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Filmes Vistos em Setembro - Parte 1

Sem Reservas (Scott Hicks, 2007) 4/10

Com: Catherine Zeta-Jones, Aaron Eckhart, Abigail Breslin, Patricia Clarkson, Bob Balaban

Uma das piores coisas que podem acontecer com um filme ocorre quando a sua divulgação dá a entender que ele é de um gênero, mas na realidade pertence a outro. O trailer de Sem Reservas vende o peixe como sendo uma comédia romântica, mas a história é puro drama, e é muito mais fácil ver gente chorando que rindo no cinema. Para piorar, o drama é fraco, indeciso e não consegue extrair o melhor de seus personagens, cuja jornada na tela soa truncada e efêmera. Catherine Zeta-Jones é a respeitada chef de um restaurante que precisa cuidar da sobrinha (Abigail Breslin) após a morte da irmã, mas não faz idéia do que fazer. Entra em cena o chef concorrente e bom moço Aaron Eckhart, resgatando um pouco da persona que havia feito em Erin Brockovich. Infelizmente, não basta o esforço de um elenco carismático para que o resultado do filme consiga se manter na média.

Água Negra (Walter Salles, 2005) 7/10

Com: Jennifer Connelly, Ariel Gade, John C. Reilly, Tim Roth, Pete Postlethwaite

Eis um trabalho subestimado por muitos, e que merece mais respeito do que tem.

Percebe-se pelos depoimentos dos extras do DVD de Água Negra que havia sim um sentimento de valorização dos envolvidos em relação ao filme, que desde que foi lançado estava estigmatizado pela sombra dos inúmeros remakes de obras de horror japonesas. A seu favor conta a sutileza do drama psicológico, a sábia decisão de não suscitar sustos com base em efeitos especiais e a ótima ambientação lúgubre. Em contrapartida, se a história soa lenta demais e não consegue empolgar muito, é preciso dizer que o filme vale a pena somente pelo elenco talentoso, que se entrega a um trabalho de horror atípico e, exatamente por isso, digno de uma conferida.

Fando y Lis (Alejandro Jodorowsky, 1968) 7/10

Com: Sergio Kleiner, Diana Mariscal, María Teresa Rivas, Tamara Garina, Juan José Arreola

Num cenário crivado de pedras e areia, desolado e seco, os personagens do título buscam por uma cidade mítica que remete à perfeição. O convite à arte surrealista está feito e não decepciona quem está disposto a viajar em indagações existencialistas e alegorias metafóricas. Na maior parte do tempo a sensação é a de estar imerso num sonho febril, com Fando (Sergio Kleiner) carregando a paralítica Lis (Diana Mariscal) num carrinho de mão e encontrando os tipos mais bizarros possíveis em seu árido percurso. Cortes rápidos dão vazão à imaginação desenfreada dos personagens, enquanto Jodorowsky destrói a arte erudita (pianos são queimados e esculturas demolidas) e libera seus personagens das amarras ético-sociais. Um filme interessantíssimo. Para quem está no estado de espírito adequado, obviamente.

A Hora do Rush (Brett Ratner, 1998) 7/10

Com: Jackie Chan, Chris Tucker, Tom Wilkinson, Elizabeth Peña, Mark Rolston

Bem-sucedido cruzamento dos hoje clássicos Máquina Mortífera (Richard Donner, 1987) e Um Tira da Pesada (Martin Brest, 1984), que se apóia num roteiro simples para entregar uma diversão leve e descompromissada. Jackie Chan é o tira expert em artes marciais de Hong Kong, e Chris Tucker é um novo e ainda mais verborrágico Axel Foley. A improvável aliança dos dois ocorre quando a filha do cônsul chinês é raptada em Los Angeles. A dupla tem boa química e ótimas tiradas, e o roteiro aproveita bem as diferenças culturais para criar as necessárias situações cômicas. O resultado é agradável e justifica as seqüências que o filme gerou, tal qual as obras que o inspiraram.

Lèvres de Sang (Jean Rollin, 1975) 3/10

Com: Jean-Loup Philippe, Annie Belle, Nathalie Perrey, Martine Grimaud, Marie-Pierre Castel

A.K.A. Lips of Blood – Até mesmo para o padrão narrativo não muito exigente de Jean Rollin a história deste filme é preguiçosa. Fica difícil saber em que estrutura de tempo se passam algumas das cenas que envolvem o ressurgimento de quatro vampiras em Paris, provocado pela obsessão de um homem (Jean-Loup Philippe) que persegue o fantasma de uma mulher de branco (Annie Belle) da qual ele recorda somente vagamente de sua infância. O roteiro se apóia demais em deslocamentos espaciais, o que não é nada bom quando mesclado ao estilo contemplativo de Rollin. O que deveria ser pelo menos uma boa alegoria fetichista – duas das vampiras perambulam seminuas onde quer que vão – acaba resultando num esforço inepto e decepcionante, principalmente quando comparado a outros bons filmes de vampiro que Rollin já fez, como Le Frisson des Vampires (1971) ou La Fiancée de Dracula (2002).

O Ultimato Bourne (Paul Greengrass, 2007) 9/10

Com: Matt Damon, David Strathairn, Joan Allen, Julia Stiles, Scott Glenn

Jason Bourne prossegue expiando os fantasmas de crimes passados, quando um jornalista surge na mídia e expõe conjecturas sobre seus últimos atos para desmascarar a operação Treadstone. A expressão do diretor da CIA (David Strathairn) ao ver Bourne acompanhando o cara é somente um dos grandes momentos do filme, e sinaliza o início de mais uma tensa jornada de espionagem e perseguição. A história segue o mesmo padrão de excelência dos trabalhos anteriores, e traz de volta vários rostos que desta vez ganham mais participação dentro do universo fragmentado do personagem principal – em especial a agente feita por Julia Stiles. A seqüência da perseguição de carro é tão brutal quando a de A Supremacia Bourne, e até mesmo parecida, enquanto as demais cenas de ação parecem estar bem espalhadas dentro da narrativa, marcada por mais da genialidade do agente desmemoriado diante da miopia de seus ex-superiores.

Importante é notar que este filme encerra uma das trilogias mais consistentes e interessantes do novo milênio, daquelas realmente merecedoras de uma maratona seqüencial. Os fãs dos thrillers de espionagem agradecem.

Primo Basílio (Daniel Filho, 2007) 6/10

Com: Débora Falabella, Fábio Assunção, Glória Pires, Reynaldo Gianecchini, Guilherme Fontes

A história de uma mulher mimada, um mau-caráter, uma aproveitadora e um corno, conforme ditada pela prosa de Eça de Queiroz e visualmente adaptada pelo faz-tudo global Daniel Filho. De forma geral, a metade final do filme agrada e compensa o início patinante, que contém cenas calientes de aspecto constrangedor e não consegue fugir do estigma máximo do cinema brasileiro, isto é, a inaptidão em conciliar uma prosa cheia de pompa dentro do formato cinematográfico – uma cruz carregada pelo Basílio de Fábio Assunção. Ambientada na década de 50, a trama é uma tragédia de contornos clássicos, com a mocinha se entregando ao primo galante e sendo chantageada pela empregada oportunista, enquanto o marido traído é usado como âncora moral. As presenças de Débora Falabella e Glória Pires juntas em cena marcam os melhores momentos do filme.

A Hora do Rush 2 (Brett Ratner, 2001) 6/10

Com: Jackie Chan, Chris Tucker, Roselyn Sanchez, John Lone, Zhang Ziyi

Sem maiores delongas e retomando o fio da meada exatamente onde o filme anterior havia terminado, A Hora do Rush 2 é uma das seqüências mais diretas já feitas para uma comédia, já que a costumeira pausa é simplesmente inexistente. Chris Tucker acompanha Jackie Chan de férias em Hong Kong, onde ambos são envolvidos na investigação do assassinato de americanos na embaixada local, a qual acaba descambando para um esquema grandioso de falsificação e lavagem de dinheiro. Bons momentos, como a engraçadíssima participação relâmpago não creditada de Don Cheadle, garantem a diversão de quem aprecia o estilo do filme. Que está no mesmo nível do primeiro, só que sem a bacana fase de adaptação cultural. Por algum motivo relacionado ao exagero verbal, Chris Tucker solto em Hong Kong não chega a ser tão genuinamente engraçado quanto Jackie Chan se virando em Los Angeles.

Divagações postadas por Kollision entre 5 e 18 de Setembro de 2007