Visto em DVD em 12-JUL-2014, Domingo
Primeiro filme da grande trilogia que encerrou a carreira de Luis Buñuel, O Discreto Charme da Burguesia é um retrato ácido e surreal da alta sociedade francesa, aqui representada por um grupo de personagens que se esforça para, do início ao fim do filme, iniciar e concluir uma refeição. É quase como uma versão mais leve e bem-humorada do que o próprio Buñuel havia concebido em O Anjo Exterminador, numa alegoria que transita entre a contemplação e o absurdo e consegue capturar muito bem o senso de pesadelo que permeia mentes em devaneio onírico. Como é de praxe, política, moralidade e religião ditam e interferem nos rumos de uma narrativa entrecortada. O foco das atenções é mantido sobre o embaixador de uma nação de terceiro mundo fictícia (Fernando Rey) que chafurda numa rotina de futilidades com seus amigos igualmente inúteis. A punhalada da vez na figura da igreja fica por conta de um bispo (Michel Piccoli) que deseja ser jardineiro de uma família abastada. O Discreto Charme da Burguesia é acessível sem ser de fácil interpretação, mas acredito que nenhum outro filme foi tão bem-sucedido em expressar quão inatingíveis podem ser nossas divagações oníricas, como na passagem em que Fernando Rey não consegue de jeito nenhum fazer sexo com a amante (a espetacular Delphine Seyrig) ou na descrição do estranho sonho em que o militar encontra pessoas de seu passado.
O DVD da Spectra Nova é completamente desprovido de extras.