Les Démoniaques (Jean Rollin, 1974)
Com: Joëlle Cœur, John Rico, Willy Braque, Lieva Lone, Patricia Hermenier
A.K.A. The Demoniacs — Um Jean Rollin preguiçoso, daqueles que carregam um quê de anacronismo graças à natureza pretensiosamente expressionista da história (como explicitamente descrito nos créditos iniciais) e também à exuberante presença de Joëlle Cœur. Ela é a única mulher de um grupo de quatro piratas que vivem de saquear navios. Quando eles estupram e aparentemente matam duas jovens inocentes, o líder do bando (John Rico) passa a ter alucinações com as moças. Elas, por sua vez, acabam chegando a um templo em ruínas chefiado por um sacerdote misterioso (Miletic Zivomir) que mais parece uma mistura de Zé do Caixão com Paul Naschy. Só por essas poucas linhas de sinopse é possível perceber que a história é idiota, e olhem que eu nem cheguei a mencionar a presença inexplicável de um palhaço (o que parece ser um fetiche do diretor), o vilarejo onde aparentemente só existe um puteiro ou a puta-mor (Louise Dhour) dotada de extraordinários poderes extrassensoriais! Não tenham dúvidas, qualquer tentativa de surrealismo barato sucumbe diante da tosquice generalizada, que pode pelo menos provocar boas risadas. O lado bom de tudo é que há nudez em profusão do elenco feminino, em especial da srta. Cœur. Apesar de se mostrar preguiçoso Rollin não é burro, e sabiamente despe a bela atriz sempre que o filme ameaça ficar chato demais ou não consegue se sustentar sozinho somente com algumas boas locações. A dupla de moças em perigo também não é de se jogar fora, sendo uma ótima substituição para as gêmeas Castel.
Enfim, trata-se de um filme ruim, mas um ótimo candidato a guilty pleasure mesmo assim!
A Pantera Cor-de-rosa 2 (Harald Zwart, 2009)
Com: Steve Martin, Jean Reno, Emily Mortimer, Andy Garcia, Alfred Molina
Vamos ser sinceros sobre esta parte 2. Se você assistiu ao primeiro e gostou, ou mesmo se não gostou mas achou que Steve Martin tinha potencial para melhorar numa eventual seqüência da nova série da Pantera Cor-de-rosa, este filme não vai desapontá-lo. Afinal, todos sabem que vários dos filmes clássicos com Peter Sellers se mostravam bastante irregulares, algo que também acontece aqui, principalmente na introdução que mostra a reunião de um grupo de super-detetives (que inclui Andy Garcia e Alfred Molina) dedicados a capturar o temível "Tornado", o bandido que vem roubando peças inestimáveis de museus ao redor do mundo. O atrapalhado francês Jacques Closeau (Martin) é eleito o líder do dream team, o que obviamente será motivo de muitas trapalhadas, principalmente após o roubo do famoso diamante pantera cor-de-rosa. Um dos aspectos que mais me chamou a atenção foi o elenco de peso, que tem também Jeremy Irons, Lily Tomlin, a indiana Aishwarya Rai e todos os coadjuvantes do filme anterior. John Cleese entra no lugar de Kevin Kline como o capitão Dreyfus e contribui enormemente para a dose de gargalhadas logo em sua cena de abertura, e a relação entre Clouseau e sua adorável secretária (Emily Mortimer) – uma das coisas que melhor funcionou no primeiro filme – é sábia e plenamente desenvolvida nesta continuação. Outros indicativos de que Steve Martin e os produtores acertaram a mão é o nível de pastelão, que soa mais exagerado e genuinamente engraçado, e rende cenas antológicas como a da reconstituição do roubo no vaticano, desde já um dos melhores momentos recentes das comédias norte-americanas.
Viagem Maldita (Alexandre Aja, 2006)
Com: Aaron Stanford, Kathleen Quinlan, Ted Levine, Vinessa Shaw, Dan Byrd
Viagem Maldita deveria fazer a alegria de quem vive reclamando que os filmes violentos não são tão violentos assim ou que falta colhões aos diretores de longas de horror. Na minha opinião, é o mais forte de todos os filmes feitos na onda do torture porn.
Como um pesadelo hiperrealista, o açoite de Alexandre Aja sobre a classe média norte-americana não perde nada da força na tela pequena. O arco de conseqüências que se origina dos testes atômicos conduzidos pelos militares décadas atrás no deserto e descamba para o mais puro horror nos dias atuais não é para qualquer plateia, definitivamente. Wes Craven, que concebeu o filme original, deve ter ficado com um sorriso de orelha a orelha, e com razão. Para falar a verdade, só não vai ficar quem não gosta do gênero ou quem é sensível demais.
Que tipo de cinéfilo é você? Corajoso ou sensível?
Edward Mãos de Tesoura (Tim Burton, 1990)
Com: Johnny Depp, Winona Ryder, Dianne Wiest, Anthony Michael Hall, Vincent Price
Confesso que subestimei este filme de todas as formas possíveis no passado. Não o vi quando foi lançado e, anos mais tarde, também não achei lá grande coisa. Será que Edward é mais um daqueles filmes que cobram um certo estado de espírito do espectador? Hoje tenho certeza que não, eu é que era sem noção mesmo...
Sempre achei Tim Burton um cineasta irregular, mas é preciso admitir que, aqui, ele entrega provavelmente um de seus filmes mais completos. É uma fábula moderna e ao mesmo tempo atemporal sobre um jovem criado artificialmente (Johnny Depp) cujo inventor (Vincent Price) morre antes de poder lhe dar as mãos, que ficam então permanentemente providas de antes temporárias tesouras. Ele é tirado do castelo onde passa seus dias por uma ingênua vendedora da Avon (Dianne Wiest) e começa a conviver com outras pessoas, vindo a desenvolver uma atenção especial em relação à filha de sua anfitriã (Winona Ryder). Não se confundam: apesar dos elementos de comédia, Edward Mãos de Tesoura é um drama eficiente sobre solidão, compreensão e amor verdadeiro. A atuação de Depp no papel-título é exemplar, carregada de nuances sutis e em última instância marcante. Com outra ótima trilha de Danny Elfman, colaborador habitual de Burton, o filme conta com uma abordagem lírica que culmina num dos finais mais emocionalmente sinceros que eu já vi. Meus olhos foram abertos. Se você também deixou esta pérola passar batido, dê a ela mais uma chance e se surpreenda.
Quem Quer Ser um Milionário? (Danny Boyle e Loveleen Tandan, 2008)
Com: Dev Patel, Freida Pinto, Madhur Mittal, Anil Kapoor, Irrfan Khan
Por que um garoto de uma das favelas mais miseráveis do mundo está na pergunta final de um programa de TV sobre conhecimentos gerais, prestes a ganhar uma fortuna? Esta é a pergunta básica deste trabalho, um verdadeiro conto de fadas moderno que teve a honra de levar o Oscar de melhor filme e melhor diretor para o inglês Danny Boyle. Trata-se provavelmente do mais famoso fruto ocidental influenciado por Bollywood, a meca do cinema indiano, e segue uma estética que muitos já compararam ao brasileiro Cidade de Deus, seja ela cenográfica ou narrativa. O adolescente Jamal (Dev Patel) começa o filme prestando depoimento sob tortura para confessar como conseguiu acertar todas as perguntas até ali, e é através de suas confissões que passamos a conhecer sua realidade ao lado do irmão (Madhur Mittal) e da melhor amiga e amor de sua vida (Freida Pinto). A motivação para a sua participação no programa pode ser decifrada a meio caminho, ponto a partir do qual o filme passa a se sustentar com o carisma de seus personagens e com a óbvia antecipação que precede o clímax. Todo o elenco, incluindo as crianças, exala um senso de realismo que só poderia ter vindo de atores indianos locais, e representa um dos pontos mais fortes da história. A trilha sonora, também ganhadora do Oscar, pontua a odisséia de Jamal ora com timbres tristes e ora com os necessários tons heróicos, sempre fiel às suas origens. O filme é ótimo em executar o que pretende, abusa de liberdades poéticas (especialmente na pergunta final) e atesta a versatilidade de Danny Boyle, um cineasta que tem transitado entre gêneros com uma excelência que surpreende.
Sexta-feira 13 - Capítulo Final (Joseph Zito, 1984)
Com: Kimberly Beck, Erich Anderson, Corey Feldman, Barbara Howard, Crispin Glover
Jason não morreu. Quem acha que ele morreu no estábulo ao final da terceira parte são só os policiais e os funcionários do necrotério, as primeiras vítimas deste suposto "capítulo final". Logo ele volta a rondar as proximidades do Crystal Lake, aterrorizando mais um grupo de adolescentes idiotas, uma família que acaba de se instalar no lugar e um rapaz que está à procura da irmã. Repeteco praticamente idêntico do filme anterior e sem qualquer variação digna de nota, esta quarta parte consegue ser uma das mais famosas graças às presenças de um moleque chamado Corey Feldman e também de Crispin Glover (em papel pré-George McFly mas estranhamente muito parecido com George McFly). Até mesmo as mortes decepcionam um pouco no início, já que Jason só ganha espaço no final, um crescendo meio maluco pelo qual o filme vale a pena ser visto. A aparição da miniatura de Billy Corgan é completa e inesperadamente injustificada, mas é tão bizarra que compensa a total falta de criatividade demonstrada até então! O diretor Joseph Zito, que mais tarde se especializaria em filmes de ação com Chuck Norris, bem que tentou matar Jason, mas como todos sabem a história seguiu um rumo bastante diferente.
Divagações postadas por Kollision de 10 a 15 de Março de 2009