enquanto subtramas cômicas e românticas torturam o espectador com praticamente a mesma coisa de todos os outros filmes de horror bollywoodianos anteriores a este. O interessante é notar que Purani Haveli começa a todo vapor, com muita matança e pouco lenga-lenga, mas tão logo a primeira cena musical aparece a embromação passa a tomar conta de tudo. Com exceção da bela protagonista e do comediante gordo (Satish Shah), o elenco é completamente inexpressivo.
Sombras do Terror (Roger Corman, 1963)
Com: Boris Karloff, Jack Nicholson, Sandra Knight, Dick Miller, Dorothy Neumann
Dando sequência à colaboração feita poucos meses antes em O Corvo, Roger Corman aproveitou os mesmos cenários e parte do elenco principal nesta história de fantasmas com atmosfera até razoável. Jack Nicholson é um soldado francês que se perde do seu regimento na virada do século XX, indo parar num castelo antigo ao se ver enfeitiçado pela figura de uma moça enigmática (Sandra Knight). Desafiando os avisos em contrário, ele confronta o barão Von Leppe (Boris Karloff) em busca da verdade sobre a garota. Sombras do Terror é mais um daqueles trabalhos que seriam bem mais adequados se tivesse sido filmado em preto-e-branco. Mesmo assim o filme mantém uma aura etérea que no geral agrada, em especial devido à magnética presença de Karloff, realmente um monstro sagrado do gênero. É curioso ver Jack Nicholson num de seus primeiros papéis como protagonista, enquanto o eterno coadjuvante Dick Miller não fica atrás na pele do mordomo que ajuda o barão a manter seus segredos macabros. Somente Sandra Knight não está bem. Com uma trilha sonora superlativa de Ronald Stein, o filme tem o mérito de apresentar uma inesperada reviravolta em seu trecho final, coisa rara de se ver nos pastiches formulaicos da mesma estirpe. Isso quase consegue desviar a atenção da plateia das resoluções rasteiras e da lógica mequetrefe relacionada à garota misteriosa.
Atenção: a imagem do DVD da Fantasy Music é uma porcaria. Não recomendo comprar esta edição.
Divagações postadas por Edward de 11 a 17 de Junho de 2010