Indiana Jones e a Última Cruzada (Steven Spielberg, 1989)
Com: Harrison Ford, Sean Connery, Denholm Elliott, Alison Doody, John Rhys-Davies
Embora seja uma aventura completa, bem-humorada e bastante movimentada, este terceiro filme do arqueólogo aventureiro não consegue superar o inigualável Indiana Jones e o Templo da Perdição, feito cinco anos antes. Isso acontece em sua maior parte porque o tema causador do conflito (nazismo vs. religião) é praticamente o mesmo de Os Caçadores da Arca Perdida. Dois anos depois dos eventos deste filme, Indy acaba numa missão onde precisa preencher os passos de seu pai (Sean Connery) na procura pelo Santo Graal, o cálice sagrado que supostamente conteve o sangue de Cristo e está sendo procurado pelos nazistas. O timing cômico de Connery é um achado, e alguns coadjuvantes do primeiro filme retornam, sendo desta vez mais bem aproveitados em cena. De quebra, a introdução mostra um pouco da adolescência do já obstinado Indiana, interpretado por River Phoenix.
Homem de Ferro (Jon Favreau, 2008)
Com: Robert Downey Jr., Jeff Bridges, Terrence Howard, Gwyneth Paltrow, Shaun Toub
A nova era da Marvel como um estúdio de cinema autônomo começa bem com Homem de Ferro. Isso é fato. Os mais atentos notarão ainda muitos detalhes que dão uma idéia do plano maior que a gigante das HQs está tecendo para suas produções futuras. E finalmente o estado da tecnologia atual permite que filmes como este sejam realizados sem qualquer resguardo na área de efeitos especiais.
Para os não iniciados, o Homem de Ferro é o alter-ego de Tony Stark, um gênio cientista que é também um rico e inveterado playboy, dono de uma empresa que fabrica armas bélicas para a defesa nacional dos EUA. A história acompanha o período anterior ao surgimento do herói, e passa pelo processo de conscientização de Stark. O pano de fundo político-econômico é um ponto extremamente positivo do roteiro, que intercala a dinâmica da HQs e a necessária seriedade com competência. O tratamento dos coadjuvantes também é bem feito, como no exemplo de Pepper Potts (Gwyneth Paltrow): finalmente uma secretária que vai além do estereótipo e pensa construtivamente!
Há um senso de humor ácido que permeia o filme, inclusive em sua cena de encerramento. Mesmo que algumas das seqüências de ação exalem um óbvio tom de exibicionismo e o inimigo do herói demore para entrar em cena, Homem de Ferro agrada e se aproxima dos melhores trabalhos inspirados em personagens da Marvel já feitos.
Jogos Sangrentos (Simon Boyes e Adam Mason, 2006)
Com: Nadja Brand, Eric Colvin, Chesse Daves, Olivia Hill, Abbey Stirling
Há várias coisas que incomodam muito neste filme. E não estou me referindo à crueza das cenas de tortura. A primeira delas é a total ausência de história ou motivação para seus personagens. A segunda é a pretensão de seus realizadores de dizer que esta baboseira é baseada em fatos reais. E a terceira é a técnica de filmagem digital sem renderização adequada para cinema, que deixa tudo com aspecto de seriado de TV de Sábado à noite (não tem jeito, cinema é cinema e tem que se parecer com cinema). O "exercício em estilo" envolve uma mulher de meia-idade que é raptada por um matuto sádico que a deixa à beira da morte e depois a transforma em escrava. Tirando um certo cuidado com a maquiagem grotesca, o que se vê aqui é uma baboseira sem sentido, coalhada de passagens vergonhosas e inúteis (um exemplo claro é que a casa só cai quando o anormal pira sem motivo aparente). Se tivessem colocado uma gostosa pra ser a protagonista a coisa poderia ter melhorado um pouco, mas do jeito que está é um desperdício completo. De esforço e de tempo do espectador.
O Chamado 2 (Hideo Nakata, 2005)
Com: Naomi Watts, David Dorfman, Simon Baker, Elizabeth Perkins, Sissy Spacek
O Chamado 2 não seria um filme tão inferior ao original se Hideo Nakata tivesse tomado uma única decisão: não transformar o moleque Aidan num anormal antes mesmo dele começar a ser atazanado pelo fantasminha nada camarada da Samara. Revendo o filme com mais calma isso fica bastante claro. Momentos tecnicamente sublimes como a cena da abdução aquática no banheiro são uma adição um tanto deslocada à veia oriental impressa pelo diretor, que de alguma forma não se encaixa como deve numa produção ocidental. E reafirmo, pelo menos o filme não é uma bagunça generalizada como o Ring 2 original.
E preparem-se, porque vem aí O Chamado 3, nos mesmos moldes de sua contraparte nipônica, ou seja, em formato de prequel.
Spider Baby (Jack Hill, 1968)
Com: Lon Chaney Jr., Jill Banner, Sid Haig, Beverly Washburn, Carol Ohmart
Uma grande pérola perdida no tempo, Spider Baby é um fantástico conto macabro que não se furta a arroubos de humor negro. Finalizado em 1964 mas só lançado quase meia década depois devido a problemas executivos, o filme é conhecido também pelos títulos nada decentes de Cannibal Orgy e The Liver Eaters, possuindo ainda o título complementar de The Maddest Story Ever Told. Ainda bem que o nome que resistiu ao tempo foi o melhor deles!
Influência gritante em muitos trabalhos futuros, a história envolve um grupo de três irmãos doentes que sofrem de uma rara regressão cerebral, tutelados por ninguém menos que Lon Chaney Jr., o famoso Lobisomem da Universal. As duas garotas se revezam em impulsos homicidas, enquanto o irmão mais velho (Sid Haig, o patriarca da família demente de A Casa dos 1.000 Corpos) já nem mesmo fala devido ao estado avançado da enfermidade. A rotina nada convencional desta família é quebrada quando alguns parentes distantes chegam acompanhados de um advogado para tomar a sua propriedade.
Spider Baby é memorável como muito poucos filmes americanos de horror o são. Lon Chaney Jr., por exemplo, simplesmente entrega a melhor atuação da sua carreira. A atmosfera lúgubre e sombria acentua a natureza bizarra de seus personagens e garante momentos de um extraordinário requinte macabro, em especial quando Virginia (Jill Banner, espetacular) brinca de "aranha" com suas vítimas. Inocente, perigosa e sexy, ela é uma vilã fenomenal, uma viúva negra adolescente que se encaixa perfeitamente na definição das mais sedutoras vampiras descritas por Stoker: mortais e ao mesmo tempo irresistíveis. Esta última qualidade se aplica com louvor ao filme, um programa imperdível para os fãs de clássicos obscuros e do cinema de horror em geral.
A Bela da Tarde (Luis Buñuel, 1967)
Com: Catherine Deneuve, Michel Piccoli, Jean Sorel, Geneviève Page, Pierre Clémenti
Na filmografia de Buñuel, A Bela da Tarde é amplamente reconhecido como um de seus melhores trabalhos, ou mesmo o melhor. O fato do filme destruir o espectador em suas cenas finais – no sentido de que ele deixa tudo no ar, inconclusivo, num ápice da dolorosa ambigüidade – com certeza é um dos motivos para tal. O outro é que, no decorrer da história, toda e qualquer sensação de deslocamento vem dos pensamentos e dos desejos de Séverine (Catherine Deneuve), uma mulher bem-casada e frígida que sente uma compulsão irresistível por se prostituir, o que ela chega de fato a fazer graças a uma pista deixada por um amigo libertino (Michel Piccoli).
Aos iniciados no cinema do cineasta espanhol, basta dizer que a obra inclui praticamente todos os seus típicos cacoestes críticos, em especial contra a igreja e a hipocrisia da classe burguesa. Buñuel nunca foi um cineasta dado a gracejos cênicos, e não permite nudez alguma em seus enquadramentos. Seus rompantes de sonho continuam a ser inseridos sem qualquer aviso, sem qualquer pista de, por exemplo, um tom da trilha sonora, que aqui inexiste e representa um aspecto que parece ser uma constante nos filmes do final de sua carreira. Além de seu famoso e controverso final, A Bela da Tarde é marcado e lembrado pela beleza glacial de Catherine Deneuve, e com certeza requer mais de uma sessão para que possa ser absorvido por completo.
Minha interpretação: no fim, o franco sorriso de Séverine demonstra que ela finalmente se conformou com sua verdadeira natureza. A última seqüência é outro devaneio, e significa que seu santo marido vai ficar à sua mercê, sabendo de toda a verdade, para o resto de sua vida miserável.
Divagações postadas por Kollision de 15 a 18 de Maio de 2008