Cinema

Seijû Gakuen

Seijû Gakuen
Título original: Seijû Gakuen
Ano: 1974
País: Japão
Duração: 91 min.
Gênero: Terror
Diretor: Norifumi Suzuki (Sukeban Gerira, Dabide No Hoshi: Bishoujo-gari)
Trilha Sonora: Masao Yagi (Kyofu Kikei Ningen)
Elenco: Yumi Takigawa, Emiko Yamauchi, Fumio Watanabe, Yayoi Watanabe, Ryouko Ima, Harumi Tajima, Yuuko Oribe, Marie Antoinette, Emi Shiro, Rie Saotome, Sanae Obori, Kyouko Negishi, Yumi Kimura, Yôko Mihara, Akiko Mori, Hayato Tani
Distribuidora do DVD: Cult Epics
Avaliação: 8

Os filmes semi-eróticos produzidos no Japão na década de 70 representaram uma revolução dentro da indústria cinematográfica daquele país, que na época era dominada pelos estúdios Nikkatsu e Toei. O sub-gênero é conhecido entre os entendidos como "Pink-eiga" ou "Pink Films" (filmes cor-de-rosa), devido à quantidade de nudez presente nestes trabalhos, fossem eles associados ao gênero policial, ao drama ou ao horror. O termo pornografia chegou a ser erroneamente usado por alguns estúdios para designar seus filmes, que no entanto jamais ultrapassaram as fronteiras do softcore por causa das barreiras impostas pela censura japonesa há até relativamente pouco tempo. Resumidamente, elas proibiam qualquer cena em que aparecesse nu frontal, genitais ou mesmo pelos pubianos. Fora isso, as histórias só dependiam mesmo da imaginação e do estilo de cada cineasta.

Exportado e conhecido ao redor do mundo como School of the Holy Beast, Seijû Gakuen foi realizado no epicentro do movimento Pink-eiga, inspirado pelos pastiches de baixo orçamento com toques eróticos vindos da Europa. Graças a esta influência, o próprio estilo do filme se distancia um pouco do jeitão característico do cinema japonês. Trata-se de um dos estandartes mundiais do nunsploitation, e com o devido direito. Não só porque ele vem do Japão, que com seus costumes peculiares imprime a qualquer filme lá produzido uma aura de frescor e estranheza sempre apreciada pelo ocidente, mas sim porque a direção de Norifumi Suzuki é inspirada na medida certa, retrata suas belas atrizes com toda a ousadia que então lhe era permitida e compõe uma história de vingança com uma galeria de cenas de tortura, violência, lesbianismo e sexo que satisfaz plenamente o desejo voyeurístico dos mais exigentes aficcionados.

Maya (Yumi Takigawa) é uma jovem de bem com a vida. Após uma noitada de despedida na cidade, ela ingressa num convento com o objetivo oculto de investigar como sua mãe lá faleceu, passando a ser testemunha de toda a sordidez que acontece por trás da fachada de pureza da abadia. Repressão e castigos de natureza medieval fazem parte da rotina de freiras safadas que ansiam pelo pecado da carne e fazem sexo entre si, num ambiente de total devassidão e hipocrisia. Aliando-se a outra freira rebelde (Emiko Yamauchi), Maya persegue a verdade sobre a morte da mãe até chegar à figura do padre que visita o convento de tempos em tempos (Fumio Watanabe). Mas a situação só piora com o advento de uma nova madre superiora (Ryouko Ima), ainda mais sádica que a anterior.

Há várias coisas que chamam a atenção neste nunsploitation de resultado interessante. Uma delas é a beleza das japonesas, em especial da protagonista, que aqui tem seu primeiro papel no cinema. Ela jamais voltaria a fazer algo do tipo, despontando a seguir para uma bem-sucedida carreira na TV. Tolhido pela censura, Norifumi Suzuki lançou mão de artifícios criativos para transmitir mais conteúdo erótico do que podia, como na cena em que uma das freiras simula o sexo oral na companheira com a língua através de seus dedos. A violência associada à nudez das moças, que vai do estilizado ao extremamente ousado, como na cena de tortura com ramos de roseiras, é em vários momentos dotada de uma beleza plástica que chama a atenção graças à boa fotografia. A combinação destes elementos é arrebatadora, resulta em momentos antológicos e culmina num desfecho com imagens tétricas que dão à história um toque final de cunho sobrenatural.

Seijû Gakuen é extremamente recomendado para quem deseja conhecer o melhor que este sub-gênero tem a oferecer. O senso de humor que emerge em determinados momentos do filme soa inesperado e fora da curva, graças à própria cultura japonesa de caras e bocas empregada na representação da reações emocionais. Dilemas que mergulham no contraste entre a avançada sociedade japonesa e o atraso social do mundo das freiras (fora e dentro das paredes do convento), e entre a tragédia atômica de Nagasaki e as frestas obscuras do catolicismo institucionalizado, uma minoria dentro do território japonês, fazem obrigatoriamente parte do pacote irônico, crítico e blasfemo do filme.

O DVD vem com o longa com áudio em japonês e legendas em inglês, e traz na seção de extras entrevistas atuais de quase 20 minutos com a protagonista Yumi Takigawa e com o crítico japonês Risaku Kiridoushi.

Visto em DVD em 28-DEZ-2006, Quinta-feira - Texto postado por Kollision em 2-JAN-2007