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Filmes Vistos em Abril - Parte 1

Gnomeu e Julieta (Kelly Asbury, 2011) 6/10

Vozes: James McAvoy, Emily Blunt, Jason Statham, Ashley Jensen, Jim Cummings

Refazer o clássico de Shakespeare Romeu e Julieta em animação não é exatamente a mais original das ideias. No entanto, transformar todos os personagens em anões de jardim e dar à interação entre humanos e anões a mesma dinâmica criada por Toy Story já pode ser classificado como o adicional que o projeto precisava para ir adiante. Gnomeu (voz original de James McAvoy) é o campeão do jardim dos anões azuis, enquanto Julieta (voz original de Emily Blunt) é a filha do rei do jardim dos anões vermelhos. Azuis e vermelhos vivem em eterna luta, mas isso não impedirá que Romeu e Julieta se apaixonem e provoquem a maior revolução já vista entre dois jardins britânicos do subúrbio. A animação, que possui nível técnico bastante competente, é complementada por uma trilha sonora recheada de canções de Elton John (que até mesmo dá uma palhinha de forma animada). O resultado funciona como diversão passageira, mas não há nada capaz de realmente tirar o filme do lugar-comum. As referências a Shakespeare e a outros filmes são inúmeras, e para mim os trechos mais bacanas são a disputa entre o casal para ver quem fica com a orquídea e as várias sequências que envolvem o super cortador de grama Terrafirminator. Parabéns para a dublagem brasileira por manter as letras originais das músicas, fica a minha curiosidade por não poder ter ouvido as vozes originais do elenco britânico.

Garotas Malvadas (Marcos Siega, 2005) 7/10

Com: Evan Rachel Wood, Elisabeth Harnois, Adi Schnall, Ron Livingston, James Woods

Kimberly (Evan Rachel Wood) é uma garota inteligente, bonita e manipuladora, que imediatamente traz para debaixo de sua asa uma imigrante árabe (Adi Schnall) que acaba de chegar à sua escola. A rotina de Kimberly se divide entre sua família disfuncional e uma ou outra estripulia sexual, quase sempre compartilhada com a melhor amiga (Elisabeth Harnois). Unidas, as circunstâncias acabam fazendo com que as três garotas decidam entrar com uma acusação de assédio sexual contra um de seus professores (Ron Livingston), o que descamba numa situação que ganha cada vez mais espaço na mídia. Garotas Malvadas é espertinho, no sentido de que o longa tenta justificar as várias atitudes de seus personagens no intuito de eximi-los de julgamento, sem no entanto deixar de plantar várias sementinhas de discórdia. O paralelo com a vida real, portanto, é bem estabelecido. E apesar da eventual subversão dos papeis de poder no polêmico assunto do abuso contra menores de idade ser um pouco forçada, não dá para dizer que ela não é plausível. Atenção para a participação espetacular de James Woods no papel do pai da protagonista, algo plenamente digno de um Oscar de coadjuvante.

Dona Flor e Seus Dois Maridos (Bruno Barreto, 1976) 3/10

Com: Sonia Braga, José Wilker, Mauro Mendonça, Dinorah Brillanti, Nelson Xavier

Dona Flor e Seus Dois Maridos, baseado em obra de Jorge Amado, é historicamente um dos maiores sucessos do cinema brasileiro de todos os tempos. Foi isso o que me levou a vê-lo, mas infelizmente tenho que dizer que a fama é excessiva para um filme tão comum e, hoje, terrivelmente datado. Comédias correm o risco de envelhecerem mais facilmente que dramas, e isso é agravado no caso da história de dona Florípedes (Sonia Braga), que carece de uma representação mais fluida para o senso de humor engessado do roteiro. Devastada após a morte súbita do marido incorrivigelmente bêbado, mulherengo e viciado em jogo (José Wilker), ela finalmente acredita ter encontrado um porto seguro no austero e sistemático dono da farmácia (Mauro Mendonça). O problema é que este último é um completo banana, ou seja, exatamente o oposto do primeiro. O potencial era virtualmente inesgotável, mas as situações mostradas são conduzidas de modo formulaico e sem qualquer senso de coesão narrativa, resultando numa caracterização debilóide para ambos os homens da trama. José Wilker é irritante e nunca consegue inspirar a empatia esperada, enquanto Mauro Mendonça protagoniza um tipo que provavelmente o marcou como um bosta pelo resto da carreira. As risadas são praticamente inexistentes, e a voluptuosidade de Sônia Braga não chega a incendiar a tela porque a câmera de Bruno Barreto não deixa. Uma decepção.

Sucker Punch - Mundo Surreal (Zack Snyder, 2011) 6/10

Com: Emily Browning, Abbie Cornish, Jena Malone, Vanessa Hudgens, Jamie Chung

Se há algo que soa natural diante do nível de sofisticação dos efeitos especiais atualmente vigentes em Hollywood é a ideia de que qualquer mundo pode ser criado, independente de sua complexidade. Sucker Punch vai de encontro a essa constatação ao apresentar uma série de abstrações extremas, disfarçadas sob a forma de delírios surreais que se passam na mente de uma adolescente aprisionada num sanatório (Emily Browning). Colocada lá após passar por uma tragédia familiar e escapar da violência do padrasto, ela se isola em sua mente sempre que se depara com uma situação desafiadora em particular. Em sua imaginação, a moça habita mundos fantásticos e enfrenta perigos inimagináveis. Inicialmente sozinha, ela passa a contar mais tarde com a ajuda das amigas para executar um enigmático plano de fuga. O visual de sonho é acachapante em seu esmero técnico, enquanto a substância narrativa que lhe dá liga se dilui em sequências cujo tom enigmático procura se justificar no desfecho ousado do ponto de vista psicológico. O resultado é a esperada indagação sobre o que é ou não é real, e quem estaria de fato no controle das várias camadas mostradas na história. Mesmo sendo difícil evitar a sensação de vazio deixada pelas historietas aparentemente sem relação alguma entre si, quem gosta de filmes estranhos não tem do que reclamar. E o elenco feminino é um bônus que só mesmo anti-fetichistas e gente mal-amada têm peito para criticar.

Navio Fantasma (Steve Beck, 2002) 5/10

Com: Julianna Margulies, Gabriel Byrne, Desmond Harrington, Ron Eldard, Karl Urban

Renovar a imagem clássica do conceito do navio fantasma era a missão da produtora de aluguel Dark Castle neste horror irregular. O filme coloca uma trupe de experientes exploradores (para não dizer piratas da era moderna) à procura de um enorme navio que está à deriva e não consegue ser detectado muito bem por nenhum instrumento marítimo. Nele há, teoricamente, um tesouro incalculável, mas para obtê-lo eles terão que lidar com uma série de aparições do além que não só assombram como colocam todos em perigo. Independente de qualquer mérito presumido de Navio Fantasma, é indiscutível que sua cena de abertura é uma das mais impressionantes do cinema de horror moderno, e talvez seja por isso que o filme em si soe tão comum. Afinal, nenhuma outra cena é capaz de provocar impacto semelhante durante o restante da projeção. Outros fatores complicadores são a introdução atrapalhada da história e um ou outro membro do elenco que não inspira empatia alguma (Gabriel Byrne, por exemplo, que não está nada bem como o líder do bando). Atenção para Emily Browning como a garotinha fantasma, num de seus primeiros papéis no cinema.

Esposa de Mentirinha (Dennis Dugan, 2011) 7/10

Com: Adam Sandler, Jennifer Aniston, Brooklyn Decker, Nick Swardson, Nicole Kidman

Force a barra um pouco e estereotipe alguns personagens (não todos), e ancore tudo num ator cujo tipo comum é conhecido a léguas de distância. Na fórmula básica utilizada em Esposa de Mentirinha há também algumas outras surpresas, em especial a muito comentada atuação cômica de Nicole Kidman. Apesar do título brasileiro idiota, o filme tem ótimos momentos e rende boas risadas. Adam Sandler é um rico cirurgião plástico e solteirão convicto que passou toda a vida dando o golpe do anel de casado para conquistar mulheres, até o dia em que conhece uma sílfide de 23 aninhos (Brooklyn Decker). Uma série de merdas faz com que ela acredite que ele é casado, e para manter a aura de certinho o cara arma um circo envolvendo uma colega de trabalho (Jennifer Aniston), seus dois filhos e um amigo (Nick Swardson). A favor do filme estão as piadas e referências que fluem num ritmo mais acelerado que o normal (muitas se perdem na dublagem, cuidado), a diminuição da presença cênica de Sandler e uma maior visibilidade dos coadjuvantes. A garotinha que faz a filha de Aniston (Bailee Madison) é um achado, e rouba a cena sempre que pode.

Necronomicon - O Livro Proibido dos Mortos (Brian Yuzna, Christophe Gans e Shusuke Kaneko, 2002) 4/10

Com: Jeffrey Combs, Richard Lynch, David Warner, Signy Coleman, Bruce Payne

Na tradição dos famosos Contos da Cripta e de filmes menos conhecidos como Creepshow, esse Necronomicon reúne três contos fantásticos do escritor H. P. Lovecraft, que na pele do ator cult Herbert West aparece à procura do tal livro proibido dos mortos. No primeiro conto, que lembra muito a ambientação de A Casa do Espanto, um escritor revive a maldição de um antepassado que perdeu a família num acidente trágico no mar. A segunda história envolve um médico sinistro e recluso (David Warner) que prolonga a própria vida usando um método nada saudável para seus vizinhos. E o terceiro episódio aposta no exagero para mostrar o terrível destino de dois policiais que se vêm às voltas com criaturas alienígenas sedentas de sangue. A história que mais gostei foi a segunda, dirigida pelo japonês Shusuke Kaneko, que realmente captura uma aura macabra que não é nem enfadonha como no primeiro conto e nem extrapola no gore para tentar se manter interessante, como no episódio derradeiro. Os efeitos especiais são fracos, mas o ótimo trabalho de maquiagem garante momentos gloriosos com muito sangue e criaturas em decomposição.

La Noche de los Asesinos (Jesus Franco, 1976) 3/10

Com: Alberto Dalbés, Antonio Mayans, Lina Romay, Vicente Roca, Dan van Husen

A.K.A. Night of the Skull — Quem diria, eis aqui um giallo tradicional feito por Jesus Franco. Num análise rasteira, nem dá pra perceber que ele é o homem por trás da história do lorde assassinado cujos parentes e amigos se reúnem como urubus sobre a carniça para ver quem vai ficar com a herança. Enquanto isso, todos começam a morrer um a um, assassinados por um estranho que usa uma máscara de caveira (daí o título em inglês Night of the Skull). O problema é que, em determinado ponto, fica claro que há mais de um assassino em ação. Além da abordagem excessivamente convencional, a previsibilidade do roteiro é o que mais decepciona no filme, que sofre também com o excesso de personagens e as consequentes caracterizações deficientes. Ainda bem novinha, Lina Romay aparece como a filha bastarda do ricaço assassinado. O nível de nudez e lascívia do filme, no entanto, é praticamente nulo. Um detalhe interessante é que quase todas as mortes são mostradas de relance durante os créditos de abertura, dando uma ideia do que está por vir. Fraco, La Noche de los Asesinos é indicado mesmo somente para fanáticos de Franco.

Texto postado por Edward em 16 de Abril de 2011