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Filmes Vistos em Abril - Parte 1

Jogo entre Ladrões (Mimi Leder, 2009) 3/10

Com: Morgan Freeman, Antonio Banderas, Radha Mitchell, Robert Forster, Rade Serbedzija

Uau! Um filme de assalto com Morgan Freeman, Radha Mitchell e Antonio Banderas, que já fez muita coisa no estilo no passado. Como poderia ser ruim, mesmo considerando o comando da instável diretora Mimi Leder?

Infelizmente, o filme É ruim. Banderas é um ladrão eficiente mas em baixa, e Freeman é o ladrão de arte mais respeitado entre seu círculo e o mais procurado pela polícia de Nova York. Depois de um encontro meio explosivo, Freeman convida Banderas para empreender um assalto de 40 milhões a uma joalheria russa de cofre impenetrável. Entra em cena então a máfia russa, a filha adotiva de Freeman (Radha Mitchell) e um policial obcecado em colocá-lo na cadeia (Robert Forster), e a bagunça está estabelecida. Por bagunça refiro-me, obviamente, aos enormes buracos num roteiro já não muito inspirado – expostos como uma bomba durante a revelação da parte final – e a alguns diálogos de dar vergonha a qualquer roteirista com senso de ridículo. A química entre Radha Mitchell e Antonio Banderas é um desastre. Quem me conhece sabe que eu não sou de comentar figurino, mas a pessoa que aprovou aquele vestido que Mitchell usa em sua primeira cena na boate deveria apanhar de vara de vergalhão, vara de araçá e cabo de vassoura.

Joshuu Sasori - Kemono-beya (Shunya Ito, 1973) 7/10

Com: Meiko Kaji, Yayoi Watanabe, Mikio Narita, Reisen Lee, Koji Nambara

A.K.A. Female Prisoner #701 Scorpion - Beast Stable — Nami "Sasori" Matsushima (Meiko Kaji) finalmente está livre da cadeia, mas a perseguição de um policial num metrô a coloca novamente em fuga. Ajudada por uma prostituta (Yayoi Watanabe), ela tenta começar vida nova mas se vê novamente tragada para o universo de vingança quando o passado bate à sua porta. O tom desta terceira parte da série é radicalmente diferente dos primeiros filmes, aproximando-se bastante do estilo de exploitation europeu que na época se espalhava pelo mundo. Aliado ao olhar artístico de Shunya Ito, o resultado é interessante e proporciona uma perspectiva singular para o drama da protagonista, que permanece determinada a estender sua vingança até o último desafeto e, mesmo calada, estabelece um vínculo tênue de amizade com a prostituta Yuki. Estranhezas como o braço decepado do policial, a trama paralela de incesto entre Yuki e seu irmão retardado e a "possessão" de Sasori pelo espírito da menina morta dão o toque especial pelo qual o filme sempre será lembrado. Infelizmente, Meiko Kaji não chega a usar o espetacular traje preto de vingança que reaparece na capa do DVD. Se quiser vê-la assim novamente, é preciso conferir o quarto filme da série: Joshuu Sasori - 701-gô Urami-bushi.

Via Láctea (Luis Buñuel, 1969) 7/10

Com: Paul Frankeur, Laurent Terzieff, Pierre Clémenti, Michel Piccoli, Bernard Verley

O desprezo de Luis Buñuel pela igreja, em especial a católica, ganha corpo e um longa-metragem satírico em Via Láctea. Engana-se, porém, quem acha que vai encontrar pontadas óbvias. Entremeado ao senso surrealista e desconexo característico do diretor, as críticas religiosas não são muito óbvias, e não fazem muito sentido para quem não possui conhecimento avançado sobre as mazelas do cristianismo. Pelo menos aqui existe uma linha narrativa principal, que acompanha a trajetória de dois amigos vagabundos que saem da França e decidem fazer a peregrinação que os levará a Santiago de Compostela. Eles cruzam com os tipos mais variados ao longo do caminho, às vezes confundindo-se com eles enquanto os cenários oscilam entre a modernidade do século XX e a ambientação da época de Jesus Cristo. Confesso que só consegui pescar as referências mais óbvias, mas percebe-se que mesmo com uma noção básica sobre o tema é possível captar a acidez que permeia o texto e os personagens de Buñuel, que convocou um elenco vasto de atores e atrizes regulares em suas obras. O filme pede por sucessivas revisões e dissertações para que possa ser interpretado por completo.

Otis - O Ninfomaníaco (Tony Krantz, 2008) 8/10

Com: Bostin Christopher, Ashley Johnson, Illeana Douglas, Daniel Stern, Kevin Pollak

Muito provavelmente você também ficará surpreso quando tiver a chance de assistir a Otis - O Ninfomaníaco. O que quer que o leve a isso, no entanto, por favor não leia a sinopse que está na capa do DVD. Ela entrega praticamente todo o filme, e descobri-lo sem saber do que se trata é 100% mais decente e evita as idiotices que certas distribuidoras fazem. Tudo o que posso dizer é que Otis (Bostin Christopher) é um gordo tarado e asqueroso que já sumiu com cinco garotas, e que certo dia decide pegar outra apetitosa adolescente da vizinhança (Ashley Johnson, a mocinha da lanchonete de Nação Fast Food). Sua família entra em desespero, muito em parte graças à interferência de um intragável agente do FBI (Jere Burns). O tom do filme de certa forma acompanha os dois grandes atos que o compõem: a primeira metade soa séria e um pouco opressiva, e a segunda metade é um pérola de humor negro com momentos sensacionais. O roteiro oscila entre fazer de Otis um degenerado completo e uma vítima de um passado escolar sofrido, motivo principal para suas taras de formatura. Tirando certas infantilidades (como a estúpida cena final) há muitas razões para se dar boas risadas, graças às ótimas performances do elenco de veteranos, liderado por Illeana Douglas e Daniel Stern.

Joshuu Sasori - 701-gô Urami-bushi (Yasuharu Hasebe, 1973) 5/10

Com: Meiko Kaji, Yumi Kanei, Masakazu Tamura, Hiroshi Tsukata, Yayoi Watanabe

A.K.A. Female Prisoner #701 Scorpion - Grudge Song — Pelo desfecho visto no terceiro filme, a verdade é que não precisavávamos de mais um. O estúdio, no entanto, recusou-se a esgotar a fonte e chamou outro diretor para comandar este quarto longa-metragem baseado no mangá de Toru Shinohara. Yasuharu Hasebe já era conhecido de Meiko Kaji de produções anteriores, e aceitou lidar com o orçamento reduzido. A história começa mais ou menos como na aventura anterior, com Nami "Sasori" sendo encontrada pela polícia e novamente empreendendo fuga. Desta vez ela é ajudada por um ex-estudante (Masakazu Tamura) que também tem uma rusga com o policial que a persegue (Yumi Kanei). Como era de se esperar, a merda logo vai para o ventilador e dá-lhe mais tortura e vingança, com um pouco de misoginia e violência policial de grau mais elevado que antes. Quem segura as pontas mesmo é Meiko Kaji, que dribla a ameaça de cansaço da história com a presença de sempre. A esta altura, a canção-tema do filme já foi gravada sem dó na mente do espectador, que vê Sasori desaparecer através do mesmo corredor prisional que abre o longa. Houve outras produções, realizadas em 1976 e 1977, que reaproveitaram o nome da série e retomaram a saga de Sasori/Scorpion do zero. Nenhuma delas traz Meiko Kaji no papel-título – em seu lugar aparecem Yumi Takigawa (School of the Holy Beast) e Yoko Natsuki.

Velozes e Furiosos 4 (Justin Lin, 2009) 6/10

Com: Vin Diesel, Paul Walker, Jordana Brewster, Michelle Rodriguez, John Ortiz

Chegando ao quarto filme (que é na verdade o terceiro, cronologicamente falando), a série Velozes e Furiosos atinge um ponto de ruptura caracterizado por uma maior ênfase na ação (óbvia herança do cinema recente do gênero) e por um retorno às raízes marcado pela presença de todo o elenco original principal. Brian O'Connor (Paul Walker) continua sua carreira como agente do FBI, enquanto Dominic Toretto (Vin Diesel) e a namorada (Michelle Rodriguez) voltam a praticar assaltos sobre rodas na República Dominicana. Quando uma de suas operações atrai o facho da polícia, Toretto decide cair na estrada sozinho, mas uma tragédia fará com que seu caminho e o de Brian se cruzem novamente. Quem espera um domínio do neon e do nitro em cena vai se decepcionar um pouco. A única sequência de racha, para falar a verdade, parece ter sido inspirada quadro por quadro numa das pistas do jogo Need for Speed Underground, incluindo aí tráfego em nível máximo. Logo, dentro de um roteiro que tem muitos buracos, tudo o que resta para segurar as pontas é o carisma do elenco. Jordana Brewster está um arraso, e é uma pena que ela não tenha mais visibilidade dentro do meio cinematográfico.

Monstros Vs. Alienígenas (Rob Letterman e Conrad Vernon, 2009) 7/10

Vozes: Reese Witherspoon, Seth Rogen, Hugh Laurie, Will Arnett, Kiefer Sutherland

Nesta animação da Dreamworks a Área 51 é, além de muitas outras coisas, o refúgio/prisão para uma série de monstros que com o tempo foram capturados pelo governo. O último deles é Susan (Reese Witherspoon), uma mulher que ficou gigante graças aos efeitos desconhecidos da queda de um meteoro. Os demais são um homem-barata super inteligente (Hugh Laurie), uma bolha azul (Seth Rogen), o elo perdido (Will Arnett) e o gigantesco "insectossauro". Quando os Estados Unidos são invadidos por uma nave extra-terrestre hostil, eles são convocados para salvar a pátria. Os personagens principais são óbvias homenagens a monstros clássicos ou semi-clássicos do cinema, e as muitas referências a outras obras vão fazer a alegria dos cinéfilos mais atentos. O vilão Gallaxhar é um achado, a heroína é sexy e os coadjuvantes estão perfeitos como constante alívio cômico. A profundidade não é o ponto forte da história, que cede espaço para um grande esmero na concepção dos personagens e um arrojado desenho de produção que inclui impressionantes paisagens e cenas destinadas a demonstrar o poder da projeção tridimensional, sem abusar do velho truque de arremessar objetos contra a plateia. Se vocês tiverem a chance, não hesitem em assistir ao filme numa sala 3D!

Top Gun - Ases Indomáveis (Tony Scott, 1986) 4/10

Com: Tom Cruise, Kelly McGillis, Anthony Edwards, Val Kilmer, Tom Skerritt

Depois de ouvir Mighty Wings do Chep Trick no meu carro e de saber por minha pessoa que a música fazia parte da trilha sonora deste filme, eis que Coco começa a choramingar: "Eu nunca assisti Top Gun! Vamos assistir!" Então eu informo o rapaz sobre toda a natureza homoerótica do filme e blá-blá-blá, e sei não... Pareceu-me que a empolgação dele aumentou mais ainda!

Brincadeiras à parte, obviamente não fui eu quem rotulou o filme assim. Isso é o que dizem por aí. O fato é que é impossível não dar um pouco de razão aos boatos, já que a academia de pilotos Top Gun, reservada aos ases dos ases, é mostrada pelo diretor Tony Scott como uma espécie de ginásio onde moleques crescidos disputam joguetes para ver quem tem o #$@ maior. Tom Cruise e o amigo Anthony Edwards são os novatos, e Cruise chega metendo a sola disposto a tomar o lugar do bonzão, ocupado por Val "Iceman" Kilmer, e de quebra conquistar a loiraça que se revela mais tarde ser sua instrutora (Kelly McGillis). Falando sério, o filme não tem história, não existe sequer um inimigo concreto a ser combatido. Trata-se de uma baboseira anabolizada com ótima trilha sonora, algumas boas tomadas aéreas, romance de novela mexicana e absolutamente nenhuma substância narrativa.

Passageiros (Rodrigo García, 2008) 5/10

Com: Anne Hathaway, Patrick Wilson, Andre Braugher, David Morse, Dianne Wiest

Cuidado com o gato por lebre. A embalagem, inclusive a divulgação feita no trailer, dá a entender que estamos diante de um longa de horror, quando a verdade está um pouco longe disso. Basicamente, a história é um drama psicológico sobre uma psiquiatra (Anne Hathaway) que inicia um tratamento de acompanhamento com os poucos sobreviventes de um terrível desastre de avião. Com o tempo ela acaba se afeiçoando a um deles (Patrick Wilson), mas eventos estranhos passam a acontecer envolvendo todos os seus pacientes. Escolados nos gêneros relacionados farejarão o desfecho de longe, o que basicamente mata o filme se a plateia não estiver disposta a ver mais do mesmo, pelo menos na maior parte do tempo. O meu fator de permanência, é claro, não poderia ser outro senão Anne Hathaway. E a trilha sonora de Edward Shearmur, que impressiona. Apesar de fraco de um modo geral, Passageiros joga uma mensagem no final que raramente vejo em dramas ou suspenses que lidam com temas similares: o que acontece com os sonhos e os projetos de alguém depois que essa pessoa morre? Tantos passeios para fazer, livros para ler, blogs para escrever, brigas para desfazer, emoções para viver... E de repente tudo cessa de forma abrupta, tudo fica inacabado. É desolador, e pelo menos nisso este filme consegue ser contundente.

Divagações postadas por Kollision de 16 a 20 de Abril de 2009