A Vida Marinha com Steve Zissou (Wes Anderson, 2005)
Com: Bill Murray, Owen Wilson, Cate Blanchett, Anjelica Huston, Willem Dafoe
Para um filme que se auto-intitula uma comédia, algo está muito errado se os únicos momentos engraçados ocorrem quando um ator como Willem Dafoe rouba a cena de forma inesperada. Dafoe é um ótimo ator, disso não há dúvida, mas a estranheza do todo reside no fato de que gente como Bill Murray e Owen Wilson, comediantes por natureza, se entregam a papéis inexplicavelmente insossos dentro de uma história que já provoca bocejos antes mesmo de começar. Murray é o tal Zissou, capitão de uma embarcação de documentaristas do mar à la Jacques Cousteau que parte em mais uma missão, dessa vez para matar o tubarão gigante que assassinou um dos seus. Wilson é seu filho bastardo que reaparece na última hora e se junta ao time.
A ambientação do filme se mantém sempre meio deslocada da realidade, com personagens que parecem jamais cair em si ou saber onde de fato estão (Owen Wilson é um perdido em cena) e passagens que, ao tentar suscitar alguma espécie inescrutável de humor negro, conseguem somente causar constrangimento. Se tem gente por aí que achou graça de todo esse embuste, eu sinto muito. O único mérito do filme é mesmo a técnica de animação dos animais marinhos, o melhor stop-motion que já vi num filme! Sério, só fui perceber que se tratava de stop-motion quando assisti aos extras do DVD.
Ligeiramente Grávidos (Judd Apatow, 2007)
Com: Seth Rogen, Katherine Heigl, Paul Rudd, Leslie Mann, Jason Segel
Ligeiramente Grávidos é uma comédia que surpreende pelo modo como seu tema, aparentemente batido e ralo, é tratado e aproveitado. Moça bem-sucedida profissionalmente (Katherine Heigl) conhece um gordo asqueroso (Seth Rogen) numa noitada e vai pra cama com o cara. Algumas semanas depois ela descobre que está grávida, o que causa o desmoronamento das rotinas de ambos. Percebe-se imediatamente que há algo de especial num filme que transforma cenas com personagens inócuos – como o porteiro da boate e o médico japonês – em arrebatadoras pérolas de lições de vida. Isso não soa engraçado? Não é mesmo, mas a graça da história está em como essas cenas se relacionam com o resto.
Num filme que não dá a mínima para a censura falada e retrata com fidelidade desconcertante o conceito de amor na vida real e a amizade masculina nas suas piores e melhores vertentes, tenho que concordar com aqueles que chiaram sobre a permanência do sutiã de Katherine Heigl nas cenas íntimas com Seth Rogen. Não porque a moça é bonita e faria a alegria dos mais assanhados, e sim porque as cenas destoam completamente do clima do restante da história. É só por isso que, da minha parte, o filme não ganha nota dez.
Tropa de Elite (José Padilha, 2007)
Com: Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Milhem Cortaz, Fernanda Machado
Acredito que toda a polêmica sobre o fato do BOPE (Batalhão de OPerações Policiais Especiais) ter tentado impedir o lançamento deste filmaço em circuito comercial é assombrosamente infundada. Quem deveria ter se enervado é a categoria da PM, essa sim esculachada com gosto, tanto por ser incompetente quanto corrupta. Tropa de Elite é tão intenso quanto Cidade de Deus, o petardo que de uma forma ou de outra abriu caminho para o filme de José Padilha e atraiu a atenção para a realidade das metrópoles dominadas pelo crime, em especial o Rio de Janeiro.
Agora quem vai falar aqui sou eu, pessoa, não o cinéfilo: o capitão Nascimento não é um herói. Mas é o que o Brasil e, em especial, a bandidagem precisa. Não dá mais para manter o código de ética bonitinho que deveria nortear a conduta dos bons e faz a alegria dos vagabundos que ficam em porta de presídio e de cadeia defendendo os "direitos humanos" de marginais incorrigíveis. O capitão Nascimento sabe como fazer as coisas funcionarem e, se instituições como o BOPE tiverem ao menos uns três como ele, já dá para acreditar que existe uma fagulha de esperança para a dignidade de uma sociedade apodrecida.
Não vou escrever nada sobre o roteiro ou a história, que é ótima, editada com classe, bem interpretada e fadada a gerar muita discussão. Basta dizer que é cinemão de qualidade, capaz mesmo de chocar quem não vive ou desconhece aquela realidade. Uma realidade que, na vida real, é muito pior do que a retratada no filme. Eu procuro sempre me lembrar disso.
Alone in the Dark - O Despertar do Mal (Uwe Boll, 2005)
Com: Christian Slater, Tara Reid, Stephen Dorff, Matthew Walker, Frank C. Turner
Num jogo de vídeo-game, a história é o que menos importa. O que a esmagadora maioria dos jogadores quer ver são bons gráficos, acompanhados de boa jogabilidade e desafio e, se possível, com uma trilha sonora compatível. Transformar um jogo num filme é coisa totalmente diferente, algo que Uwe Boll parece desconhecer por completo. Após uns créditos explicativos que duram um minuto e meio, a bagunça começa com um agente do governo debandado que investiga eventos paranormais (Christian Slater) fugindo de um inimigo. Junta-se aí a tal agência governamental, agora comandada por Stephen Dorff, uma arqueóloga avoada (Tara Reid) e um cientista louco que conduziu experiências hediondas no passado envolvendo humanos e criaturas do outro mundo. O nível da produção é decente, com efeitos especiais razoáveis, mas toda a matéria-prima técnica é evidentemente jogada no lixo. E terror, que é bom, nada. O que trucida mesmo o filme são os diálogos tenebrosos, a bisonha narrativa em off de Christian Slater e a edição retardada, que chega ao cúmulo de permitir que uma personagem morta se mova antes de uma cena ser cortada.
O Mensageiro Trapalhão (Jerry Lewis, 1960)
Com: Jerry Lewis, Alex Gerry, Bob Clayton, Bill Richmond, Milton Berle
Primeiro longa-metragem dirigido por Jerry Lewis, O Mensageiro Trapalhão foi o resultado dos esforços do comediante para entregar um filme a toque de caixa para o estúdio, enquanto seu trabalho seguinte ainda não estava pronto. Bastante irregular, a história nada mais é que uma série de recortes na rotina de um hotel em Miami, tendo como peça central o faz-tudo abobalhado interpretado por Lewis, um palerma capaz de meter os pés pelas mãos nas tarefas mais simples possíveis. É óbvio que Lewis faz aqui uma homenagem ao cinema mudo, com um protagonista cujas falas são sempre adiadas (até a cena final) e a aparição esporádica de um imitador de Stan Laurel (o magro de O Gordo e o Magro). O filme com certeza não figura entre os melhores de Jerry Lewis, mas tem uma ou outra passagem memorável.
O Virgem de 40 Anos (Judd Apatow, 2005)
Com: Steve Carell, Catherine Keener, Paul Rudd, Seth Rogen, Romany Malco
A fisionomia de Steve Carell mostra que ele nasceu para interpretar o quarentão que nunca conseguiu fazer gol com as mulheres. Cercado por três amigos mais entendidos no assunto, a sua jornada em direção à perda da virgindade passa por momentos engraçados, turbulentos e até mesmo tocantes. Falando francamente, é difícil – senão praticamente impossível – imaginar um cara como ele, um sistemático colecionador de brinquedos e vendedor de uma loja de eletrônicos que sofre de dureza matinal todos os dias e, contraditoriamente, mostra-se avesso às pornografias empurradas pelos amigos desajustados. Isso praticamente mata a credibilidade do virgem, pois uma coisa é fato: não existe homem que não goste de pornografia, pelo menos numa mínima escala.
O filme poderia ser um pouco mais curto, já que a certa altura a longa duração transparece e meio que cansa o espectador. Mesmo assim, a performance toloba de Steve Carell vale a pena.
Delírios de um Anormal (José Mojica Marins, 1978)
Com: José Mojica Marins, Jorge Peres, Magna Miller, Jaime Cortez, Valter Setembro
Burlar a censura que dominava o cinema nacional na década de 70 não era tarefa fácil. Em desespero criativo, Mojica resolveu fazer uma colagem com várias cenas de seus filmes que haviam sido até então censurados, jogando-as dentro de um fiapo de história nesse longa-metragem imbecil, sem sentido e muito, muito ruim. Nele, um psiquiatra (Jorge Peres) pira na batatinha e começa a ter visões de Zé do Caixão roubando a sua mulher. Para socorrê-lo, seus colegas decidem chamar ninguém menos que o próprio José Mojica Marins, o criador do monstro. O exercício de metalinguagem é executado de forma medíocre e vergonhosa, em meio ao repeteco quase integral das cenas alucinógenas de Ritual dos Sádicos - O Despertar da Besta (1970). Na época podia até ser que não, mas atualmente Delírios de um Anormal perde o valor por completo por causa disso, sendo recomendado somente para os fãs hardcore de Zé do Caixão.
The Holy Mountain (Alejandro Jodorowsky, 1973)
Com: Alejandro Jodorowsky, Horácio Salinas, Zamira Saunders, Ana De Sade, Juan Ferrara
Um homem que é cara de Jesus Cristo (Horácio Salinas) é reanimado por um bando de anões, escapa e perambula por uma cidade atemporal, vindo mais tarde a se unir a um alquimista (Jodorowsky) cujo único propósito é formar um grupo de pessoas distintas (que simbolizam os planetas do Sistema Solar) para subjugar os mestres do mundo no cume de uma montanha sagrada. A jornada de todos é marcada por alegorias visuais impactantes, multi-coloridas, ambiciosas e profanas, para dizer o mínimo.
Por vezes belíssimo, este fantástico ensaio cinematográfico prima por uma sensação de desconforto que se transfere sem filtros para o espectador, que é bombardeado por seqüências psicodélicas de composição meticulosamente planejada. Quase como pinturas em movimento. Isso corresponde a uma das possíveis definições para o estilo único do diretor/ator Alejandro Jodorowsky, que neste filme utiliza o surrealismo como eficiente martelo crítico contra a religião, a sociedade hipócrita, a guerra, o capitalismo, etc.
Resident Evil 3 - A Extinção (Russell Mulcahy, 2007)
Com: Milla Jovovich, Oded Fehr, Ali Larter, Iain Glen, Mike Epps
Resident Evil é uma franquia intrigante, principalmente por ter chegado ao terceiro longa com fôlego apesar da quase-bomba que foi o segundo filme. O diretor Russell Mulcahy resolveu não correr riscos, e bebeu até o talo da estética apocalíptica de Mad Max para orquestrar o cenário de uma Terra dominada por zumbis e povoada por alguns poucos sobreviventes espalhados pelas paisagens desérticas que um dia foram os Estados Unidos. A heroína Alice (Milla Jovovich) vaga sozinha à procura de gasolina, e acaba topando com a caravana liderada por Claire (Ali Larter), da qual fazem parte alguns de seus ex-colegas. Em outro lugar, a ainda ultra-corrupta corporação Umbrella continua suas pesquisas, prestes a reencontrá-la. A solução para o mistério dos dotes acrobáticos da personagem principal é entregue antes mesmo dos créditos iniciais do filme, sendo todo o restante feito sem muito diferencial ou inovação. Pelo menos os zumbis estão de volta em grande número, o que já é alguma coisa e faz o filme valer a pena para quem gostou da primeira parte da série. Difícil mesmo é agüentar a suavização digital do rosto de Milla Jovovich nas cenas em close, uma inutilidade que já tinha sido feita no abominável Ultravioleta.
BloodRayne (Uwe Boll, 2005)
Com: Kristanna Loken, Ben Kingsley, Michael Madsen, Michelle Rodriguez, Matthew Davis
Outra adaptação de vídeo-game do odiado Uwe Boll, que nem chega a ter um nível tão baixo quanto o alardeado pelos detratores do cara. O fato é que tem muita coisa pior infestando o mercado por aí afora. O tema da vez são os vampiros: no século XVIII, Rayne (Kristanna Loken) é uma mestiça vampiro-humana que descobre sua maldição ao escapar do circo onde viveu aprisionada por anos. Procurando por ela estão as tropas malignas do vampiro-mor da história (Ben Kingsley), que não é outro senão o pai da moça, e um grupo de exterminadores de dentuços liderado por Michael Madsen. A despeito do roteiro infantilizado e da risível falta de intimidade da heroína com as cenas de luta, a narrativa é movimentada e dotada de um nível razoável de violência. As locações romenas ajudam no estabelecimento do clima, num trabalho tosco que pelo menos tem um elenco interessante e diverte quem não rejeita um filme B de vez em quando.
Divagações postadas por Kollision entre 19 e 27 de Outubro de 2007