Esquadrão Classe A (Joe Carnahan, 2010)
Com: Liam Neeson, Bradley Cooper, Quinton Jackson, Sharlto Copley, Jessica Biel
Eu confesso que, apesar de ter crescido na década de 80, foi somente bem tarde que acabei conhecendo o seriado Esquadrão Classe A, que na época era exibido pelo SBT. Do pouco que vi, no entanto, eu gostei. A transição do material para o cinema no formato de uma refilmagem demorou quase 30 anos mas saiu, e o que mais surpreende é o fato do filme não subverter o conceito original com as idiotices exageradas dos pastiches de ação de hoje em dia, tendo até mesmo aquele jeitão de longa dos anos 80. Os quatro personagens que compõem o tal esquadrão são os mesmos: o líder e mentor Hannibal (Liam Neeson), o durão B.A. (Quinton Jackson), o arruaceiro metido a garanhão "Cara-de-pau" (Bradley Cooper) e o piloto com um parafuso a menos Murdock (Sharlto Copley, alçando vôo na carreira depois do início inesperado com Distrito 9). A história acompanha a origem do grupo dentro do exército norte-americano, a sua prisão/expulsão e mais tarde o posterior retorno para que eles possam limpar o nome. Em seu encalço está a agente do FBI feita por Jessica Biel, interesse amoroso de um dos mercenários. Bastante movimentado e com ótimo astral, o roteiro obviamente faz concessões malucas para que os planos mirabolantes do grupo sempre dêem certo, por mais que pareça que eles estão na mais absoluta merda. Com exceção do ator que faz o novo B.A. todos fazem o dever de casa direitinho, e é interessante notar como o sex appeal de Jessica Biel foi tolhido completamente. Em geral o filme agrada, sendo daqueles que praticamente pedem por uma sequência.
Os Crimes do Museu (Michael Curtiz, 1933)
Com: Lionel Atwill, Glenda Farrell, Fay Wray, Gavin Gordon, Allen Vincent
O terror cinematográfico na década de 30 foi dominado por Drácula, Frankenstein e também pela múmia. No entanto, saindo desta redoma sagrada de monstros é possível encontrar muitos outros trabalhos interessantes dentro do gênero, como este Os Crimes do Museu, um longa que trilha um caminho mais calcado no suspense e que no futuro teria sua ideia básica refilmada duas vezes (Museu de Cera em 1953 e A Casa de Cera em 2005), estes sim com maior ênfase no horror propriamente dito. Depois de ver seus trabalhos de cera serem consumidos por um incêndio criminoso em Londres, exímio escultor (Lionel Atwill) se instala nem Nova York e reabre sua exposição depois de recompor as obras perdidas. A perfeição de seus trabalhos desperta a suspeita de uma repórter enxerida (Glenda Farrell) que investiga a recente morte de uma atriz famosa, enquanto os olhos do escultor recaem sobre a bela amiga da moça (Fay Wray). Por um lado, o filme é inocente ao tratar do modus operandi do assassino, mas ganha pontos ao manter o mistério sobre o homem deformado, discorrer abertamente sobre o vício em drogas de um dos personagens da trama (antes da censura impôr suas garras na indústria) e apresentar uma figura feminina forte, apesar de um pouco irritante, na jornalista de Glenda Farrell. Ela é, em todos os sentidos, a precursora de futuras personagens de língua afiada do tipo Lois Lane. Como curiosidade, Os Crimes do Museu foi um dos poucos filmes feitos com a tecnologia technicolor em duas cores (2-strip), um dos primeiros métodos utilizados no cinema para obter a fotografia colorida em película.
No Brasil, Os Crimes do Museu aparece como um extra no DVD de Museu de Cera, distribuído pela Warner.
Pânico na Neve (Adam Green, 2010)
Com: Shawn Ashmore, Emma Bell, Kevin Zegers, Ed Ackerman, Rileah Vanderbilt
Dentro da série de suspenses minimalistas da mesma estirpe de Mar Aberto, Pânico na Neve se sobressai como um dos melhores exemplares recentemente realizados. Sem muita frescura, a história mostra o drama de três amigos que acabam isolados no teleférico de uma estação de esqui a vários metros de altura, sem qualquer chance de obter ajuda pois a estação foi fechada e só reabrirá dali a cinco dias. A premissa é simples, porém plausível, e o mérito maior do filme é manter essa plausibilidade durante a maior parte do tempo, sem recorrer a saídas milagrosas para o desespero enfrentado pelos jovens. O roteiro tem um ritmo que evita o marasmo devido às limitações espaciais da história, e o elenco bem escalado trasmite a sensação de crescente terror com inesperada competência. Irônico mesmo é o fato do protagonista dessa pequena tragédia na neve ser Shawn Ashmore, o Homem de Gelo da série X-Men. Que falta fazem os poderes mutantes às vezes, não é mesmo? E nunca custa lembrar algo que este filme transmite com uma eficiência assustadora:
NORMAS DE SEGURANÇA EXISTEM PARA SEREM CUMPRIDAS.
Nunca se esqueçam disso.
Toy Story 3 (Lee Unkrich, 2010)
Vozes: Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Michael Keaton
Desenhos para mim eram (e ainda são em grande parte) algo que está em último lugar na minha lista de prioridades cinéfilas. Desde o primeiro filme eu nunca me preocupei em dar alguma chance à série Toy Story. Brinquedinhos coloridos, coisas fofinhas e uma atmosfera infantil demais? "Tô fora" era a minha única reação. É por isso que a minha experiência assistindo a Toy Story 3 foi a de um completo neófito, cujo único conhecimento prévio sobre os personagens era o de que o protagonista cowboy era dublado por Tom Hanks. E não é que eu gostei da história? Ela gira em torno da partida do agora adolescente Andy, que precisa se mudar para ir à faculdade. Largados há anos, seus brinquedos entram em desespero por não saberem se vão para o lixão ou para o sótão, mas o destino faz com que eles acabem indo parar numa creche dominada por um urso de pelúcia que está mais para lobo em pele de cordeiro (voz original de Ned Beatty). Inicialmente isolado, Woody (Hanks) precisa socorrer os amigos e levá-los de volta para casa. Confesso que a ideia de que os brinquedos convivem numa realidade à parte quando estão fora dos olhos humanos é uma sacada simplesmente genial. Se alguém tivesse me explicado como as coisas eram talvez eu tivesse visto os filmes anteriores. Toy Story 3 é divertido (os efeitos em 3D não são exagerados) e carregado de suspense, com várias parábolas inocentes que discorrem sobre o bem e o mal. Ele só peca um pouco pela inocência e melosidade excessivas do desfecho.
Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador (Lasse Hallström, 1993)
Com: Johnny Depp, Leonardo DiCaprio, Juliette Lewis, Darlene Cates, Mary Steenburgen
Fracasso injusto de bilheteria e de crítica na época de seu lançamento, este filme facilmente subestimável é com certeza um dos melhores trabalhos do sueco Lasse Hallström. Gilbert Grape (Johnny Depp) mora numa cidadezinha onde nada acontece, e segue a vida soterrado pela responsabilidade de cuidar da família. Além das duas irmãs e da mãe morbidamente obesa, sua principal ocupação durante todo o dia é olhar pelo irmão deficiente Arnie (Leonardo DiCaprio). Sua visão de mundo começa a mudar com a chegada de Becky (Juliette Lewis), que está apenas de passagem e prestes a seguir viagem. O retrato da cidade pequena, das rotinas da sua população e da submissão de Gilbert diante de uma realidade que não irá mudar nunca é de uma eficiência digna de nota. Calado e introspectivo, tudo sobre ele é espelhado naqueles que o rodeiam, da família aos personagens coadjuvantes (todos muito bem caracterizados, num elenco que reúne nomes de peso como John C. Reilly, Mary Steenburgen e Crispin Glover). Envolvente, enaltecedor e ao mesmo tempo extremamente triste, este é o tipo de drama obrigatório para quem não deixa passar uma história bem contada. O filme é bastante lembrado pela performance extraordinária de Leonardo DiCaprio, que muitos, eu incluso, consideram a melhor de sua carreira. Não é à toa que ele foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante, tendo perdido injustamente. Outra indicação que não teria sido nada má é a de Darlene Cates como atriz coadjuvante - é uma pena que ela não tenha deslanchado na carreira de atriz, já que não existem muitos papéis disponíveis para alguém de tão elevada massa corporal.
Museu de Cera (André De Toth, 1953)
Com: Vincent Price, Phyllis Kirk, Paul Picerni, Frank Lovejoy, Nedrick Young
Vinte anos depois de ser levada às telas de cinema, a história do museu de cera onde pessoas de verdade são exibidas comos e fossem obras de arte ganhou uma refilmagem que hoje é notória por ser o cartão de entrada de Vincent Price dentro do gênero que se tornaria sua marca registrada. Já passando dos 40 anos, aqui ele encarna o papel do escultor que vê suas obras de figuras de cera serem consumidas por um incêndio, retornando algum tempo depois com uma nova e hiperrealista exibição de gala. Tal qual o original de 1933, sua loucura torna-se alvo da suspeita de uma moça enxerida (Phyllis Kirk). Como refilmagem, Museu de Cera perde para o material que o inspirou por seguir praticamente o mesmo molde narrativo sem acrescentar nenhum diferencial no que diz respeito às situações e personagens. A única exceção é Vincent Price, que por ter se mostrado tão à vontade no papel acabaria se especializando em fazer filmes de horror nos anos seguintes. Interessante notar como é exacerbado o aspecto de fantasma da ópera com corcunda de Notre-Dame dado ao malfeitor misterioso que assombra a mocinha da história. O filme teve a honra de ser a primeira produção em 3D feita e exibida por um grande estúdio, mas a maior curiosidade de todas é a presença de Charles Bronson no papel do ajudante mudo de Vincent Price.
Divagações postadas por Edward de 30-JUN a 2-JUL de 2010