The Food of the Gods (Bert I. Gordon, 1976)
Com: Marjoe Gortner, Ralph Meeker, Pamela Franklin, Ida Lupino, Jon Cypher
Uma das marcas registradas do diretor Bert I. Gordon é o uso de criaturas que ganham proporções gigantescas, numa série de filmes malucos que fizeram a alegria de muita gente nas décadas de 60 e 70. O mote de The Food of the Gods é um mingau viscoso que brota da terra e é dado por uma fazendeira caipira (Ida Lupino) a vários animais de sua fazenda. Quando um jogador de futebol em passeio (Marjoe Gortner) chega e descobre que os bichos já começaram a fazer vítimas humanas, as coisas já podem ter ido longe demais. Os estereótipos ganham nova conotação com a chegada de um ambicioso empresário que deseja lucrar com o mingau (Ralph Meeker), mas são meio quebrados por sua bela secretária (Pamela Franklin). Adorei a cena em que ela diz ao protagonista o que está realmente pensando, enquanto ratazanas gigantes tentam devorá-los de todos os lados! Este é um dos pequenos exemplos onde este filme de orçamento ridículo consegue deixar ótima impressão. Outros são o trabalho bastante inventivo no departamento de maquiagem, já que os mandruvás vitaminados são realmente nojentos e alguns ataques de ratos têm ótimo nível de gore. Nem sempre os efeitos visuais de justaposição funcionam muito bem, mas há instâncias em que o uso de miniaturas rende imagens ótimas e antológicas. O filme é perfeito para aquela sessão de deboche e maravilhamento diante de algo que hoje não é mais possível ser feito com o mesmo charme de outrora. A cena em que Frangolino aparece é de rachar o bico - e eu adoro ratos!
X-Men Origens - Wolverine (Gavin Hood, 2009)
Com: Hugh Jackman, Liev Schreiber, Danny Huston, Lynn Collins, Taylor Kitsch
Desde que X-Men - O Filme viu a luz do dia, ficou mais do que evidente que o mutante mais famoso no cinema era Wolverine, a exemplo do que acontecia nas HQs. X-Men Origens - Wolverine é a culminação das expectativas de fãs e do que era uma tendência inevitável, mas será que o padrão estabelecido com inegável eficiência por Bryan Singer foi mantido?
Por muito tempo o passado de Wolverine/Logan (Hugh Jackman no cinema) foi mantido em segredo, até o dia em que a mini-série Origens foi lançada. É a partir desta obra que o filme é construído, sendo que ele pega ainda elementos do clássico Weapon X e parte do material revelado em histórias mais recentes. Para o público em geral isso pouco importa, obviamente. Só que fica muito difícil, pelo menos para mim, dissociar toda a imagem que tenho de anos lendo HQs com o que Gavin Hood e seus asseclas acabaram colocando na trama, principalmente em relação àquilo que é mostrado no desfecho do filme.
Após vermos de relance como Logan descobre ser mutante, ainda criança, acompanhamos um fast forward de suas aventuras ao lado do irmão Victor (Liev Schreiber), vulgo Dentes-de-Sabre. O restante do filme utiliza a relação entre os dois e a sua participação num time de agentes de elite reunidos pelo major William Stryker (Danny Huston, em papel que fôra de Brian Cox em X-Men 2). Como enchimento narrativo temos as presenças de personagens conhecidos como Wade Wilson/Deadpool (Ryan Reynolds), Gambit (Taylor Kitsch), Blob (Kevin Durand) e um jovem Ciclope (Tim Pocock). Todos eles estão bem representados, mas alguns mereciam um pouco mais de tempo em cena. Liev Schreiber, por sinal, está excelente como Dentes-de-Sabre, se equiparando muito bem e até mesmo roubando a cena de Hugh Jackman por breves instantes. Inexplicável mesmo é a escolha imbecil de algumas figuras mutantes sem qualquer relevância, como o Chris Bradley (quem?) feito pelo eterno hobbit Dominic Monaghan. A passagem que mostra a fuga de Wolverine do programa Arma X é mutilada de forma vergonhosa, mas a maior polêmica fica para o final, que deturpa um dos personagens mais bacanas das revistas e arrisca demais no nível de absurdo. Inserir uma ponte para ligar o filme com o primeiro longa feito por Bryan Singer pelo menos coloca a história nos trilhos, mas não dá para evitar o gostinho de decepção deixado por este X-Men Origens - Wolverine, o primeiro trabalho com os mutantes que fica abaixo do anterior em matéria de qualidade.
A Revolução dos Bichos (John Stephenson, 1999)
Com: Pete Postlethwaite, Alan Stanford, Caroline Gray, Gail Fitzpatrick, Jimmy Keogh
Vozes: Patrick Stewart, Julia Ormond, Kelsey Grammer, Ian Holm, Julia Louis-Dreyfus
Eu não li A Revolução dos Bichos, livro publicado por George Orwell em 1945 e rapidamente alçado a uma posição importante com o início da Guerra Fria. Esta produção feita para a TV é a primeira a utilizar atores de verdade com animais, ao exemplo do que foi feito com Babe, e adapta uma fantasia extremamente escapista com bom respaldo técnico. Certo dia, no rancho de um fazendeiro intragável e beberrão (Pete Postlethwaite), um porco tem uma revelação num sonho e convoca todos os animais a iniciarem uma revolução contra o homem e seus constantes maus-tratos. E assim tem início uma epopéia bizarra com metáforas nem sempre sutis contra o comunismo, a sociedade humana em geral e a hipocrisia das classes dominantes. A única voz da razão é a da cadela Jessie (voz de Julia Ormond), enquanto a vilania fica por conta do regente suíno Napoleão (voz de Patrick Stewart) e do fazendeiro mais avarento da região (Alan Stanford). As alegorias literárias não funcionam tão bem dentro da linguagem cinematográfica, e muitas passagens são extremamente mal elaboradas ou mal resolvidas. Apesar das boas intenções e da mensagem, o resultado é nada menos que um grande e quase insuportável desastre.
Anjos da Noite - A Rebelião (Patrick Tatopoulos, 2009)
Com: Michael Sheen, Bill Nighy, Rhona Mitra, Steven Mackintosh, Kevin Grevioux
Começar as coisas de trás para frente geralmente não dá certo. E mesmo quando dá certo fica difícil correlacionar a importância dada aos personagens em suas diferentes encarnações, como é o caso deste terceiro filme da série Anjos da Noite, cuja história se passa na Idade Média e revela um dos períodos decisivos na batalha secular entre vampiros e lobisomens. A mão de ferro do vampirão Viktor (Bill Nighy) começa a causar desconforto em seu protegido Lucian (Michael Sheen), o primeiro lycan que consegue reverter à forma humana após se transformar em lobo. Considerado um filho por Viktor mas tratado como escravo desde o nascimento, Lucian mantém um romance secreto com Sonya (Rhona Mitra), a filha de seu mestre. Quando a fortaleza dos vampiros passa a ser cercada de forma mais opressiva pelos lobisomens selvagens originais e a crueldade de Viktor ultrapassa todos os limites, Lucian inicia uma revolta que mudará para sempre o rumo da relação entre vampiros e lobisomens. Verdade seja dita, esta é uma boa prequel, que resgata e aproveita muito bem personagens previamente vistos, preservando o elenco e introduzindo nuances que reverberam com eficiência nos dois filmes anteriores (ou posteriores, cronologicamente falando). Os atores principais estão maravilhosamente caracterizados - Rhona Mitra não consegue ostentar a presença de Kate Beckinsale, mas isso ocorre em maior parte devido ao roteiro, que se concentra mais no embate ideológico e físico entre Viktor e Lucian. Um dos efeitos de se assistir a A Rebelião é a vontade danada que dá de pegar uma nova sessão do primeiro Anjos da Noite. Numa série que só tem melhorado com o passar do tempo, isso demonstra que ela tem bastante fôlego para mais e melhores filmes. De preferência com Kate de volta!
La Sorella di Ursula (Enzo Milioni, 1978)
Com: Barbara Magnolfi, Stefania D'Amario, Vanni Materassi, Marc Porel, Anna Zinnemann
A.K.A. The Sister of Ursula — Para um giallo erótico feito no ocaso da era de ouro do estilo, este filme até que tenta ousar um pouco. O principal diferencial fica por conta do modo como o assassino da vez dá cabo de suas vítimas. O cenário é um hotel costeiro para onde vão duas irmãs em férias que estão se recuperando de uma tragédia familiar recente. Ursula (Barbara Magnolfi) é anti-social e dada a chiliques histéricos, enquanto sua irmã (Stefania D'Amario) não vê nada de errado em se aproximar de outras pessoas, como o gerente do hotel (Vanni Materassi) ou um galã local (Marc Porel) que não larga do pé da namorada cantora. O mistério sobre quem está matando persiste até o final, mas o desfecho é previsível, e por qualquer lado que se olhe simplesmente ridículo. Não existe qualquer motivo para enfatizar a "irmã" do título, e a insistência em atribuir uma paranormalidade canhestra à tal Ursula é simplesmente vergonhosa de tão mal-feita. Pelo menos a boa carga de sexploitation mantém o interesse na história, verdadeiramente notória devido ao modus operandi do misterioso assassino.
Trovão Tropical (Ben Stiller, 2008)
Com: Ben Stiller, Robert Downey Jr., Jack Black, Jay Baruchel, Brandon T. Jackson
Já que os preços dos discos blu-ray ainda estão bem salgados e não dão sinal de que vão reduzir tão cedo, o jeito por enquanto é escolher muito bem com o que gastar nosso rico dinheirinho de cinéfilos doentes. Para estrear a minha coleção neste formato, era preciso escolher algo no mínimo decente em meio à bolha de filmes descartáveis que vêm sendo lançados, e o selecionado foi o ótimo Trovão Tropical, comédia protagonizada e dirigida por um Ben Stiller em ótima forma, devidamente acompanhado por um elenco coadjuvante de peso. Uma das coisas que mais se destacaram nesta revisão é Robert Downey Jr., que mostra-se um comediante nato e praticamente concentra o filme em si sempre que está em cena. Sinceramente, o cara deveria ter ganhado o Oscar de ator coadjuvante ao qual foi indicado sido indicado a um Oscar, nem que fosse para incentivá-lo a se dedicar mais a este gênero. No claro exemplo que é a bizarra participação de Tom Cruise, o longa transborda um senso de frescor e originalidade que merece ser reconhecido por quem acabou perdendo a sessão de cinema, uma vez que Trovão Tropical teve vida extremamente curta nas salas brazucas. E se você tem birra de Ben Stiller (já ouvi gente dizendo isso) dê o braço a torcer somente essa vez e se surpreenda.
Todas as Mulheres Fazem (Tinto Brass, 1992)
Com: Claudia Koll, Paolo Lanza, Ornella Marcucci, Isabella Deiana, Renzo Rinaldi
Diana (Claudia Koll) e o marido (Paolo Lanza) vivem um casamento harmonioso e pleno, mas ainda assim há algo nela que a inspira a se aventurar com estranhos, como ela mesma admite ao escrever uma carta logo no começo de Todas as Mulheres Fazem. O pastiche erótico que se sucede não vai revolucionar a vida ou a libido de ninguém, mas fica bastante claro - especialmente para quem já assistiu às outras obras similares de Tinto Brass - que este é provavelmente um de seus trabalhos mais decentes. A história evolui num ritmo razoável e só derrapa em seu trecho final, quando Brass não sabe muito bem o que fazer para resgatar seus personagens do abismo e recorre a saídas fáceis. A ideia geral no universo do diretor permanece inalterada: homens são criaturas imbecis e cornas e mulheres são as senhoras absolutas quando o assunto é desejo. Claudia Koll é fantástica e controla todas as atenções nos âmbitos erótico e cômico, sem dar chances às demais belezuras que desfilam de forma efêmera diante das câmeras do diretor italiano, que faz uma participação cafajeste como o "tio" que leva uma sobrinha para comprar lingerie.
Star Trek (J.J. Abrams, 2009)
Com: Chris Pine, Zachary Quinto, Eric Bana, Leonard Nimoy, Bruce Greenwood
J.J. Abrams é um diretor que trilha um caminho completamente acima da média no cinema, principalmente considerando a sua pouca quilometragem, e carimba um trabalho de peso em sua reinvenção para a série Jornada nas Estrelas. Trata-se, provavelmente, do reboot mais radical e bem engendrado para uma série regular, algo cujo escopo só encontra paralelo no universo das HQs - onde realidades e personagens são reinventados e "zerados" com frequência cada vez maior nos últimos anos. Como era de se esperar, existem dois riscos quando tal estratagema é levado a cabo. Um deles é impossível de ser evitado: a revolta de fãs doentes que simplesmente se recusam a aceitar uma nova cronologia para algo teoricamente sagrado. O outro risco é desapontar quem nunca foi fã ou jamais pôs os olhos no material original. Felizmente, esta última ameaça é sumariamente posta de lado por um filme pulsante, bem-humorado e sabiamente caracterizado, que consegue administrar todos os icônicos personagens a serviço de uma aventura digna dos melhores épicos de ficção científica, que na minha opinião se mostra bastante fiel ao estilo clássico de Jornada nas Estrelas (do pouco que conheço dele) ao mesmo tempo em que atualiza tecnologicamente toda a parafernália espacial sobre a qual a série é construída.
Em suma, você não precisa saber nada de antemão sobre a USS Enterprise ou seus tripulantes. Este novo Star Trek se concentra na relação inicialmente tempestuosa entre o humano James T. Kirk (Chris Pine) e o híbrido vulcano-humano Spock (Zachary Quinto), que no ano 2258 se alistam na frota estelar e se tornam alvos da misteriosa vingança do romulano Nero (Eric Bana). Como foco central e de ligação entre a velha e a nova geração está o antigo Spock (Leonard Nimoy), protagonista de um paradoxo espaço-temporal típico da série. Tirando a ausência sentida do tema clássico composto por Jerry Goldsmith e algumas poucas bobagens como o trecho que mostra uma peripécia imbecil e descartável do Kirk moleque, o filme tem potencial de sobra para agradar em cheio a fãs e não-fãs, estabelecendo um futuro extremamente promissor para uma das tripulações mais famosas da história da TV e do cinema.
Divagações postadas por Kollision de 15 a 21 de Maio de 2009