Arquivos de Posts

Filmes Vistos em Agosto - Parte 3

La Cravate (Alejandro Jodorowsky, 1957) 6/10

Com: Alejandro Jodorowsky, Denise Brossot, Rolande Polya, Saul Gilbert, Raymond Devos

Visivelmente inspirado pela estética surrealista de Buñuel e pelas pantomimas mudas de Charles Chaplin, este curta-metragem rende um bom interlúdio de escapismo ao contar uma historieta sobre um homem que, para impressionar a amada, entra na loja de uma mulher que faz "troca de cabeças" e dá uma recauchutada na aparência. O personagem principal é interpretado pelo próprio diretor Alejandro Jodorowsky, que iniciava aqui sua incursão no universo cinematográfico. O filme é completamente mudo e não tem letreiros, mas consegue passar muito bem sua mensagem – a gravata do título encontra significado mais metafórico que concreto. A curta duração, as boas interpretações e a escolha inusitada dos enquadramentos torna a obra digerível até para quem não se dá muito bem com o incompreendido surrealismo cinematográfico.

A Lula e a Baleia (Noah Baumbach, 2005) 8/10

Com: Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, Owen Kline, Anna Paquin

A Lula e a Baleia me lembra bastante o similar Tempestade de Gelo (Ang Lee, 1997), do qual parece ser uma versão mais modesta e resumida. Ainda assim, o primeiro indício de que a sua ambientação é única são as raquetes que uma família desajustada usa numa partida de tênis durante a curta cena de abertura. Um pouco mais adiante vêm as demais pistas, que apontam para algum ponto na década de 80. A essência do conflito, porém, é exposta de forma muito inteligente na tal cena inicial. O pai (Jeff Daniels) e a mãe (Laura Linney) estão no fim de seu relacionamento, e os dois filhos estão imprensados no meio do fogo cruzado.

A influência danosa que os pais são capazes de exercer sobre os filhos é o aspecto que mais se destaca neste pequeno drama, que abrange temas como diferenças, ciúmes, inveja, falsidade e sexualidade com tanta propriedade que o humor aflora de forma indireta, quase indesejada. Os personagens estão imersos num universo cultivado por anos de um casamento moribundo, e em certo momento passam a lutar para se desvencilhar daquilo que os mantém presos. A viagem é prazerosa e vale a pena, e só não gostei mesmo da ignorância generalizada de pessoas tão cultas durante a passagem da história que se apóia na canção Hey You do Pink Floyd.

A Bruxa de Blair (Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, 1999) 8/10

Com: Heather Donahue, Joshua Leonard, Michael Williams, Bob Griffith, Jim King

Passados alguns anos do pequeno escândalo em que se tornou o sucesso de A Bruxa de Blair, a quem muita gente acusa de se beneficiar de uma jogada abusiva de marketing para promover um trabalho medíocre, é preciso fazer justiça a quem é de direito. As condições sob as quais o filme foi feito não diminuem em nada o mérito dos diretores, que souberam dar forma a uma idéia no mínimo original, e dos atores, que entregam interpretações decentes para uma história que precisa – e muito – da credibilidade de suas performances. Nela, um grupo de três jovens cineastas decide fazer um documentário sobre a mítica bruxa de Blair, embrenhando-se na floresta que teria lhe servido de morada. Como num documentário real, o desespero e o medo que se seguem são vistos exclusivamente por meio das gravações que eles próprios fizeram, as quais teriam sido encontradas meses depois de seu desaparecimento. Um aviso: a atenção aos detalhes no início do filme é importante para que o final faça algum sentido. E cuidado com a continuação, pois trata-se de uma lixeira de marca maior.

Chuva de Milhões (Walter Hill, 1985) 5/10

Com: Richard Pryor, John Candy, Lonette McKee, Stephen Collins, Pat Hingle

Trabalho menor do diretor Walter Hill, na verdade mais uma refilmagem feita às pressas de um conto clássico do século 20, cujo humor envelheceu mais ou menos como se defasou a quantia em dinheiro que seu protagonista recebe para esbanjar com propósitos secretos. Richard Pryor é o arremessador pobretão de um time de beisebol de segunda categoria que recebe uma herança polpuda, mas só poderá usufruir dela se gastar 30 milhões de dólares em um mês – sem jogatina, sem doações milagrosas, sem destruir bens adquiridos e sem revelar a ninguém as condições de seu benefício. O filme manda a lógica às favas e soa histérico durante a maior parte do tempo, brilhando mesmo somente quando o grande Hume Cronyn dá o ar de sua graça, na breve passagem em que aparece como o avô falecido de Pryor. O resto é puro clima de Sessão da Tarde de quinta-feira.

Os Simpsons - O Filme (David Silverman, 2007) 6/10

Vozes: Dan Castellaneta, Julie Kavner, Nancy Cartwright, Yeardley Smith, Harry Shearer

Praticamente um estabelecimento dentro da cultura mundial (sim, mundial), a família Simpson desfruta de uma popularidade invejável para uma série animada, dada a sua longevidade e a antecipação dos fãs com relação ao tão aguardado longa-metragem. A má notícia é que, com exceção de umas piadas esparsas, o filme falha naquilo que mais interessa quando o assunto é comédia, animação ou não: fazer a platéia rir. O melhor do estilo que marcou os episódios da TV não encontra muito lugar na trama que eleva a imbecilidade de Homer Simpson à milésima potência, fazendo-o adotar um porco de estimação e provocar um desastre ambiental que transforma toda a cidade de Springfield numa área sitiada. Apesar do carisma dos personagens, a sensação que fica ao final é de puro desapontamento pelo potencial desperdiçado. As melhores cenas são aquelas presentes nos trailers e, claro, a hilariante seqüência do porco-aranha.

Espíritos 2 - Você Nunca Está Sozinho (Parkpoom Wongpoom e Banjong Pisanthanakun, 2007) 6/10

Com: Masha Wattanapanich, Vittaya Wasukraipaisan, Ratchanoo Bunchootwong, Namo Tongkumnerd

A dupla de diretores de nomes quilométricos e quase impronunciáveis responsável pela surpresa que foi o primeiro Espíritos volta com mais um conto de fantasmas, cujo título em português tenta capitalizar em cima do sucesso do primeiro filme tratando o segundo como uma continuação, o que ele não é. Nem precisava, apesar do nível de eficiência diminuir um pouco desta vez. Quando a mãe da heroína sofre um derrame, ela decide retornar à sua cidade acompanhada do namorado para ficar ao seu lado. Algo sinistro, porém, vem à tona em sua vida, pois ela começa a presenciar visões de sua irmã gêmea siamesa, falecida durante a operação que as separou anos atrás. A idéia bacana se perde numa primeira metade carente de objetivo e coalhada de sustos fáceis, mas a coisa melhora bastante depois que a história sofre a sua mais importante reviravolta. O requinte macabro reservado para o final é a cereja no topo do bolo que torna o filme digno de uma conferida.

A Dama na Água (M. Night Shyamalan, 2006) 8/10

Com: Paul Giamatti, Bryce Dallas Howard, Bob Balaban, Jeffrey Wright, M. Night Shyamalan

A Dama na Água parece, acima de tudo, um jogo de extremos. A história é extremamente simples e, em contrapartida, conta com uma técnica cinematográfica de primeira linha. O potencial de entretenimento é, à primeira vista, praticamente nulo, mas é virtualmente impossível desgrudar os olhos da tela até o final do filme. Este evoca a fé – sem meandros religiosos, por favor – utilizando um mosaico de personagens de contornos icônico-metafóricos com bom humor e críticas nem tão subliminares quanto se poderia imaginar.

É uma pena que a obra tenha sido execrada e considerada como um trabalho medíocre de M. Night Shyamalan por muita gente, o que não é verdade (seu filme mais fraco é Sinais, que está bem longe de ser medíocre). Acima de tudo, A Dama na Água possui uma enorme capacidade de crescer aos olhos do espectador após eventuais revisões.

Divagações postadas por Kollision entre 29 e 31 de Agosto de 2007