O Curioso Caso de Benjamin Button (David Fincher, 2008)
Com: Brad Pitt, Cate Blanchett, Jason Flemyng, Tilda Swinton, Taraji P. Henson, Julia Ormond
Quando a estrutura de um filme é montada de acordo com a perspectiva de um único personagem, o nível de envolvimento da plateia tende a ser maior. Talvez seja por isto, e pelo enfoque fantástico, que este trabalho funcione tão bem. Colocar-se ou identificar-se na pele de outra pessoa (ou personagem) é algo singular no caso de Banjamin Button, um homem que envelhece ao contrário. Imagine ter os desejos de um garoto no corpo de um velho que mal pode andar. Ou as amarguras e decepções de toda uma vida num corpo adolescente de 15 anos. OK, na vida real é até possível encontrar casos isolados de idades mentais alteradas, mas nada como o que aparece aqui.
Você sabe que está diante de um grande filme quando ele tem a capacidade inata de nos fazer olhar o mundo de uma forma ligeiramente diferente. Eis aí um belo (ainda que melancólico), conciso (ainda que longo) e admirável longa-metragem.
Matadores de Vampiras Lésbicas (Phil Claydon, 2009)
Com: James Corden, Mathew Horne, MyAnna Buring, Paul McGann, Silvia Colloca
Filmes como este não existem mais, e quando são lançados muita gente já vai partindo pra chacota sem sentido. O título, obviamente, implora pela tiração de sarro, mas nem por isso o filme precisa ser pisoteado como uma lixeira total. Puxa, tem gente por aí que nunca ssistiu a um filme de vampiros feito à moda antiga, com créditos de abertura sinistros e exagerados! Feito com baixíssimo orçamento (o que é disfarçado com extrema engenhosidade), Matadores de Vampiras Lésbicas não quer ser nada além de engraçado, com algum sangue aqui e ali e um punhado de mulheres bonitas. De história o que se tem é dois amigos passeando pelo interior da Inglaterra e encontrando pelo caminho um vilarejo onde as moças viram vampiras assim que completam 18 anos, como consequência de uma maldição jogada por Carmilla, a rainha dos vampiros. O gorducho Mathew Horne é quem praticamente coloca o filme em movimento, proporcionando 100% das risadas. O lado ruim é que do meio para o final o longa patina na cartilha formulaica e numa triste falta de criatividade - a luta derradeira com a vampirona é uma decepção só. Além disso, somos agraciados com uma cena de abertura bem desinibida e depois enganados durante o resto do filme, já que a nudez praticamente some do script. Uma pena, pois um pouco mais de esforço teria rendido um exemplar razoável de entretenimento vampírico.
Jogos Mortais V (David Hackl, 2008)
Com: Tobin Bell, Costas Mandylor, Scott Patterson, Betsy Russell, Julie Benz
Seria bom começar a fazer um timeline próprio para a série Jogos Mortais, que já se tornou uma mini-novela anual que continua firme e forte desde 2004. Nem importa tanto que o protagonista da série tenha morrido no meio do caminho, já que ele continua a aparecer e ganhar top billing em todos os capítulos. Como eu havia notado antes, acho que Jogos Mortais V tenta manter uma história um pouco mais simples em relação ao anterior, trazendo como principal atrativo a estranha relação existente entre o detetive Hoffman (Costas Mandylor) e o assassino Jigsaw (Tobin Bell). Além desta linha narrativa, as demais que aparecem de alguma forma no quinto filme são: as vítimas das armadilhas da vez, a busca do agente Strahm (Scott Patterson) pela verdade e a enigmática presença de Jill, a viúva do assassino, colhendo os espólios ainda mais enigmáticos do morto.
Que diabos virá a seguir? Nem preciso dizer aos que não viram que é desperdício ver sem antes pôr os olhos nos filmes anteriores, né?
Garota Infernal (Karyn Kusama, 2009)
Com: Amanda Seyfried, Megan Fox, Johnny Simmons, Adam Brody, J.K. Simmons
Estive pensando em motivos para não gostar deste filme, mas encontrei poucos. A gente se sente estranho quando algo com esta temática agrada tanto, mas não tem jeito: Garota Infernal é bom, divertido, e o que é melhor: macabro. Um terror adolescente macabro, algo que nem de perto é sinalizado pelo trailer "sitcomizado". A estrela da história é a adolescente Needy (Amanda Seyfried), uma moça normal e bem-resolvida que tem como melhor amiga Jennifer (Megan Fox), a gostosona da escola que só pensa em farra e sexo. Algo muito errado acontece com esta última depois que elas se envolvem num acidente maluco, e a garota passa a literalmente comer os jovens que chegam perto dela. Agradou-me em particular a atuação do elenco, que dá vida a caracterizações ótimas de personagens. A diretora Karyn Kusama acerta a mão ao aproveitar o contraste entre beleza e sangue envolvendo a Jennifer de Megan Fox, e a protagonista Seyfried é ótima, assim como o cara que faz o namorado pego no fogo cruzado. E talvez este seja o primeiro filme em que vejo o almofadinha Adam Brody fazer algo decente. Elogios vão também para a trilha sonora e para o roteiro que, apesar de simples, contém muitas referências, críticas ao universo do entretenimento e boas doses de humor negro - cortesia de Diablo Cody, a ex-stripper que foi alçada à fama da noite para o dia com pelo superstimado Juno. Se a fenomenal cena lésbica entre Amanda Seyfried e Megan Fox é mérito dela ou de Kusama eu não sei, mas que este trecho põe no chinelo toda a engambelação de Matadores de Vampiras Lésbicas isso põe!
Sexta-feira 13 - Parte V: Um Novo Começo (Danny Steinmann, 1985)
Com: John Shepherd, Melanie Kinnaman, Shavar Ross, Richard Young, Richard Lineback
Jason estava bem morto depois do tal Capítulo Final. Isso foi um erro muito grande para os produtores, que não poderiam deixar de faturar mais em cima do personagem. Daí a existência deste "novo começo", infelizmente um dos piores exemplares de toda a série. Tommy (John Shepherd, péssimo) cresceu traumatizado devido aos eventos trágicos da história anterior, e é enviado a uma instituição psiquiátrica de verão para tratamento. Neste sanatório nada convencional, os pacientes circulam livremente pela área e têm acesso a machados! Depois que um dos lunáticos comete um assassinato, Jason retorna milagrosamente para matar a torto e a direito com os típicos requintes de crueldade que lhe são peculiares. Num roteiro sem noção que tenta ser sério mas é cômico sem se entregar à comédia, quem mais se sobressai num grupo de gente extremamente antipática é uma miniatura de Eddie Murphy. Percebe-se que a bagunça é maior que o normal porque várias vítimas aparecem subitamente mortas sem explicação (Jason é muito rápido e ninja), e o mais impressionante é que em meio à mediocridade geral ainda há espaço para uma pretensiosa reviravolta final. As atuações são uma vergonha, assim como a direção relaxada e sem inspiração - vindo de filmar pornôs softcore, o diretor Steinmann nunca mais faria outro trabalho na vida. A única coisa que se salva e é completamente desperdiçada é a ótima trilha sonora de Harry Manfredini. Indicado somente para os fanáticos da série, Um Novo Começo não passa de uma ponte sem brilho entre a fase clássica e a fase sobrenatural de Sexta-feira 13, que continua no consideravelmente melhor Jason Vive, realizado no ano seguinte.
Delírio Assassino (Vin Crease, 2005)
Com: Cheryl Dent, Vin Crease, Michele Morrow, Heather Justine Thomas, Ryan Rogoff
Delírio Assassino começa de forma até promissora. Logo de cara somos avisados que trata-se de um filme perdido da década de 70, "recuperado" muitos anos depois do diretor enlouquecer e matar o produtor. A introdução granulada e amarelada apresenta Jennifer (Cheryl Dent), atriz pornô que enlouquece durante uma de suas cenas e quase mata seu companheiro de cena anão após ter uma visão maluca. Ela sai do sanatório e se recusa a voltar para casa, juntando-se a uma trupe de hippies liderada por um sósia paralítico de Ben Affleck (Vin Crease). Aos poucos, o que parecia interessante se dilui numa série de bobagens sem propósito, onde alguns personagens são jogados na tela para sumir sem explicação logo a seguir, enquanto outros saracoteiam de forma irritante o tempo todo. Às vezes o filme parece um slasher, para logo depois ensaiar um lance bizarro e sobrenatural sem sentido algum. O maior indicativo de que tudo não passa de uma grande farsa fica claro na caracterização das duas gostosas da turma, que se vestem de maneira muito moderninha para o padrão das piriguetes dos anos 70. Perdida na história e sem o carisma necessário para carregar o filme, a protagonista Cheryl Dent é incapaz de inspirar empatia. Se pelo menos aquele personagem sinistro de cartola preta tivesse tido mais tempo em cena quem sabe o resultado desta palhaçada não fosse tão desprezível.
Depois do Ensaio (Ingmar Bergman, 1984)
Com: Erland Josephson, Lena Olin, Ingrid Thulin, Nadja Palmstjerna-Weiss, Bertil Guve
Henrik (Erland Josephson) é um diretor de teatro experiente e entediado com sua rotina diária. Após os ensaios das peças, ele fica sozinho no palco imerso em pensamentos e anotações de trabalho. Quando a jovem atriz Anna (Lena Olin) chega, os dois passam a conversar sobre o teatro e suas próprias e conturbadas vidas, revelando passagens onde o teatral se confunde com o real e vice-versa. A influência do passado sobre o presente fica evidente quando Henrik se lembra de seu relacionamento com a neurótica mãe da garota (Ingrid Thulin). Depois do Ensaio é o modo com que Bergman iniciou sua fase televisiva após dar adeus à tela grande com Fanny e Alexandre. Dado o histórico do diretor no cinema e no teatro, é um filme que carrega traços inconfundíveis de sua própria carreira, do modo como ele enxergava os palcos e de seus envolvimentos amorosos com as atrizes que atuavam sob sua direção. Todo o longa se passa num único cenário, da forma mais minimalista possível, com um enfoque 100% bergmaniano sobre os erros de pais e filhos e as consequências resultantes. Não chega nem perto de ser tão abrangente quanto as obras mais corpulentas do cineasta, já que parece reciclar sem profundidade tudo o que Bergman havia feito de bom nos trabalhos imediatamente anteriores, mas é uma amostra sempre válida dos talentos de Josephson, Lena Olin e Ingrid Thulin.
Divagações postadas por Edward de 15 a 22 de Novembro de 2009