As Duas Faces da Lei (Jon Avnet, 2008)
Com: Robert De Niro, Al Pacino, Carla Gugino, John Leguizamo, Donnie Wahlberg
No dia em que um filme com Robert De Niro e Al Pacino não valer nada o cinema norte-americano será tragado pela terra, provavelmente com um terremoto que engolirá toda a Califórnia. Pois são eles que justificam qualquer coisa neste As Duas Faces da Lei (um título manjado já utilizado num outro filme com James Belushi e Tupac Shakur). O longa do veterano diretor Jon Avnet coloca os dois como parceiros veteranos do departamento de polícia de Nova York, e peças-chave na investigação da onda de assassinatos cometidos por um justiceiro que elimina as maçãs podres da sociedade. A pegadinha é que tudo aponta para um integrante da própria polícia como o executor. A idéia poderia ter rendido uma história bombástica, mas a balança pesa demais para um lado e a resolução deixa a desejar, com desenvolvimento deficiente de personagens e concessões inexplicáveis do roteiro. Pelo menos os momentos tensos que aparecem de forma esparsa fazem os protagonistas brilhar em cena. Carla Gugino num papel pra lá de sexy também ajuda a suportar (mais uma vez) o climão de Super Cine.
El Ataque de los Muertos sin Ojos (Amando de Ossorio, 1973)
Com: Tony Kendall, Fernando Sancho, Esperanza Roy, Frank Braña, José Canalejas
A.K.A. Return of the Evil Dead — Não se trata de uma continuação propriamente dita de La Noche del terror Ciego, o filme que deu origem à série Blind Dead, e sim de um reaproveitamento do tema com outro enfoque. Infelizmente, este segundo filme não consegue manter a qualidade do primeiro, enveredando por uma linha narrativa batida e com uma caracterização deficiente dos zumbis sem olhos. Eles (cavaleiros templários canibais e bebedores de sangue) voltam a atacar um vilarejo português quando um retardado da vila resolve fazer um sacrifício humano para despertá-los de seu sono secular. No frigir dos ovos, um grupo de sobreviventes liderado pelo prefeito corrupto e por um forasteiro galã acaba encurralado pelos mortos-vivos numa igreja. Os templários se limitam a matar todos com espadas, e praticamente nenhum personagem inspira empatia. A narrativa soca o pé na jaca muito rápido, e a impressão que fica é que o diretor teve que encher lingüiça durante a maior parte do filme para garantir o tempo de projeção.
Escrito nas Estrelas (Peter Chelsom, 2001)
Com: John Cusack, Kate Beckinsale, Jeremy Piven, Molly Shannon, Bridget Moynahan
Numa determinada época de Natal, John Cusack (produtor de TV) e Kate Beckinsale (psicóloga) se encontram e passam algumas horas agradáveis juntos sem qualquer contato físico, já que os dois estão comprometidos com outras pessoas. Brincando com o destino, ambos colocam seus nomes e telefones num livro usado e numa nota de cinco dólares para que, se um deles os encontrasse no futuro, isso significaria que os dois estariam, de fato, destinados a ficarem juntos. Adivinhe o que acontece alguns anos depois, quando ambos estão prestes a se casarem com outras pessoas?
Sim, é mais uma comédia romântica. E não, nem de perto é outra daquelas que se perdem em meio à pilha de coisas similares que saem de batelada de Hollywood todos os anos. Os motivos eu posso enumerar rapidamente: a escolha acertada de Cusack e Beckinsale; a escolha também acertada dos coadjuvantes; a ótima trilha sonora, que no início lembra mais um filme de Nora Ephron mas depois ganha méritos próprios; e o ritmo ditado pelo diretor Peter Chelsom. Em dias de correria, capitalismo selvagem e egoísmo emocional desenfreado, fica difícil resistir ao charme de uma idéia bem executada que exercita um romantismo cada vez mais em extinção, mesmo com as óbvias impossibilidades da história. E me digam, que homem é capaz de resistir ao adorável sotaque de uma bela inglesa de nascimento como Kate Beckinsale? Hein?
Se você curte coisas como Sintonia de Amor e Simplesmente Amor, fique sabendo que Escrito nas Estrelas também merece um lugar de destaque na sua coleção de comédias românticas.
Faça Isto! (Tinto Brass, 2003)
Com: Sara Cosmi, Raffaella Ponzo, Maruska Albertazzi, Angela Ferlaino, Federica Palmer
Pode ser que seja um sinal da escassez de idéias de Tinto Brass, o "homem sério" do cinema erótico mundial, mas praticamente nenhuma das seis historietas contadas em Faça Isto! consegue ter qualquer mérito maior que o de mostrar algumas belas mulheres como vieram ao mundo. Praticamente tudo é descartável e volta a se resumir ao velho fetiche voyeurista que faz parte da personalidade das platéias cativas de Brass. Ou seja, os homens. Resumo das histórias: 1) casal em férias no Marrocos tenta apimentar a relação com o atendente do hotel local; 2) dois casais fazem troca de esposas sem querer querendo; 3) empregada é prostituída por matrona chegada a um sadomasoquismo; 4) esposa relata ao marido suas estripulias passadas; 5) jovem fotógrafo e namorada que lhe regra sexo aceitam o convite de outro casal para uma festa particular; 6) casal passa férias na Inglaterra e é observado por um voyeur misterioso.
Os pontos altos são Sara Cosmi (a loira do primeiro segmento) e Maruska Albertazzi (a irresistível empregada do terceiro conto). O resto é o Brass de sempre, com narrativa de dar sono e um excesso desnecessário de membros de borracha em cena.
Espelhos do Medo (Alexandre Aja, 2008)
Com: Kiefer Sutherland, Paula Patton, Amy Smart, Jason Flemyng, Mary Beth Peil
Policial que caiu em desgraça (Kiefer Sutherland) tenta reconstruir a vida longe da esposa (Paula Patton) e dos filhos, enquanto mora temporariamente com a irmã (Amy Smart). Assim que arranja um emprego de vigia noturno de um antigo prédio de departamentos onde ocorreu um terrível incêndio, ele começa a ter alucinações onde pessoas mortas e decrépitas se revelam nas imagens de espelhos. Mais uma refilmagem, desta vez de um longa sul-coreano, na filmografia do francês Alexandre Aja (Viagem Maldita), Espelhos do Medo tenta ser mais um terror redondinho, com sustos fáceis e uma boa dose de sangue. O filme não está à altura das coisas mais bacanas do terror norte-americano da década, mas ganha um pouco de credibilidade graças ao esforço de Sutherland. Há uma passagem feita para chocar, que vai enfurecer quem não suporta a eliminação gratuita de personagens da história (uma clara e explícita amostra de como O Grito fez escola), e a presença em cena da apetitosa Paula Patton (Déjà Vu) é um bônus e tanto.
Fascination (Jean Rollin, 1979)
Com: Franca Mai, Brigitte Lahaie, Jean-Marie Lemaire, Fanny Magier, Muriel Montossé
Fascination é um dos filmes mais incensados e raros (o DVD está atualmente fora de catálogo) de Jean Rollin, e é fácil entender o porquê. Primeiramente, ele traz a musa pornô Brigitte Lahaie como uma das protagonistas. Além disso, Rollin retorna a um de seus temas favoritos, o vampirismo surreal. Um larápio com pinta de viado (Jean-Marie Lemaire) é perseguido por um bando de assaltantes e busca refúgio numa mansão que parece ter como únicas habitantes duas misteriosas amigas (Lahaie e Franca Mai). Mesmo correndo perigo e cercado pelos seus algozes, o cara é convencido a permanecer ali durante a noite para participar da reunião secreta das moças e suas amigas. A cena mais famosa do filme é aquela em que Brigitte Lahaie empunha uma foice e brinca de morte encarnada, mas há também outras passagens dignas de nota, como o banquete das mulheres na ponte. A ambigüidade sobre a natureza vampírica das personagens é interessante devido à ambientação da história no começo do século 20, mas o ritmo da narrativa não corresponde aos melhores momentos do cineasta francês. Ainda assim, o longa é imperdível para os fãs de Rollin.
Divagações postadas por Kollision entre 28-OUT e 2-NOV de 2008