O Máskara (Chuck Russell, 1994)
Com: Jim Carrey, Cameron Diaz, Peter Greene, Richard Jeni, Peter Riegert
Há uma semana atrás, durante um vôo da Emirates, resolvi dar uma chance à programação do avião e assistir O Máskara só por causa daquela cena em que Jim Carrey está ajeitando o vaso para largar um barro e é surpreendido por Milo pulando do lado de fora da cadeia. Sim, eu sei, é um detalhe nerd, mas geralmente são detalhes nerds como este que motivam muita gente a rever filmes de vez em quando. Mas alguma coisa estava errada, pois a cena não apareceu. E nem aquela que mostra a ida de Carrey ao escritor, ou a palhaçada que o Máskara faz com os delinquentes no beco. Que diabos poderia ter causado os cortes? Tempo de duração não é, e censura... Sei lá, o avião saiu de Dubai e os Emirados Árabes são um país muçulmano. Camisinha à mostra em cena, um vaso sanitário com papel higiênico na borda?
Como eu não me contentei com uma sessão mutilada, resolvi relaxar assistindo ao filme de novo enquanto me recuperava da diferença de fuso no conforto de casa. Hoje parece irrelevante, mas O Máskara foi, em conjunto com Débi & Lóide, o filme que projetou Jim Carrey ao estrelato. É uma comédia anárquica baseada livremente numa HQ homônima, pesadamente influenciada pelos desenhos da turma do Pernalonga e sem qualquer vontade de ser séria. Carrey é Stanley Ipkiss, um cara legal que só dá bola fora até o dia em que uma máscara mitológica cai em suas mãos. Ao colocá-la ele se transforma numa versão maluca de si mesmo, com os super-poderes mais inacreditáveis já vistos. As traquinagens do Máskara coincidem com a paixão de Stanley por uma cantora de boate (Cameron Diaz, estreando no cinema) e os planos maquiavélicos de um bandido do submundo (Peter Greene).
Já vi gente dizendo que não vê graça alguma no filme. É verdade, O Máskara não é uma fonte de gargalhadas em profusão. O que o diferencia do resto das comédias fantásticas são as cenas totalmente fora do comum, o senso anárquico que as acompanha e as inúmeras gags e referências cinematográficas. Além de Carrey, que nasceu para fazer o personagem-título, quem mais brilham no filme são o cachorro Milo e a então novata Cameron Diaz, deslumbrante como nunca mais a vi em filme algum depois deste. Inexplicavelmente, de lá pra cá a moça secou e ficou com cara de ameixa, mas aqui ela integra com honras o panteão das atrizes mais gatas a serem imortalizadas em celulóide. Só ela já seria motivo suficiente para justificar a sessão, mas O Máskara é um bom filme!
Arraste-me para o Inferno (Sam Raimi, 2009)
Com: Alison Lohman, Justin Long, Lorna Raver, Dileep Rao, Adriana Barraza
Ver Sam Raimi retornando à velha forma que demonstrara nos clássicos A Morte do Demônio e Uma Noite Alucinante era algo impensável há alguns anos atrás, quando o cara foi catapultado a diretor de blockbusters com a série do escalador de paredes. Pois então, Arraste-me para o Inferno chega para quebrar o jejum de terror à la Raimi e para brindar todos os fãs do gênero com uma diversão de primeira. Quem conhece a história pregressa do diretor vai se sentir em casa, e quem não faz ideia de quem ele é ou jamais ouviu falar sobre os filmes que mencionei acima vai se deparar com algo pouco visto nos filmes de terror dos últimos anos: uma combinação matadora de sustos, escatologia e humor.
A história de fantasmas é clássica, e envolve uma maldição jogada por uma cigana (Lorna Raver) sobre uma bancária ingênua (Alison Lohman) que toma uma atitude nada agradável para com a pobre velha. Em três dias a moça deverá ser levada para o inferno por um demônio, tempo mais que suficiente para que ela sofra o diabo e tente correr atrás do prejuízo com a ajuda do namorado (Justin Long) e de um grupo de videntes mercenários. Por vezes Lohman é transformada numa versão feminina de Ash, papel antológico de Bruce Campbell, enquanto o roteiro co-escrito por Raimi e seu irmão abre espaço para uma dose generosa de humor negro. Houve apenas um momento em que o CGI me pareceu exagerado e inadequado (quando os olhos da velha espirram e... bem, quem assistiu à Morte do Demônio sabe o que acontece), mas em geral os efeitos são bons e usados somente em prol da história. No mais, não há motivos para repreender o filme, que consegue ser tétrico e ao mesmo tempo bem divertido. Os fãs agradecem, e eu espero que Raimi não fique mais tanto tempo distante do gênero que o consagrou.
Divagações postadas por Edward em 1 de Setembro de 2009