Jogos Mortais VI (Kevin Greutert, 2009)
Com: Tobin Bell, Costas Mandylor, Betsy Russell, Mark Rolston, Peter Outerbridge
A longevidade da série Jogos Mortais cada vez mais me surpreende. Não em termos de sucesso crítico ou comercial, e sim em como os roteiristas são capazes de espremer a fórmula para extrair o suco necessário a cada novo capítulo que chega. Neste aqui o quebra-cabeças macabro continua a assombrar os personagens, e nem o dissimulado detetive Hoffman (Costas Mandylor) escapa da arapuca. Quem achou que ele ficaria por cima da carne seca após o desfecho de Jogos Mortais V se enganará feio, pois o cerco do FBI em torno de sua associação com o finado Jigsaw (Tobin Bell) o coloca num beco sem saída. E mesmo estando morto desde a terceira parte, é o próprio Jigsaw quem comanda as armadilhas mortais deste capítulo, graças aos tentáculos proporcionados por sua ex-esposa (Betsy Russell) e por Hoffman. Se por um lado sua vingança ganha contornos ainda mais pessoais do que quando ele perpetrou o seu primeiro crime (desta vez o assassino se volta contra a corporação de planos de saúde que ferrou seu tratamento), por outro o roteiro o obriga a quebrar a regra primordial que norteia o seu método de trabalho, aquela que dita que "todos merecem uma chance". Logo, podem ter certeza que alguns dos acorrentados da vez vão morrer sem qualquer chance de escapar. Seria esta a loucura de um homem maquiavelicamente senil ou o vísivel relaxo/esgotamento no aproveitamento da fórmula? É fácil relegar isso a segundo plano enquanto as mortes se sucedem na tela e outros personagens finados retornam em participações esclarecedoras, mas pelo menos esta é a segunda vez consecutiva em que o final me agradou. Ele abre possibilidades mais abrangentes para a inevitável continuação, que pode - ou não - finalmente se livrar da estrutura narrativa criada em 2004 e destilada ao longo dos altos e baixos de tantas sequências.
Crepúsculo (Catherine Hardwicke, 2008)
Com: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Billy Burke, Ashley Greene, Peter Facinelli
Revendo Crepúsculo, o romance adolescente com vampiros purpurinados, é fácil entender tanto a fascinação provocada em adolescentes (e alguns adultos também) quanto as falhas absurdas presentes no conto de fadas do filme. Talvez seja porque eu esteja ficando velho (oh my...) ou mesmo porque esteja mais experiente, não tenho certeza. Por um lado, o romance de Crepúsculo é o romance dos sonhos para qualquer garota que se identifique com Bella (Kristen Stewart) ou de qualquer moleque que quer ter super-poderes e se enxergue no vampiro bonzinho Edward (Robert Pattinson). Tirando o óbvio embelezamento de elenco e situações, no entanto, o que sobra na caracterização de personagens é gritantemente pobre. Bella, por exemplo, é uma mocinha sem qualquer diferencial em relação às outras. Não é mais inteligente, não tem aspirações, não vive nenhum grande momento em sua vida e nem é tão explicitamente atraente fisicamente (e eu gosto de Kristen Stewart, que fique claro). O que um vampiro - ou qualquer outro garoto - veria com tanto ardor nela? O seu aspecto taciturno, a dificuldade em sorrir e a afinidade no isolamento? Os defensores puristas dirão que ele não consegue ler a mente dela e blá-blá-blá. Já Edward é um vampiro que não se comporta como deveria, ou seja, age como se tivesse nascido na década passada ao invés de possuir décadas de "sofrida" experiência vampírica. E ele anda à luz do dia, o que praticamente mata a validade deste filme junto ao gênero com o qual o mito está associado. Será que o cinema e a literatura estão assim tão carentes de romances mais bem fundamentados?
Em tempo: a trilha sonora de Carter Burwell é bem boa. Catá-la-ei se tiver oportunidade no próximo sebo que visitar!
Crazy Love (Dominique Deruddere, 1987)
Com: Josse De Pauw, Amid Chakir, Geert Hunaerts, Michael Pas, Gene Bervoets
Pelo que pude perceber a partir de uma rápida pesquisa, Charles Bukowski foi um autor controverso e bastante cultuado. Um daqueles chatos de galocha que nunca foram muito com a cara de adaptações de suas obras, mas que aprovou de coração o trabalho do estreante Dominique Deruddere em Crazy Love, um drama dividido em três partes na qual somente a última é inteiramente baseada em Bukowski. Trata-se da história de Harry Voss, que na infância descobre a sexualidade, na adolescência precisa conviver com um caso extremo de acne e na vida adulta vive de bar em bar acabado na bebida. A narrativa é envolvente e o filme em si é de um estilo fascinante, dos movimentos de câmera à iluminação, que evolui da claridade abundante até uma névoa etérea que pontua o famoso e controverso desfecho. O elenco é ótimo, em especial Josse De Pauw, que interpreta Harry adolescente e adulto, e Geert Hunaerts, que faz o seu papel na infância. Engraçado, triste, trágico e por vezes imprevisivelmente sarcástico, este é um filme que merece ser mais conhecido não só por quem aprecia o cinema europeu, mas por todos que não deixam passar um trabalho poeticamente diferente.
Atividade Paranormal (Oren Peli, 2007)
Com: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Fredrichs, Ashley Palmer, Amber Armstrong
Todo mundo sabe que A Bruxa de Blair fez escola. Não sei porque Atividade Paranormal levou dois anos para ser lançado em solo brasileiro, mas este é o filme que praticamente se igualou àquele que o inspirou em termos de lucro recorde, custando 12.000 dólares e arrecadando, por exemplo, nada menos que 9 milhões na primeira semana em cartaz. Toda a história é vista através de uma câmera especial comprada por Micah (Micah Sloat) para registrar os eventos estranhos que sua namorada Katie (Katie Featherston) alega ocorrerem dentro de casa. À noite, a câmera é fixada diante da cama do casal, por dias seguidos, e a cada pequeno fenômeno registrado a sensação de desconforto deles aumenta. Não há trilha sonora, não há sangue e não há efeitos especiais mirabolantes. Na verdade, tudo é muito sutil e apoiado por uma edição de som respeitável. Existe o risco de monotonia quando a história se concentra demais no enquadramento estático das cenas noturnas, mas isso serve de boa antecipação para o estabelecimento do suspense, sempre construído de maneira minimalista, a conta-gotas. Eu achei interessante e, apesar do filme não ser nenhuma coisa do outro mundo, recomendo aos mais sensíveis cautela se forem assistir à noite, antes de dormir.
O Ataque das Formigas (Peter Manus, 2008)
Com: Kal Weber, Elizabeth Healey, Tom Wopat, Mark Ramsey, Jessica Reavis
Filme feito para a TV, com uma cena chocante logo de cara: bebê é comido vivo por milhares de formigas assassinas. Como não ter esperança no resto da história depois disso? O Ataque das Formigas continua de forma ligeiramente diferente do que se vê em pastiches do tipo, com o embate entre humanos e insetos correndo a todo vapor numa ilha asiática qualquer. O chefe da equipe norte-americana contratada para dar cabo dos bichos (Kal Weber) e seu braço direito (Tom Wopat, pagando as contas) são os primeiros a perceberem que existe algo maior acontecendo no lugar, algo que em determinado momento obriga o dono da ilha a vociferar com todas as letras "Eu não negocio com formigas". Sim, é isso mesmo que você leu. Negociar. Com formigas. Parece algo bestial mas, por incrível que pareça, é apenas uma das várias facetas que desviam da norma dentro do filme, que na maior parte do tempo se mostra divertido - e insanamente exagerado - para um trabalho feito para a TV. Os efeitos especiais nunca convencem (charme trash?), o protagonista às vezes soa como um clone de Keanu Reeves e certas baboseiras só mesmo um bom senso de humor suporta (como é que um ser humano não percebe que um inseto está dentro do seu ouvido o tempo todo?), mas é inegável que o filme, realizado em locações 100% tailandesas, tem lá seu charme obscuro. Fiquei fã de Jessica Reavis, a garota que manobra os computadores, e é uma pena que ela provavelmente nunca mais apareça em nenhum outro longa que eu venha a assistir.
Divagações postadas por Edward de 27 a 30 de Novembro de 2009