Cinema

Sin City

Sin City
Título original: Sin City
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 124 min.
Gênero: Policial
Diretor: Robert Rodriguez (Planeta Terror), Frank Miller, Quentin Tarantino (À Prova de Morte)
Trilha Sonora: John Debney (A Volta do Todo Poderoso), Graeme Revell (A Névoa), Robert Rodriguez (Kill Bill - Vol. 2)
Elenco: Bruce Willis, Mickey Rourke, Clive Owen, Jessica Alba, Nick Stahl, Rosario Dawson, Benicio Del Toro, Brittany Murphy, Elijah Wood, Jaime King, Powers Boothe, Alexis Bledel, Rutger Hauer, Devon Aoki, Michael Clarke Duncan, Carla Gugino, Michael Madsen, Josh Hartnett, Marley Shelton, Frank Miller
Distribuidora do DVD: Buena Vista
Avaliação: 7/10

Revisto em DVD em 27-DEZ-2008, Sábado

Ainda me lembro do hype em torno do lançamento nos cinemas de Sin City, o filme, a adaptação de HQs mais fiel da história do cinema, pelo menos visualmente. E ainda que esta revisão tenha reafirmado tal qualidade visual, é preciso admitir que o hype não se estende também aos outros departamentos técnicos. Desta vez achei, por exemplo, que a narração em off é algo que precisava ser um pouco mais trabalhado ou enxugado, especialmente no episódio protagonizado por Marv (Mickey Rourke), onde ela soa excessiva e chega a atrapalhar a assimilação das imagens concebidas como pinturas. Falando nelas, fica difícil criticar os fãs de Frank Miller que se deliciaram com o modo como o material original foi transposto, que estabeleceu com ferro e fogo o padrão para outras obras que viriam em seu rastro – com 300 sendo o maior exemplo disso. Considerando todas as suas falhas narrativas e estética direcionada (o espetáculo visual pode não ser para todos os gostos), o que realmente atrai o espectador médio para o filme é seu elenco estelar, que reúne um punhado dos astros que mais estavam em evidência em 2005. Mas eu não perdôo Jessica Alba, seja pelo fato dela ser a mais deslocada das atrizes em cena ou por ela ter se recusado a personificar sua contra-parte em papel como ela fôra concebida: dançando de topless num dos inferninhos de Sin City. Puxa, se ela tivesse topado fazer isso eu até perdoaria sua fraca performance dramática!

O único extra que vem no DVD é um making-of rasteiro de 8 minutos, além dos trailers de Horror em Amityville, De Repente é Amor, Hora de Voltar e A Vida Marinha com Steve Zissou, exibidos quando o disco é inicializado.

Texto postado por Kollision em 10/Abril/2005 -

Para os fãs de HQs, Frank Miller é simplesmente um dos pilares desta arte, um homem que revolucionou personagens (Demolidor, Batman, Elektra) e estabeleceu um padrão estilístico raramente igualado por outros profissionais da área. Uma de suas maiores criações, escrita e desenhada pelo próprio em histórias carregadas de violência, é simplesmente conhecida como Sin City, ou a 'Cidade do Pecado'. Nesta cidade, ninguém é inocente o bastante e ninguém está completamente seguro. Conhecido por elaborar HQs com uma forte característica cinemática, a transposição de alguma de suas obras para o cinema era um sonho velado de muitos fãs, que finalmente toma forma no fantástico filme co-dirigido pelo próprio e por Robert Rodriguez, com uma participação cavalheira de Quentin Tarantino.

Os personagens da história habitam uma cidade fictícia chamada Basin City (algo como a Gotham City do Batman). Eles se dispersam em três contos independentes escolhidos a partir das várias graphic novels produzidas por Miller, delimitados no início e no final por trechos extraídos de uma quarta história. Os três contos principais acompanham o obstinado policial Hartigan (Bruce Willis), o bad boy cheio de cicatrizes Marv (Mickey Rourke) e o desgarrado Dwight (Clive Owen). Vários personagens secundários aparecem em mais de uma história, o que ajuda a ambientar todas as narrativas na mesma localidade, apesar de cada uma delas ter um tom distinto, sempre ditado pela narrativa em primeira pessoa do personagem principal em questão.

Antes de mais nada, e sem mencionar qualquer coisa sobre o elenco ou a história em si, é preciso enfatizar que Sin City é um filme fortemente calcado no aspecto visual, cujo resultado é simplesmente impressionante. Filmado em preto e branco e totalmente com tecnologia digital de alta definição, a saga destes personagens unidimensionais é puro deleite quando o assunto é enquadramento de cenas, estilo visual e caracterização extrema de personagens. Os créditos de abertura são uma ode à HQ e a música que acompanha a seqüência por si só constrói uma absurda sensação de antecipação que se dilui aos poucos, notadamente à medida que a narrativa em off começa a soar exagerada e a cruzada de um dos personagens (o Dwight de Clive Owen) parece rodar em círculos. Talvez percebendo que esta pudesse ser a reação da platéia, Rodriguez dividiu o conto de Bruce Willis em duas partes e jogou sua conclusão para o final, pois é aqui que a combinação 'vingança-paixão-dever' encontra sua melhor representação.

Detalhes coloridos são colocados como elementos especiais ao longo do filme. O vermelho do sangue salta aos olhos logo na primeira vez em que jorra, e depois de algum tempo a sensação que fica é que toda a escatologia de Kill Bill foi apenas um ensaio, se comparado ao show que é mostrado em Sin City. O amálgama de gente famosa e talentosa no elenco é outro fator marcante, até mesmo nas menores participações. As mulheres estão no geral estonteantes, mas Brittany Murphy e Rosario Dawson têm mais presença cênica que suas companheiras de set. Mickey Rourke está irreconhecível sob a maquiagem, Willis e Owen não derrapam, e Nick Stahl confirma seu tino para o papel de vilões como o famigerado Yellow Bastard, uma coisa realmente esquisita para quem nunca colocou os olhos na HQ e está vendo o personagem pela primeira vez no filme.

A qualidade da adaptação da HQ é tão eficiente que praticamente força o espectador a esquecer as falhas da história. Ironicamente, elas também são herdadas do material original. As motivações dos personagens são clássicas (vingança, paixão, dinheiro) e limitadas, a resistência física dos fortões beira o ridículo e há passagens onde o roteiro não faz questão nenhuma de ser mais específico. O descartável policial de Michael Madsen, por exemplo, é o maior anacronismo da história, já que nada muito claro é dito acerca de sua relação com o parceiro Bruce Willis. Mesmo assim, a mistura de apuro técnico, efeitos especiais, tiros e sangue faz com que Sin City entre para a galeria de filmes onde a ousadia visual mais do compensa esta e outras infantilidades derivadas da arte em papel.