Cinema

Mar Aberto

Mar Aberto
Título original: Open Water
Ano: 2003
País: Estados Unidos
Duração: 79 min.
Gênero: Suspense
Diretor: Chris Kentis (A Casa Silenciosa)
Trilha Sonora: Graeme Revell (Com as Próprias Mãos, A Batalha de Riddick, Assalto à 13ª DP)
Elenco: Blanchard Ryan, Daniel Travis, Saul Stein, Estelle Lau, Michael E. Williamson, Cristina Zenarro, John Charles
Avaliação: 5

Os filmes sobre pessoas superando obstáculos virtualmente intransponíveis e vencendo impossíveis adversidades são quase um gênero à parte dentro do cinema. Vão desde a superação pessoal até situações de perigo ou desesperança, que tentam, muitas vezes mais de forma psicológica que plástica, mostrar as reações das pessoas a condições extremas. Vide, por exemplo, a saga dos sobreviventes dos Andes, que foram obrigados a se tornarem canibais e comer os próprios companheiros para sobreviverem. Ou o Amargo Pesadelo de John Boorman, que colocava quatro amigos à mercê de todo tipo de ameaça humana e natural numa selva traiçoeira. Ou ainda, mais recentemente, o desespero dos estudantes perdidos na floresta de A Bruxa de Blair.

Quanto mais complicada a premissa, maior é o leque de possibilidades de que o filme dispõe. No caso de Mar Aberto, escrito, produzido e dirigido por Chris Kentis, ela é a mais simples possível. Um casal em férias decide sair para mergulhar com um grupo em alto mar. Lá, por desatenção dos cicerones e instrutores, eles acabam sendo esquecidos na contagem final e são deixados para trás. Ao voltarem à tona, estão completamente sozinhos, perdidos e à mercê do tempo e dos tubarões que passam por eles de cinco em cinco minutos.

Baseado em fatos reais, Mar Aberto é um exercício de estilo que não perde tempo com detalhes paralelos. O filme joga seus protagonistas na situação de suas vidas, sendo eles os únicos atores cinematograficamente retratados como personagens da história. Todas as outras cenas são tratadas com um olhar documental, desde o embarque inicial até o momento em que, ao final, esboça-se um fio de esperança. A estratégia do filme é clara: habituar a platéia ao duo central nos primeiros minutos, fazer com que passemos a nos importar com eles e a seguir forçar-nos a acompanhar seu desespero crescente em alto mar.

Curtinho e de custo irrisório para os padrões hollywoodianos, o filme caiu na graça de alguns críticos e rendeu muito bem nos cinemas do exterior. A dupla de atores é o principal trunfo da película, representando o imediatismo e o desespero de uma situação extrema de forma convincente. A sombra de Tubarão, de Spielberg, paira sobre toda a obra, pois os bichos de mandíbulas afiadas são o principal vilão da história, além da irresponsabilidade humana em si. O conflito psicológico atinge seu ápice quando, à medida que o pior lado da natureza humana começa a tomar posse dos protagonistas, as acusações surgem como farpas afiadas em pleno oceano. Como as cenas em alto-mar não se desviam da dupla em quase nenhum momento, a sensação de desolação está sempre presente, numa clara tentativa de realçar o realismo da situação.

Até que ponto a história toca e comove depende verdadeiramente de cada um. Porém, ao final, a impressão que fica é que toda a idéia foi muito rasa para um longa-metragem de quase uma hora e meia de duração. Há, definitivamente, alguns bons momentos de tensão, que no entanto se diluem num caldo que poderia ser bem, bem mais enxuto. A maneira realista como tudo é mostrado parece de certa forma anunciar o final corajoso que se aproxima, e é engraçado como mesmo assim a platéia anseia por uma reviravolta que a faça sair da sessão com um sorriso no rosto. Alguns sairão de qualquer forma, outros não.

Um continuação foi feita dois anos depois, sob o nome de Pânico em Alto Mar.

Texto postado por Kollision em 24/Setembro/2004