Cinema

Pequena Miss Sunshine

Pequena Miss Sunshine
Título original: Little Miss Sunshine
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 101 min.
Gênero: Comédia
Diretor: Jonathan Dayton, Valerie Faris
Trilha Sonora: Mychael Danna (Os Fugitivos, Um Crime de Mestre), Devotchka
Elenco: Abigail Breslin, Greg Kinnear, Toni Collette, Steve Carell, Alan Arkin, Paul Dano, Marc Turtletaub, Jill Talley, Paula Newsome, Dean Norris, Wallace Langham, Lauren Shiohama
Distribuidora do DVD: Fox
Avaliação: 9

Revisto em DVD em 14-JUN-2008, Sábado

Famílias disfuncionais existem aos montes no cinema e na vida real, mas provavelmente nenhuma delas tem tantos perdedores quanto a família Hoover, no momento em que ela nos é apresentada durante o início de Pequena Miss Sunshine. Ironicamente, os mais sábios do grupo são aqueles que mais perto do abismo estão, mas todos convergem para algum ponto focal de esperança graças à pequena Abigail Breslin. Mas não se enganem, a convergência não vem fácil, e é somente em seu desfecho que esta comédia genial redime um por um seus personagens.

Se você ainda não viu, lamento em dizer que está perdendo um dos melhores pequenos filmes de 2006.

O DVD vem com uma faixa de comentários conjunta da dupla de diretores (sem legendas) e com quatro finais alternativos para as peripécias da família Hoover.

Visto no cinema em 12-FEV, Segunda-feira, sala 8 do Unibanco Arteplex em São Paulo - Texto postado por Kollision em 19-FEV-2007:

O casal Jonathan Dayton e Valerie Faris é egresso dos meios publicitário e videoclíptico, onde eles por vários anos conceberam produtos de inegável sucesso em nome de artistas e marcas poderosas do mundo dos negócios. Logo, histórico e experiência essa dupla bastante premiada já possuía antes de sua estréia na direção a quatro mãos de Pequena Miss Sunshine, um filme independente com uma bagagem enorme, que pega o espectador de jeito com uma mistura irresistível de drama e humor, às vezes negro e às vezes inocente, mas sempre contagiante em seu auto-declarado frescor indie.

Se você acha que sua família é desajustada, espere até conhecer a família da pequena Olive (Abigail Breslin). Seu pai (Greg Kinnear) é um escritor de livros de liderança fracassado que está à beira da falência mas tapa o sol com a peneira, seu irmão (Paul Dano) é um adolescente revoltado que não fala uma palavra há meses, seu avô (Alan Arkin) é um velho cansado viciado em drogas e seu tio (Steve Carell) é um suicida gay que se une à família após uma tentativa frustrada de se matar. A mais normal de todos é sua mãe (Toni Collette), que se recusa a não cumprir a promessa que fez a Olive de levá-la a uma competição de miss infantil à qual a menina se classificou, nem que para isso seja preciso arrastar toda a família através dos Estados Unidos numa kombi caindo aos pedaços.

Saindo do papel depois de vários anos patinando na fase de pré-produção, Pequena Miss Sunshine tem de tudo um pouco em se tratando de comédias espertas de pequeno porte. Há passagens hilariantes entremeadas com cenas de cortar o coração, além de um suspense absurdo que antecede o último ato da história. O formato é o do conflito generalizado em torno de um grupo desconjuntado associado a um road movie que não se preocupa muito com amarras temporais, e sim com os inevitáveis percalços que ocorrem entre o abandono do lar e o final da jornada. O elenco bem escalado entorna as sarcásticas linhas de diálogo com a naturalidade que faz histórias do tipo funcionarem, colocando o filme com justiça num patamar de respeito em relação a tantos outros similares já produzidos e justificando seu inesperado sucesso mundo afora.

Como a pretendente a Miss Sunshine, a pequena Abigail Breslin ilumina a tela com seu sorriso, tornando-se o sol ao redor do qual todos os outros personagens gravitam e, em última instância, encontram uma redenção tão improvável quanto hilária. A história chega a lembrar a de Um Grande Garoto (Chris/Paul Weitz, 2002), em que um adulto era conduzido de volta aos trilhos de sua vida por um menino que deseja subir num palco diante de uma platéia ameaçadora. Uma curiosidade, nesse caso, é a presença de Toni Collette em ambos os longas, sempre no papel de mãe das crianças. Em Pequena Miss Sunshine, nem ela nem Greg Kinnear ou Steve Carell, os demais nomes principais do elenco, conseguem tirar as atenções do carisma contagiante de Abigail Breslin.

A mensagem final prega que mesmo as famílias mais desestruturadas são capazes de permanecerem unidas, com ou sem um final tão feliz. O ciclo se fecha em torno da relação de transferência de valores e esperanças provocada pelo conflito entre a infância e a velhice. Não consigo definir, no entanto, se o bônus do filme é essa visão ácida da união familiar universal, ou o simples fato do longa representar um extraordinário divertimento, com um potencial danado para ascender à categoria de cult.