Cinema

2001: Uma Odisséia no Espaço

2001: Uma Odisséia no Espaço
Título original: 2001: A Space Odissey
Ano: 1968
País: Estados Unidos, Inglaterra
Duração: 148 min.
Gênero: Ficção Científica
Diretor: Stanley Kubrick (Lolita, Laranja Mecânica, De Olhos Bem Fechados)
Trilha Sonora: Aram Khachaturyan, György Ligeti, Richard Strauss, Johann Strauß
Elenco: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester, Daniel Richter, Leonard Rossiter, Margaret Tyzack, Robert Beatty, Sean Sullivan, Douglas Rain, Alan Gifford, Ann Gillis, Vivian Kubrick
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 10

Naquele que é o maior filme sério de ficção científica de todos os tempos, boa parte do que é exibido em suas mais de duas horas de duração representa um desafio à mente e aos sentidos raramente encontrado dentro da arte conhecida como cinema. Stanley Kubrick estava simplesmente muitos anos à frente de seu tempo quando lançou esta obra-prima, escrita pelo próprio em parceria com o renomado autor Arthur C. Clarke. Como todo bom filme de ficção científica que se preze, 2001 consiste numa visão particular sobre um futuro próximo, sem no entanto se ater somente à conquista espacial em si, como sugere seu título. Há mais, muito mais a ser descoberto através da história e das imagens deste filme.

Stanley Kubrick não mediu esforços para compor o triunfo visual que viria a ser agraciado com o Oscar de efeitos especiais, elevando o padrão técnico do gênero e estabelecendo uma nova era para o cinema de ficção científica. O filme representou uma espécie de ruptura em relação às obras anteriores do cineasta, e espantosamente parece ter antecipado muito do que eventualmente viria a existir, em termos de conceito visual, na tecnologia espacial futura. 2001 levaria a crer, por exemplo, que a chegada do homem à lua, marco na história da humanidade ocorrido um ano após o lançamento do filme, era apenas o primeiro passo de uma provável linha temporal que poderia convergir (ou não) para algo próximo da narrativa mostrada no trabalho de Kubrick. Que, por sinal, mesmo esnobado por toda a crítica da época, veio com o tempo a ser devidamente reconhecido como a obra-prima que é.

O cerne da história é a viagem da espaçonave Discovery, no ano de 2001, em direção à imensidão de Júpiter, tripulada pelos astronautas Dave Bowman (Keir Dullea), Frank Poole (Gary Lockwood) e mais três cientistas que iniciam a missão em animação suspensa. Para compreender a importância desta jornada espacial e o porquê do supercomputador HAL 9000 (voz de Douglas Rain) ser um dos personagens principais da trama, Kubrick apresenta previamente duas ocasiões em que um misterioso monolito negro interferiu no curso da humanidade. A primeira delas é uma incursão na vida primitiva do homem, a "aurora da humanidade", por assim dizer. A segunda é o estopim para que, em 2001, o homem ouse mais uma vez ir além dos limites de seu próprio conhecimento em busca da solução para um mistério que ultrapassa os limites de nossa própria existência. Seria o fato de não estarmos sozinhos no universo finalmente uma constatação concreta?

Definir a sucessão de imagens deste filme como um "balé espacial" não só é extremamente adequado, como sintetiza um dos motivos que levaram o cinema a ser criado, no final do século XIX: a idéia de que esta forma de arte não passa, na realidade, de uma sucessão de imagens fotográficas que devem passar a idéia de movimento. O filme é escasso em diálogos porque Kubrick, assim como todo grande mestre de sua arte, sabe reconhecer a importância de uma imagem e sua precedência sobre as palavras. A opção pela música clássica veio somente na sala de edição, mesmo após Alex North (Spartacus) ter composto uma trilha sonora para o filme, já que o diretor decidiu manter no corte final as composições clássicas que usara para proporcionar o clima desejado nos sets.

Muito provavelmente, as idéias que esta película procura instigar e as mensagens que ela tenta entregar só serão assimiladas após a segunda ou a terceira sessões do filme. A cadência é lenta, mas o respeito com que o assunto é abordado é admirável, sem contar a excepcional fidelidade às leis da física espacial. O importante é ter em mente que, com uma platéia no estado de espírito correto, 2001 consegue ser um espetáculo hipnotizante. As metáforas, os significados e as verdades de uma jornada coletiva que se inicia há milhões de anos e se projeta com a grandiosidade de um mundo em expansão estão lá para cada um captar a sua, num desfecho surreal que deixa mais perguntas que respostas. É tal desafio indelével que mantém este filme mais atual do que nunca, e faz dele simplesmente a produção máxima dentro de seu respectivo gênero.

O trailer da produção é o único extra presente no DVD da Warner.

Texto postado por Kollision em 6/Fevereiro/2006