Quando estávamos planejando o retorno do Paquistão passamos por um pequeno dilema: ficar um dia em Dubai ou Paris? Nunca tive muito interesse em conhecer Dubai, a maior cidade dos Emirados Árabes Unidos. Eu não fazia a mínima ideia de porque tanta gente tem essa fascinação pela cidade, que supostamente se tornou nos últimos anos um dos destinos favoritos dos turistas de todo o mundo. Meu voto, no entanto, foi para Dubai. Sabe-se lá quando eu teria uma nova chance de conhecer o lugar?
Pois bem, depois de deixar Karachi, fizemos uma parada de um dia em Dubai.
A experiência foi quase um desastre. Sério.
Assim que descemos no aeroporto fomos em busca do visto de trânsito, que deve ser comprado antes de se passar pela imigração. Dentre os três ou quatro guichês em que fomos atendidos, a figura mais lembrada será a dona que faz a leitura de retina dos estrangeiros, uma senhora grossa que mal falava inglês, jogou nossos passaportes de qualquer jeito no balcão e tratava todo mundo como cachorro. Depois veio um dos maiores impactos: saindo para pegar o táxi, a sensação térmica foi de uns 50°C. Sem brincadeira, eu nunca tinha ficado num ambiente assim, parece que um rio de lava corre debaixo da cidade. Para os iniciados no assunto, parece que você está trabalhando sobre uma turbina a vapor operando em carga base no pico do verão.
Depois de fazermos o check-in no Ibis World Trade Centre, decidimos comprar um ticket para conhecer os principais pontos da cidade naqueles ônibus de turistas, acreditando que seria a melhor maneira de conhecer Dubai ao máximo em apenas um dia. Tudo parecia estar indo muito bem. Logo que chegamos ao ponto de partida avistamos um Carrefour, entramos lá felizes da vida e saímos com água, iogurte, leite e muitas guloseimas para fazermos o café da manhã de turista. Esfomeados como estávamos, começamos a comer ali mesmo diante do mercado, fazendo palhaçada, rindo e tirando fotos um da cara do outro. Como Lino estava perdido dentro do mercado, Fábio entrou lá para procurá-lo enquanto mastigava um baita croissant como se não tivesse comido há dias.
Alguns minutos depois, assim que chegamos ao guichê de turismo, a dona que coletava os tickets olhou para Fábio, que estava a devorar mais um croissant com voracidade. Ela fez uma cara nada boa e disse:
– Vocês não podem comer nem beber em público por causa do perído sagrado do Ramadã. Se a polícia pegar alguém comendo são 2.000 dirãs de multa (~ 670 dólares) e risco de cadeia. Vocês só podem comer nos quartos e, se quiserem, dentro do ônibus, mas sejam discretos.
Eu daria tudo para ter estado com a câmera preparada para registrar a cara do Fábio. Numa cena nada menos que hilária, o cara entrou em desespero, tirou a garrafinha de leite da boca e jogou o croissant no lixo. Para vocês entenderem a gravidade da coisa, eu havia acabado de mastigar um sonho enorme na frente do guarda do shopping enquanto Fábio tirava fotos da minha cara e a gente ria feito hienas. Foi só depois que a dona falou que entendemos porque ele olhava pra nossa cara com um semblante misto de desaprovação e - sei lá - preparação para enquadrar os vagabundos de acordo com a lei local.
Sim, meus caros, passamos muito perto de pagar uma nota de multa e ir para o xilindró por bebermos água e leite na rua às 9 da manhã...
Enquanto o passeio prosseguia, sempre voltávamos ao assunto e ríamos para não chorar, já que praticamente não almoçamos e passamos fome o dia inteiro. Imaginem só, para tomar água era preciso estar dentro do ônibus ou ficar escondido dentro do box de um banheiro de shopping! E como é que se consegue viver numa cidade como essa sem beber água?
Visitamos o museu de Dubai, os mercadinhos de Old Souk e, por último, a exibição marinha em Atlantis, naquele famoso lugar onde fizeram uma extensão dentro do mar que se parece com uma palmeira e pode ser vista do espaço. Lá pelas cinco da tarde a situação estava tão desesperadora que paramos num shopping, compramos pacotes de Burger King e voltamos para o hotel para não desmaiarmos de fome.
Depois de umas duas horas de sono, à noite voltamos para o Dubai Mall para fazer compras e passear. Para mim este foi o ponto alto do dia, porque dentro deste shopping existe uma área de entretenimento da Sega intitulada Sega Republic. Uma belezura para quem é fã da Sega e de jogos eletrônicos em geral, as opções de diversão se espalhavam em dois andares de pura loucura. Me esbaldei no multiplayer de Out Run 2, numa das quatro máquinas de After Burner Climax, num outro arcade de corrida e em brinquedos como o Spingear, uma pequena montanha russa que tenta passar a sensação do que é estar na pele de Sonic, e o Wild Ride, um carro que atravessa cenários malucos em 3D. Infelizmente, porque o Marcelo e o Fábio são umas moças, estavam cansadinhos e queriam voltar para o hotel, não tive chance de experimentar o restante dos brinquedos.
E esta foi a nossa aventura de um dia em Dubai!
Para quem gosta de viajar, vão aqui minhas impressões pessoais mais importantes:
Texto postado por Edward em 28 de Agosto de 2009