Visto em DVD em 17-MAI-2008, Sábado
Na filmografia de Buñuel, A Bela da Tarde é amplamente reconhecido como um de seus melhores trabalhos, ou mesmo o melhor. O fato do filme destruir o espectador em suas cenas finais – no sentido de que ele deixa tudo no ar, inconclusivo, num ápice da dolorosa ambigüidade – com certeza é um dos motivos para tal. O outro é que, no decorrer da história, toda e qualquer sensação de deslocamento vem dos pensamentos e dos desejos de Séverine (Catherine Deneuve), uma mulher bem-casada e frígida que sente uma compulsão irresistível por se prostituir, o que ela chega de fato a fazer graças a uma pista deixada por um amigo libertino (Michel Piccoli).
Aos iniciados no cinema do cineasta espanhol, basta dizer que a obra inclui praticamente todos os seus típicos cacoestes críticos, em especial contra a igreja e a hipocrisia da classe burguesa. Buñuel nunca foi um cineasta dado a gracejos cênicos, e não permite nudez alguma em seus enquadramentos. Seus rompantes de sonho continuam a ser inseridos sem qualquer aviso, sem qualquer pista de, por exemplo, um tom da trilha sonora, que aqui inexiste e representa um aspecto que parece ser uma constante nos filmes do final de sua carreira. Além de seu famoso e controverso final, A Bela da Tarde é marcado e lembrado pela beleza glacial de Catherine Deneuve, e com certeza requer mais de uma sessão para que possa ser absorvido por completo.
Minha interpretação: no fim, o franco sorriso de Séverine demonstra que ela finalmente se conformou com sua verdadeira natureza. A última seqüência é outro devaneio, e significa que seu santo marido vai ficar à sua mercê, sabendo de toda a verdade, para o resto de sua vida miserável.
Os únicos extras presentes no DVD são biografias curtas de Luis Buñuel, Catherine Deneuve e Michel Piccoli e uma pequena galeria de pôsteres.