Missão Babilônia (Mathieu Kassovitz, 2008)
Com: Vin Diesel, Michelle Yeoh, Mélanie Thierry, Charlotte Rampling, Gérard Depardieu
Mesmo com todos os avisos e sinais dados pelo próprio Mathieu Kassovitz e por Vin Diesel, era difícil ter uma idéia de quão ruim esse filme acabou ficando, depois do que teria sido uma intervenção do estúdio para adequá-lo à censura de 13 anos. Para falar a verdade, fazia tempo que eu não via uma coisa tão hedionda no cinema. Quando Missão Babilônia começa, a narração em off de Diesel já incomoda, mas a má impressão é esquecida por causa dos ótimos créditos de abertura (que culminam numa cena gratuita, uma constante ao longo de todo o filme). Na história, um mercenário que não é flor que se cheire (Diesel) pega a missão suicida de levar uma moça virgem (Mélanie Thierry) e sua tutora (Michelle Yeoh) da Ásia para os Estados Unidos, num mundo pós-apocalíptico e caótico. Obviamente, há algo mais que misterioso relacionado à preciosa "carga" que ele leva. A meia hora final desta obra é uma das coisas mais escabrosas já vistas no cinema de entretenimento recente. O roteiro não faz sentido, os personagens passam todo o filme perdidos e a ação parece ter sido editada por um frango com o pescoço destroncado. A bagunça é tão grande que parece ter se estendido ao corte final distribuído pela produtora, como indicam certas legendas da cópia exibida nos cinemas brasileiros, que não acompanham qualquer diálogo ou narração. Essa tranqueira só ganha 1 ponto por causa de Mélanie Thierry, que é uma graça e merece aparecer em mais filmes.
Monella - A Travessa (Tinto Brass, 1998)
Com: Anna Ammirati, Patrick Mower, Mario Parodi, Susanna Martinková, Serena Grandi
Anna Ammirati é a única coisa que vale a pena nessa comédia erótica típica de Tinto Brass, que aqui faz uma graça e atua como mestre de cerimônias, abrindo e fechando o filme como o regente da orquestra. A moça está noiva do filho do padeiro (Mario Parodi), um careta que só quer fazer sexo depois do casamento. Ela passa seus dias como um vulcão de libido prestes a entrar em erupção, e o mais próximo candidato a satisfazê-la é o padrasto (Patrick Mower), tido como um dos mais libertinos coroas da vizinhança. Um dos (poucos) méritos de Monella é contar com uma protagonista que passa perfeitamente por uma moça normal – ela não é nenhum estouro, mas esbanja sensualidade com um comportamento faceiro, e fica muito bonita quando aparece toda produzida, como nas seqüências de sonho. Brass até arrisca um desfecho de conteúdo ambíguo, mas é Anna, como a única e solitária estrela feminina, quem carrega o filme nas costas e torna essa farsa barata suportável.
Zohan - O Agente Bom de Corte (Dennis Dugan, 2008)
Com: Adam Sandler, John Turturro, Emmanuelle Chriqui, Nick Swardson, Lainie Kazan
Primeiro: Zohan é uma paródia sem amarras do conflito entre israelenses e palestinos e, como tal, não deve ser levado a sério. Segundo: Zohan, o personagem, é invencível, e ninguém, absolutamente ninguém, se mete com Zohan. Isso é levado ao extremo do exagero, e a única coisa que afeta o super-agente israelense que forja a própria morte para ir para os Estados Unidos perseguir seu sonho é exatamente isso: seu sonho. O de ser um cabeleireiro e deixar o cabelo das pessoas "macio como seda" (silky smooth). De um início espetacular, o filme infelizmente passa para um meio apelativo demais (o salão onde Zohan trabalha é transformado em prostíbulo para idosos e todo mundo age como se fosse a coisa mais normal do mundo) e um trecho final que tenta juntar Israel e Palestina em meio ao duelo entre Zohan e seu arqui-inimigo palestino Phantom (John Turturro). No início, Turturro é retratado como um bandido procurado da pior espécie, para depois aparecer como herói de seu povo... Haveria aí algo propositalmente refletindo a natureza da realidade? Independente do ponto de vista, a irregularidade narrativa praticamente destrói o que poderia ter sido, sob outras circunstâncias, o promissor início de uma grande franquia cômica.
Killing Car (Jean Rollin, 1993)
Com: Tiki Tsang, Anissa Berkani-Rohmer, Jean-Pierre Bouyxou, Jean-René Gossart, Frederique Haymann
Com a industrialização corporativa maciça que impregnou o cinema mundial a partir dos anos 90, não é de se estranhar que cineastas marginais e independentes como Jean Rollin diminuíssem seu ritmo produtivo. A verdade é que, somente pelo fato de continuar a fazer filmes, Rollin é ao mesmo tempo um vitorioso e um anacronismo moderno. Quando parecia que seu modo de filmar estava morto e enterrado, eis que ele volta à ativa com este Killing Car, provavelmente uma das produções mais pobres do cineasta francês.
A falta de budget já fica evidente nos créditos de abertura. Mas quem conhece os trabalhos de Rollin sabe que isso nunca foi empecilho para a realização de obras interessantes. A má notícia é que Killing Car é, sim, muito ruim. A decepção é grande na história de uma asiática misteriosa (Tiki Tsang) que rouba um carro e sai matando aparentemente a esmo, deixando sobre os corpos das vítimas miniaturas de carros. A coisa só funciona quando a câmera pára para o diretor desfilar seu instinto voyeurístico e numa espetacular cena em particular que mostra a assassina desaparecendo nas sombras (uma coisa sutilmente sinistra). As cenas de ação são uma vergonha, e do modo como as coisas são retratadas parece até que a França é uma extensão do Texas, onde todo mundo tem uma arma.
Duets - Vem Cantar Comigo (Bruce Paltrow, 2000)
Com: Paul Giamatti, Andre Braugher, Huey Lewis, Gwyneth Paltrow, Maria Bello
Para um filme que eu sempre achei que estivesse sendo vendido como um musical, Duets até surpreende. Principalmente pelo fato de passar longe de ser um musical. Comédia dramática é o que mais se aplica no caso, que consiste na história de um grupo de pessoas envolvidas no mundo do karaokê: cantor semi-profissional e pai arredio (Huey Lewis) que reencontra a filha abandonada já adulta (Gwyneth Paltrow), vendedor frustrado (Paul Giamatti) que manda tudo às favas e faz amizade com um ex-presidiário (Andre Braugher) e uma quase-prostituta (Maria Bello) que convence um taxista bonzinho e corno (Scott Speedman) a levá-la até a Califórnia. Quase todos soltam a voz em palcos de karaokê enquanto passam por encruzilhadas da vida. Maria Bello está surpreendentemente sexy em seu papel, apesar dele ser o menos desenvolvido de todos, e a maior surpresa no departamento da cantoria é ninguém menos que Gwyneth Paltrow. Podendo ser bastante engraçado e às vezes cruel, Duets termina sendo um ótimo filme, daqueles que são facilmente subestimados e merecem uma redescoberta por quem passou batido.
La Noche del Terror Ciego (Amando de Ossorio, 1971)
Com: Lone Fleming, César Burner, María Elena Arpón, José Thelman, Rufino Inglés
A.K.A. Tombs of the Blind Dead — Famoso entre os entendidos por ser considerado a versão espanhola do clássico A Noite dos Mortos-Vivos, este filme irregular mas eficiente é o primeiro de uma cultuada série de quatro longas dirigidos pelo espanhol Amando de Ossorio. A premissa não me parecia atraente à primeira vista: cavaleiros que adoravam o diabo e foram executados retornam de suas tumbas à noite para se alimentar de sangue humano (poderiam ou não ser os famosos cavaleiros templários). O detalhe é que antes de morrer eles tiveram os olhos devorados por corvos, daí todo o blá-blá-blá sobre o título Blind Dead. O filme demora para entrar num ritmo bom, mesmo depois da apetitosa Virginia (María Elena Arpón) se perder dos amigos e ficar sozinha dentro do castelo decrépito que abriga as tumbas dos cavaleiros. Felizmente, logo depois o roteiro mostra movimentação e a coisa evolui de forma ascendente até o ótimo desfecho. No geral, o uso de efeitos visuais é bastante inventivo para os valores de produção envolvidos, o elenco feminino é extremamente agradável aos olhos e há um razoável balanço entre o horror clássico o sempre bem-vindo humor negro.
Os Garotos Perdidos (Joel Schumacher, 1987)
Com: Jason Patric, Corey Haim, Kiefer Sutherland, Jami Gertz, Corey Feldman
Os Garotos Perdidos é um dos filmes de terror adolescentes mais famosos da descartável safra norte-americana da década de 80. Produzido por Richard Donner e notório por misturar romance e comédia com elementos grotescos, a obra é uma espécie de Os Goonies com uma pitada de escapismo macabro. Recém-chegados a uma cidadezinha californiana, os irmãos Michael (Jason Patric) e Sam (Corey Haim) são envolvidos por um grupo de jovens rebeldes liderados por Kiefer Sutherland. O mais velho se engraça com a favorita do malvado (Jami Gertz), enquanto o mais novo se junta a uma dupla de pretensos matadores de vampiros (Corey Feldman sendo um deles), a verdadeira praga que parece estar por trás da violência e dos desaparecimentos que atormentam a cidade. Se o lado adolescente da história não fosse tão... adolescente, o resultado poderia ter sido bem melhor, já que as amostras de gore que pipocam no trecho final do filme são decentes. Admito que já fui mais fã no passado, mas hoje tudo parece inevitavelmente datado. O fato do longa ter recentemente recebido uma continuação atesta o apreço que ele ainda possui entre os cinéfilos, especialmente quem não rejeita uma Sessão da Tarde um pouco mais sangrenta que o normal.
Trovão Tropical (Ben Stiller, 2008)
Com: Ben Stiller, Robert Downey Jr., Jack Black, Jay Baruchel, Brandon T. Jackson
Mais um ataque de Ben Stiller como protagonista e diretor, nos moldes do incompreendido Zoolander (2004), Trovão Tropical é uma comédia inusitada e original que mais uma vez se aproveita do senso besteirol característico do ator/diretor, desta vez mesclado a uma sátira inteligente e impiedosa sobre o mundo do cinema em geral.
O humor de Trovão Tropical é para gente grande. É chulo, é pastelão, é referencial, é dinâmico, é inteligente e é ácido. Não é todo mundo que consegue fisgar as referências e as alfinetadas, e felizes daqueles que conseguem, já que recorrer a dublagem ou legendagem praticamente mata uma boa parte da graça presente na história de um grupo de atores afrescalhados que vão à selva asiática filmar a adaptação de um best-seller escrito por um veterano do guerra. Quando a vaca parece estar indo para o brejo, o diretor decide colocar seus atores numa selva de verdade, mas uma série de eventos inoportunos os coloca também em perigo real contra uma facção de traficantes de drogas. Pensando que tudo não passa de encenação e efeitos especiais super-realistas, a trupe vai na onda e a confusão está armada.
Além do roteiro bem azeitado, o que consegue equilibrar com eficiência a farsa é o peso que Stiller dá a cada um dos atores. O elenco absurdamente eclético e inesperado ajuda imensamente. Poucas vezes o exagero histriônico de Jack Black foi tão bem-aproveitado, enquanto Robert Downey Jr. demonstra um timing cômico surpreendente para o tema. Stiller é Stiller, não indo muito além do velho Zoolander. O importante é que cada participação especial é valorizada, mas a mais inesperada de todas é a de Tom Cruise. Admito que só fui reconhecê-lo bem depois dele ter dado as caras no filme!
Divagações postadas por Kollision de 11 a 19 de Outubro de 2008