Quebrando a Banca (Robert Luketic, 2008)
Com: Jim Sturgess, Kevin Spacey, Laurence Fishburne, Kate Bosworth, Aaron Yoo
Mais um filme metido a espertinho e apoiado pelo slogan de "inspirado em fatos reais", Quebrando a Banca tenta se aproveitar de um tema conhecido para garantir um pouco de suspense com uma pequena reviravolta em sua reta final. O protagonista é um universitário pobre mas brilhante (Jim Sturgess, um quase-clone de Tobey Maguire), que é convidado por um professor (Kevin Spacey) para integrar o seu grupo de jogadores profissionais de blackjack e arrebentar a boca do balão nos chiques cassinos de Las Vegas. Em sua aventura, o rapaz abandona os amigos, se dá bem com a garota dos seus sonhos, ganha bastante dinheiro e acaba fazendo merda. Embora feito e editado de forma até dinâmica, há ao mesmo tempo alguns bolsões de ensebação no roteiro. A babação de ovo de todo mundo pela insossa Kate Bosworth é feita de forma constrangedora, enquanto por outro lado o chefe de segurança de Laurence Fishburne acaba ganhando uma das caracterizações mais decentes que já vi para personagens do tipo. Enfim... Na falta de coisa melhor e sem muitas expectativas em mente, o filme até que não faz feio.
As Crônicas de Nárnia - Príncipe Caspian (Andrew Adamson, 2008)
Com: Ben Barnes, Georgie Henley, Skandar Keynes, William Moseley, Anna Popplewell
A impressão que tenho sobre dimensão de Nárnia é que ela é mais ou menos como a Hogwarts de Harry Potter. O começo e o fim de Príncipe Caspian atestam isso (até no portal que leva e traz os quatro protagonistas de volta). Agora um pouco mais grandinhos, eles são chamados para socorrer o tal Caspian (Ben Barnes), um príncipe ameaçado de morte pelo tio malvado, um déspota (Sergio Castellitto) que dominou Nárnia e praticamente enxotou os seres mágicos de seu habitat. A pegadinha é uma só: centenas de anos se passaram desde que eles lá estiveram pela última vez, e agora não há nem sinal do leão Aslan (voz de Liam Neeson). Para quem gostou do primeiro filme, o padrão é o mesmo e ele até agrada, pelo menos até o ponto alto da batalha entre os narnianos e os inimigos telmarianos. Para falar a verdade, a virada de mesa é tão forçada e narrativamente amadora que praticamente destrói toda a tensão construída (não considerando a óbvia parábola que denota a fraqueza de conceitos da religião cristã). Uma pena. Georgie Henley já não ostenta o mesmo encanto de quando estava menorzinha, mas o elenco em geral não compromete. Nem mesmo o tal Caspian, que não passa de uma versão juvenil de Keanu Reeves.
O Fantasma da Liberdade (Luis Buñuel, 1974)
Com: Jean Rochefort, François Maistre, Anne-Marie Deschott, Pierre Lary, Julien Bertheau
Tenho algo estranho a relatar sobre O Fantasma da Liberdade. Eu juro – antes de assisti-lo, eu sempre havia imaginado um filme onde a narrativa "saltasse" de um personagem a outro, seguindo um deles por algum tempo e depois passando para o seguinte, com algum tipo de conexão entre eles mas sem retornar a nenhum deles de forma explícita. Pois bem... É exatamente isto o que Buñuel faz neste filme! Como se trata de Buñuel, no entanto, a história não é exatamente o que se espera de uma narrativa cinematográfica padrão. A estrutura episódica com tênues ligações entre cada trecho é mesclada a um senso de absurdo visto somente em sonho (para quem é capaz de sonhar absurdos como o do filme), é impregnada de passagens e frases de duplo sentido e se recusa a manter qualquer lógica sensorial. Quando parece que Buñuel está prestes a fazer isso, o roteiro toma um rumo completamente diferente. O Fantasma da Liberdade é um filme louco, daqueles capazes de gerar reações tão distintas como "que p#%!%a é essa?" ou "sensacional!", com um dos finais mais inclementes e anticlimáticos que já vi. Confesso que, depois do fim, não me senti muito bem, comigo mesmo ou em relação ao filme. Agora, diante do meu computador e olhando em retrospecto, é possível enxergar e apreciar no sarcasmo inconformista e visionário a crítica agressiva contra sociedade e religião.
Afinal, quem foi que disse que é possível entender um filme como este em apenas uma sessão?
Sexta-feira 13 - Parte 3 (Steve Miner, 1982)
Com: Dana Kimmell, Paul Kratka, Larry Zerner, Tracie Savage, Jeffrey Rogers
A terceira parte da saga de Jason não perde tempo mesmo. Depois de uma recapitulação do desfecho anterior, vemos que ele é bem mais resistente a ferimentos físicos do que a heroína pensava, e novamente está de pé e à espreita nas imediações do infame Crystal Lake. As novas vítimas são o grupo de amigos que se reúne no rancho de Chris (Dana Kimmel), jovem ainda meio que traumatizada por um evento violento de seu passado. Não há substância alguma no roteiro, que se limita a catalogar os assassinatos dos adolescentes imbecis um após o outro. Tanto o final quanto algumas das mortes emulam passagens semelhantes do primeiro Sexta-feira 13. O nível de interpretação do elenco é um dos mais atrozes da série, mas nenhum outro episódio traz o que este aqui traz: o momento sublime em que Jason adquire sua indefectível máscara de hóquei do garoto mais nerd da turma. Ah, e ele ainda corre para alcançar suas vítimas, ao contrário do que acontece nas demais continuações, em que o assassino se limita a andar e as vence pelo desespero!
Pequena Miss Sunshine (Jonathan Dayton e Valerie Faris, 2006)
Com: Abigail Breslin, Greg Kinnear, Toni Collette, Steve Carell, Alan Arkin
Famílias disfuncionais existem aos montes no cinema e na vida real, mas provavelmente nenhuma delas tem tantos perdedores quanto a família Hoover, no momento em que ela nos é apresentada durante o início de Pequena Miss Sunshine. Ironicamente, os mais sábios do grupo são aqueles que mais perto do abismo estão, mas todos convergem para algum ponto focal de esperança graças à pequena Abigail Breslin. Mas não se enganem, a convergência não vem fácil, e é somente em seu desfecho que esta comédia genial redime um por um seus personagens.
Se você ainda não viu, lamento em dizer que está perdendo um dos melhores pequenos filmes de 2006.
Fim dos Tempos (M. Night Shyamalan, 2008)
Com: Mark Wahlberg, Zooey Deschanel, John Leguizamo, Ashlyn Sanchez, Betty Buckley
É engraçado como todo mundo que diz gostar seriamente de cinema vive pedindo por filmes mais originais, diretores mais ousados, histórias menos formulaicas. Mais engraçado ainda é o fato de que um monte de gente, depois de assistir a Fim dos Tempos, decidiu de uma hora pra outra rotular M. Night Shyamalan de arrogante, teimoso, egomaníaco. O que esse pessoal quer, afinal? Se um cineasta filma um roteiro de outro bancado por um grande estúdio, é um vendido. Se ele decide escrever, produzir e filmar sua própria história, é um arrogante. Sinceramente, tem gente que não vai se satisfazer nunca.
Fim dos Tempos é um longa que foge corajosamente do convencional, em todos os sentidos, enquanto usa como ponto de partida um medo cada vez mais presente na sociedade humana. Repentinamente, pessoas começam a perder as faculdades mentais e se suicidar como podem no coração de Nova York. O que é inicialmente considerado um ataque químico terrorista logo se alastra para outras localidades, sem explicação alguma. A história acompanha a fuga da família e do amigo de um professor ginasial (Mark Wahlberg), que tenta desesperadamente compreender o porquê de tudo isso.
Guardando similaridades como outro trabalho do diretor (Sinais), este novo filme é mais bem-sucedido no estabelecimento do suspense, particularmente devido ao nível mais elevado de violência e sangue. Não que Shyamalan tenha se entregado à sangueira desatada, longe disso – o cara é muito refinado para abandonar o próprio estilo. A característica que aparece mais acentuada, contudo, é o senso de humor, que por vezes beira o inconveniente mas não soa implausível. E o final, já bastante comentado por ser polemicamente enigmático e anti-climático, é extremamente condizente com a história e com o que nós, como espécie dominante deste planeta definhante, merecemos.
O Incrível Hulk (Louis Leterrier, 2008)
Com: Edward Norton, Tim Roth, Liv Tyler, William Hurt, Tim Blake Nelson
Tirando as alterações menores de coisas que não precisavam ser alteradas em relação ao Hulk de Ang Lee, este novo filme passa muito bem como uma continuação direta do trabalho do diretor taiwanês. A história começa com Bruce Banner (Edward Norton) escondido na favela da Rocinha, em pleno Rio de Janeiro, enquanto o general Ross (William Hurt) continua a procurá-lo para tomar posse do monstro que Banner oculta em seu próprio corpo. De resto, basta dizer que o pobre cientista é encontrado, e que seu novo inimigo surge na forma de Emil Blonsky (Tim Roth), um ambicioso soldado que aceita ser submetido a experiências secretas para ter uma chance maior de capturar o inimigo.
Fato: o Hulk é, ao lado do Superman, um dos personagens mais difíceis de ser retratado fora do ambiente das HQs. Exemplo: estão fora do filme de Leterrier os saltos poderosos que são uma das marcas registradas do verdão (que invariavelmente foram motivo de crítica de gente desinformada que desgostou do Hulk de Ang Lee). Admito que, numa realidade mais próxima à nossa, trata-se de uma boa concessão. No fim, essa e outras mudanças menores não causam estrago algum à continuação, que vem recheada de referências ao universo Marvel e de fato preza pelo enfoque na ação. O Incrível Hulk é divertido e consegue trazer de volta um pouco da sensação da antiga série estrelada por Lou Ferrigno e Bill Bixby, tão pródiga em nos fazer sentir pena do sofrido cientista amaldiçoado. Minha única ressalva digna de menção é que prefiro Jennifer Connelly como Betty Ross, mas a Marvel fez uma jogada de gênio para varrer as insatisfações de todo mundo antes do filme acabar... Se você pensou em Tony Stark, Homem de Ferro e a tão alardeada formação de uma das mais famosas super-equipes dos quadrinhos, acertou em cheio.
La Rose de Fer (Jean Rollin, 1973)
Com: Françoise Pascal, Hugues Quester, Nathalie Perrey, Mireille Dargent, Michel Delessalle
A.K.A. The Iron Rose – Casal de namorados, num passeio inocente de Domingo, resolve perder algum tempo num cemitério decrépito e, ao anoitecer, se perde e não consegue mais sair do lugar, que pouco a pouco passa a afetar sua sanidade. Jean Rollin não se faz de rogado e impregna este filme lento do início ao fim com sua característica movimentação de câmera e com uma cadência que transita perigosamente entre o artístico e a ancheção de lingüiça. Para os entendidos, aviso que mais uma vez ele dá um jeito de colocar a sua praia favorita em cena. Isso ocorre notadamente nas passagens de cunho surrealista, uma delas trazendo a única (e bela) seqüência de nudez da atriz Françoise Pascal. Infelizmente, La Rose de Fer é um dos filmes mais fracos de Rollin, já que tudo é bastante convencional e vem com um tratamento psicológico que nem sempre resiste às passagens forçadas. Talvez a cena que mais fique na memória é a dos dois perdidos fazendo amor numa cova cheia de ossos e crânios, enquanto parte da diversão fica em discernir a intenção metafórica do diretor quanto à presença da tal rosa de ferro em determinadas cenas.
Divagações postadas por Kollision de 17 a 22 de Junho de 2008