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Filmes Vistos em Março - Parte 1

Premonição 4 (David R. Ellis, 2009) 4/10

Com: Bobby Campo, Shantel VanSanten, Haley Webb, Nick Zano, Mykelti Williamson

Provavelmente o maior acerto dos produtores em Premonição 4 foi enfatizar que este é, de fato, o último filme da franquia (como visto pelo título original, The Final Destination). Da história sem surpresas à falta de criatividade num punhado de mortes, é evidente que a fórmula se esgotou. O grande acidente que inicia a onda de premonições do protagonista (Bobby Campo) acontece desta vez numa pista de corrida. E dá-lhe a habitual série de mortes estapafúrdias, acompanhadas por uma quantidade maior que o habitual de aberrações no roteiro. Para compensar e pelo menos para garantir a diversão de quem não dispensa um terror barato, o nível de gore é decente, e a opção de se assistir ao filme em 3D acrescenta uma dimensão adicional à experiência - não foi o meu caso, a versão 3D só saiu com cópias dubladas por aqui. Uma das coisas que notei desta vez (e que provavelmente acontecia nos demais filmes mas eu não dava muita bola) é que a galera vai morrendo e ninguém é enterrado, nenhuma cerimônia fúnebre acontece. Parece que ninguém ali tem família ou que os amigos não dão a mínima pro pessoal que está batendo as botas! No mais, o nível de cansaço da série é bem exemplificado pela morte idiota de um dos principais sobreviventes, causada por um simples e absurdo atropelamento. E ainda por cima por uma ambulância. Já chega, né?

Colinas de Sangue (Dave Parker, 2009) 7/10

Com: Tad Hilgenbrink, Sophie Monk, Alex Wyndham, Janet Montgomery, William Sadler

Segundo a história de Colinas de Sangue, havia um diretor doido que no início dos anos 80 já fazia um torture porn de colocar Jogos Mortais no chinelo. Seu filme, no entanto, teria sido banido, e toda a equipe tragada pela terra. Nos dias atuais, um empolgado estudante de cinema (Tad Hilgenbrink) convence a namorada e o melhor amigo a irem atrás da obra perdida, assim que consegue localizar a filha gostosa (Sophie Monk) do diretor falecido. Obviamente, o que eles encontram pela frente não é nada do que esperam. Derivativo de séries clássicas como O Massacre da Serra Elétrica e Sexta-feira 13, com ecos contemporâneos óbvios de material como O Albergue e a releitura Viagem Maldita, este filme lançado diretamente no mercado caseiro pode ter as falhas de sempre, mas é pelo menos sincero naquilo que pretende. Tem violência, tem mulher pelada e tem um quê de bizarro que só aumenta à medida em que o filme prossegue. Gostei bastante da caracterização do maníaco, em especial do momento sublime em que ele quebra um paradigma praticamente universal sobre a sua classe (quando ele está prestes a cometer um estupro). Se um trabalho assim consegue me fazer proferir um "K-ralho!" tão sincero, porque não elogiá-lo publicamente? Pois é, Colinas de Sangue é definitivamente recomendado para todos os que curtem as obras que mencionei mais acima.

O Mestre dos Desejos 2 (Jack Sholder, 1999) 5/10

Com: Holly Fields, Andrew Divoff, Paul Johansson, Oleg Vidov, Bokeem Woodbine

O Mestre dos Desejos 2 está mais para uma releitura do que uma continuação do primeiro filme da série. Não há qualquer relação espaço-temporal com os eventos anteriores, e a única coisa em comum entre um longa e outro é a caracterização sinistra de Andrew Divoff como o djinn demoníaco. Nesta nova trama ele é despertado por uma ladra (Holly Fields) durante um assalto frustrado a um museu. Enquanto a moça cai em remorso por ter perdido o namorado no tiroteio e por ter matado um homem, o mestre dos desejos inicia sua campanha dentro de uma cadeia para conceder 1001 pedidos em troca de almas, possibilitando ao final que ele colete os três desejos de sua libertadora e abra um portal para sua dimensão. É claro que os desejos das pessoas são bizarramente deturpados pelo monstro, que encontra um inimigo adicional num padre (Paul Johansson) que aparece para ajudar a moça em apuros e um "amigo" num malandro presidiário russo (Oleg Vidov). Jack Sholder é visivelmente melhor diretor que Robert Kurtzmann, mas o cara é infelizmente tolhido por um roteiro truncado e cheio de contradições. É evidente, no entanto, que Divoff se diverte à beça no papel do monstro, proporcionando pelos menos um ou dois momentos impagáveis de humor negro que certamente valem a sessão.

A Bolha (Irvin S. Yeaworth Jr., 1958) 1/10

Com: Steve McQueen, Aneta Corsaut, Earl Rowe, Alden Chase, John Benson

Fama A Bolha tem. É um dos mais lembrados longas de horror da década de 50, uma época prolífica em pastiches sobre monstros e criaturas oriundas do espaço sideral. O grande problema ou, aliás, a grande verdade sobre essa primeira versão da história é que a fama nesse caso não passa de um chamariz para um dos filmes mais infelizes e toscos do gênero. Steve McQueen é a curiosidade maior, já que ele lidera o elenco como um jovem que se esforça para avisar a população de uma cidadezinha sobre uma bolha disforme que veio do espaço e está consumindo as pessoas. Os únicos que acreditam nele são a namorada (Aneta Corsaut), um policial boa-praça (Earl Rowe) e uns amigos próximos. O que causa espanto no filme nem é tanto o punhado de diálogos infelizes ou a completa falta de carisma de alguns atores, mas sim a pobreza generalizada da produção, que força personagens a reagirem de forma estúpida às situações e a "descreverem" a bolha como um triste meio de compensar a falta de recursos. Graças à direção inepta e sem noção, a suspensão de descrença e o suspense não existem nem em um nível mínimo de diversão trash, algo que até mesmo os filmes de Ed Wood jamais deixaram de proporcionar. A Bolha, como uma palhaçada construída sobre uma gelatina de framboesa gigantesca, não passa de uma enganação muito, mas muito ruim.

Sangue Demoníaco (Stan Winston, 1988) 6/10

Com: Lance Henriksen, Jeff East, John D'Aquino, Kimberly Ross, Brian Bremer

Já consagrado como um dos mestres em efeitos especiais, inclusive com um Oscar por seu trabalho em Aliens - O Resgate, Stan Winston arriscou-se como diretor neste horror atmosférico de títulos nacionais bastante ingratos (o outro existente é A Vingança do Diabo). O filme corresponde na verdade ao primeiro capítulo da saga de Pumpkinhead - uma criatura bestial invocada a partir de um cemitério ladeado por uma plantação de abóboras. A gênese do monstro vem do desespero de um pai (Lance Henriksen) que perde o filho pequeno devido à imprudência de um grupo de adolescentes irresponsáveis. Inconformado com a situação, o cara recorre ao auxílio de uma bruxa decrépita, fazendo um pacto de sangue para que o monstro empreenda a vingança que ele acredita ser devida. Ao contrário do que se pode pensar a partir do título bobo, Sangue Demoníaco/Pumpkinhead possui um bom clima macabro, valorizado pelas locações inóspitas, pela fotografia sempre sombria e principalmente pelo tema opressivo da vingança sobrenatural, calcado na amargura transmitida pelo personagem de Lance Henriksen. Hoje o impacto obviamente não é mais o mesmo, mas o filme re recusa a perder o charme típico das mais interessantes produções oitentistas. O que me marcou em especial foi o modo como Pumpkinhead, a criatura, dá cabo de suas vítimas: ao contrário dos assassinos de sempre, ele gosta de maltratá-las por algum tempo antes de matar, arrastando-as pela cabeça ou pelas pernas e usando-as como objetos de tortura dos que ainda não caíram em suas garras. Pode ser bobo, mas não deixa de ser bastante original - e divertido.

Ilha do Medo (Martin Scorsese, 2010) 8/10

Com: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Michelle Williams, Max von Sydow

Assistir a um novo filme de Martin Scorsese é um evento. Geralmente, a ambição que emana de seus filmes é maior quando ele retrata os gêneros que mais associados ao seu trabalho, como nos longas sobre máfia urbana ou de contexto histórico. Por isso é tão fácil subestimar Ilha do Medo, ou mesmo considerá-lo um trabalho menor em sua filmografia, principalmente quando se põe na mesa o atraso pelo qual passou o filme até que ele fosse lançado nos cinemas. Na década de 50, Leonardo DiCaprio é um detetive do governo responsável por investigar o estranho desaparecimento de uma interna numa prisão de segurança máxima para infratores de alta periculosidade. Juntamente com o parceiro (Mark Ruffalo), ele envereda por uma espiral psicológica enquanto tenta romper os empecilhos colocados pelo diretor da prisão (Ben Kingsley) e por aparentemente todos que lá trabalham, ao mesmo tempo em que se esforça para descobrir algo de cunho mais pessoal. O processo que o roteiro emprega para subverter a situação do protagonista soa mais ou menos como descascar uma cebola. O ardor nos olhos pode ser comparado à desorientação que tanto personagem quanto plateia passam durante o processo. Ilha do Medo é marcado por trechos de forte impacto cênico, especialmente nas sequências de flashback ou sonho, e não dá nenhuma resposta fácil aos questionamentos feitos na história. O elenco é de encher os olhos, e a experiência é um dos thrillers psicológicos mais interessantes dos últimos anos. Agora só falta Scorsese dirigir um terror de verdade para que sua carreira fique completa.

Vivendo e Aprendendo (Noam Murro, 2008) 7/10

Com: Dennis Quaid, Sarah Jessica Parker, Thomas Haden Church, Ellen Page, Ashton Holmes

Professor de literatura viúvo e amargurado (Dennis Quaid) leva uma vida vazia, com alunos e colegas que o odeiam. Seu distanciamento emocional se estende também aos filhos, em especial a adolescente (Ellen Page) que é tão inteligente quanto alienada socialmente. A rotina de ambos é afetada profundamente quando o professor sofre um acidente e vai parar sob os cuidados de uma ex-aluna que agora é médica (Sarah Jessica Parker), tendo ainda que conviver com a chegada repentina do irmão adotivo e folgado (Thomas Haden Church). Famílias desestruturadas e filmes associados à parte, este aqui é deveras simpático, cativando com diálogos afiados e carregados de ironia, protagonizados por personagens mais mundanos que o habitual. Ellen Page é veterana em fazer papéis do tipo bonitinha e espertinha, e faz um contraponto tanto engraçado quanto incômodo em relação a Haden Church. O roteiro acerta em não apelar para devaneios emotivos e em não exagerar na caracterização estereotipada, caindo naquela categoria às vezes tão marginalizada de comédias dramáticas onde os protagonistas podem mudar para melhor (se conseguem ou não já é outra história). Simpático, Vivendo e Aprendendo é perfeito para uma sessão despreocupada, daquelas que te fazem se sentir melhor assim que o filme acaba.

Divagações postadas por Edward de 12 a 16 de Março de 2010