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Filmes Vistos em Fevereiro - Parte 1

A Adolescente (Luis Buñuel, 1960) 9/10

Com: Zachary Scott, Bernie Hamilton, Key Meersman, Crahan Denton, Claudio Brook

Numa ilhota completamente isolada vivem um capataz ignorante (Zachary Scott), uma adolescente (Key Meersman) e seu avô. Quando o velhote morre, os dois ficam completamente sós até a chegada de um negro fugitivo acusado de estupro (Bernie Hamilton). A garota serve como âncora dramática e espelho para a tensão que surge entre os dois homens, aprisionados a uma cultura de preconceito e intolerância e levados a extremos quando mais tarde mais pessoas chegam à ilha. Segundo trabalho de Luis Buñuel falado completamente em inglês (o primeiro foi o bom Robinson Crusoé), A Adolescente é uma pequena pérola que prima por uma caracterização perfeita de personagens, aliada a uma fotografia em preto-e-branco definitivamente inspirada. Todo o elenco está ótimo, mas o diretor foi muito feliz ao manter o personagem do capataz sobre uma linha cinza que mistura com maestria arrogância, sordidez e hombridade e ao alternar o modo como retrata sua jovem protagonista – ora como uma perigosa e irresistível lolita e ora como uma verdadeira criança. Este filme é um dos motivos onde fica evidente o paralelo temático que coloca Buñuel ao lado de Ingmar Bergman, já que A Fonte da Donzela foi produzido no mesmo ano e também tem como pivô do conflito uma bela jovem. Ambos são imersões de peso nos meandros mais sórdidos do comportamento humano, ainda que a visão do cineasta espanhol seja um pouco menos trágica.

Hora de Voltar (Zach Braff, 2004) 8/10

Com: Zach Braff, Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Ian Holm, Jean Smart

Zach Braff pode ter cara de palerma, mas essa sua estreia na direção de um longa-metragem não tem nada disso. Aqui ele atua, escreve e fica por trás das câmeras na história de um ator (ele mesmo) que retorna de Los Angeles à sua cidadezinha natal para comparecer ao funeral da mãe. Ele é obrigado a falar novamente com o pai (Ian Holm), que não via há anos, e se reúne a um velho amigo (Peter Sarsgaard) por alguns dias. Apático, ele só começa a sair do torpor em que se encontra quando conhece uma garota espevitada e mentirosa compulsiva (Natalie Portman). Misto de comédia e drama, este simpático filme tem várias nuances românticas e trágicas, demonstrando coragem em suas eventuais investidas bizarras, que a meu ver tentam retratar o descompasso entre o rapaz que deixou seu lar e não consegue mais reconhecê-lo depois de anos fora do ninho. Jamais vou enjoar de ver Natalie Portman em papéis assim, o que compensa a persona sempre esquisita e deslocada de Peter Sarsgaard, um ator que parece estar sempre chapado em qualquer papel que faça. Outro óbvio grande acerto do diretor novato está na escolha das músicas da trilha sonora, daquelas que te fazem querer comprar o CD no ato depois que o filme acaba.

La Momia Azteca contra el Robot Humano (Rafael Portillo, 1958) 2/10

Com: Ramón Gay, Luis Aceves Castañeda, Rosa Arenas, Crox Alvarado, Arturo Martínez

A.K.A. The Robot Vs. the Aztec Mummy — Fechando a trilogia mexicana da múmia azteca, eis que temos esta aberração fílmica que bagunça completamente o coreto ao enveredar por uma vertente de ficção científica que faria corar até mesmo o inigualável Ed Wood em sua espetacular (in)aptidão cinematográfica. Dando continuidade aos eventos de La Maldición da la Momia Azteca, ficamos sabendo que o maligno Dr. Krupp a.k.a. "El Murciélago" (Luis Aceves Castañeda) escapou da morte e mais uma vez ameaça a segurança do Dr. Almada (Ramón Gay) e de sua bela namorada (Rosa Arenas). O bandido continua com sua obsessão em obter o tesouro azteca, e para isso dá um jeito de inventar um robô mais que especial para exterminar a múmia de uma vez por todas.

Estejam avisados que o filme propriamente dito só começa depois de praticamente meia hora, um tempo gasto completamente com flashbacks de cenas dos filmes anteriores. E esse aqui tem pouco mais de uma hora de duração! Para piorar a situação, o roteiro é absolutamente estúpido, jogando fora qualquer resquício da lógica que os dois primeiros filmes ainda insistiam em seguir. O mascarado Ángel, por exemplo, nem dá as caras neste capítulo, que é agraciado com um dos robôs mais toscos já concebidos numa obra de cinema. Sabem o que isso significa? Que pelo menos como curiosidade cômica essa abominação vale alguma coisa.

Gli Invasori (Mario Bava, 1961) 6/10

Com: Cameron Mitchell, George Ardisson, Alice Kessler, Ellen Kessler, Andrea Checchi

A.K.A. Erik the Conqueror ou Fury of the Vikings — Obviamente, o italiano Mario Bava é muito mais conhecido pelos giallos elogiados que teceu ao longo da carreira. Esta aventura capa-e-espada é somente seu terceiro filme, e não sei se ele chegou a fazer outros com o mesmo estilo. "Os Invasores" seria a tradução mais coerente para o título original, e estes são ninguém menos que os Vikings, que invadem a Inglaterra em tempos imemoriais. Quando eles são expulsos de lá, dois irmãos são separados ainda crianças: Eron (Cameron Mitchell) consegue escapar com seu povo e cresce para ser o futuro líder dos Vikings, e Erik (George Ardisson) é calorosamente adotado pela rainha inglesa viúva (Françoise Christophe), crescendo para ser o líder de suas tropas. Filmado em technicolor berrante e contando com boas cenas de ação, o roteiro se apóia em tragédias familiares e amorosas para se manter movimentado, e vai muito bem até o derradeiro confronto entre irmãos. Depois deste ponto, infelizmente, tudo fica meio sem sentido e apressado. As gêmeas Kessler (Alice e Ellen) são belíssimas, sendo provavelmente a característica pela qual o filme mais pode ser lembrado. Gli Invasori é mais indicado para os fãs do gênero e de Mario Bava, mas pode agradar a qualquer público que não tenha muita expectativa.

Kaidan Hebi-onna (Nobuo Nakagawa, 1968) 4/10

Com: Sachiko Kuwahara, Seizaburô Kawazu, Yukie Kagawa, Kunio Murai, Chiaki Tsukioka

A.K.A. Snake Woman's Curse — Esta é mais uma história de fantasmas nipônica ambientada no Japão feudal do final do século 19. Não há muita ousadia dentro do drama da família que é maltratada e humilhada por um senhorio ganancioso e cruel (Seizaburô Kawazu). Depois que têm suas terras tomadas, o lavrador morre e mãe (Chiaki Tsukioka) e filha (Sachiko Kuwahara) são praticamente escravizadas para pagar as dívidas da família. Ambas vêm a sucumbir ao sofrimento, o que acabará trazendo desespero e loucura aos ricos senhores que as escravizaram. A tal maldição da serpente não tem tanta importãncia assim dentro do roteiro, que passaria sem problema algum como um pesado drama de conflito de classes se não fosse pela natureza sobrenatural das alucinações e aparições fantasmagóricas. Veterano dentro do gênero, o diretor Nobuo Nakagawa dirige aqui um de seus últimos filmes, e apesar do resultado abaixo da média e convencional demais – ou talvez simplesmente datado – conclama os aficcionados a conhecerem um pouco mais de sua obra, cujo período mais fértil compreende a década de 50. Por enquanto, o maior clássico japonês de histórias de fantasmas permanece sendo o belíssimo Kwaidan - As Quatro Faces do Medo (Masaki Kobayashi, 1964).

Gezora, Ganime, Kameba - Kessen! Nankai no Daikaijû (Ishirô Honda, 1970) 5/10

Com: Akira Kubo, Atsuko Takahashi, Kenji Sahara, Yoshio Tsuchiya, Noritake Saito

A.K.A. Space Amoeba ou Yog - Monster from Space — Concebido já no final da onda dos filmes kaiju (designação japonesa para os filmes de monstro), Space Amoeba (isso sim é um título, o resto é resto!) foi a última obra do gênero feita pelo experiente Ishirô Honda. Tudo começou, obviamente, com o lagartão vitaminado mais conhecido como Godzilla, que aparecia em praticamente 80% dos kaiju feitos no Japão. A tal ameba espacial é uma criatura disforme – na verdade uma estranha energia azul – que é trazida à terra por uma missão espacial que cai nas proximidades de uma ilha habitada por nativos selvagens. Para lá converge uma equipe de exploradores que deseja transformar a ilha num resort, mas seus planos são frustrados pelo surgimento de Gezora, uma lula gigante que aterroriza os habitantes locais. Um pouco mais tarde é a vez também de Ganime, um caranguejo gigante, e Kameba, uma espécie de tartaruga marinha cheia de espinhos (nem adianta tentar entender o processo pelo qual a turba de nativos resolve dar os nomes aos bichos anabolizados, que está além da minha compreensão). Podem acreditar, para quem gosta de clássicos trash o apelo e o charme de uma sinopse como essa é universal, ainda mais quando sabemos que o filme não é uma podreira total. Há um balanço razoável entre personagens e monstros (ainda que típico de coisas desta estirpe), a trilha sonora é ótima e o roteiro pelo menos tenta imbuir um pouco de lógica científica não muito estúpida dentro da história, que pode ser divertida quando se está no correto estado de espírito.

La Saga de los Drácula (León Klimovsky, 1972) 7/10

Com: Tina Sáinz, Tony Isbert, Narciso Ibáñez Menta, Helga Liné, María Kosty

A.K.A. The Dracula Saga — De vez em quando alguns filmes perdidos no meio do caldo surpreendem, e este La Saga dos Drácula é um perfeito exemplar desta teoria. Com atmosfera de filme da Hammer e excelente ambientação, esta descompromissada entrada na vertente vampírica apresenta um olhar estiloso e até mesmo original ao construir uma história cujo ponto de partida é ninguém menos que o primeiro de todos os vampiros: Vlad Tepes, o sanguinário imperador da Valáquia. O atual conde Drácula (Narciso Ibáñez Menta) vive isolado com sua decrépita família em um castelo nos Cárpatos. Para lá viaja sua neta grávida (Tina Sáinz) acompanhada do esposo (Tony Isbert), sendo que o bebê que ela leva no ventre representa a última chance que os Drácula têm de continuar sua linhagem maldita. A protagonista Tina Sáinz é meiga e provoca um contraste interessante com a crescente bizarrice que envolve o filme, à medida em que a rotina do sugadores de sangue é revelada ao público. Com uma caracterização ótima de atores, em especial do conde, a obra de León Klimovsky tem muito do que um bom filme de vampiros feito em sua época deve ter: clima, belas vampiras nuas e uma boa dose de sangue, com um toque surreal muito bem-vindo em sua reta final.

Quando até mesmo os personagens coadjuvantes são interessantes – e não estúpidos com na grande maioria dos casos – pode-se ter certeza de que tem-se em mãos uma boa obra de vampiros, daquelas que merecem ser conhecidas por mais gente. A dica está dada!

Buraco Negro (Tibor Takács, 2006) 1/10

Com: Judd Nelson, Kristy Swanson, David Selby, Heather Dawn, Jennifer Quackenbush

Produzido inicialmente para exibição no canal de TV Sci-Fi Channel, este épico do absurdo é mais uma das muitas "obras" de Tibor Takács, um dos mestres dos filmes podreira de baixo orçamento. Você tem um roteiro absurdo e não encontra quem tenha a coragem de dirigi-lo? Chamem Takács! Ele vai dirigir o seu filme do calango assassino, da torradeira homicida de ou qualquer outra coisa estapafúrdia em que ninguém mais quer pôr a mão! Este aqui pega carona no medo de que aceleradores de partículas gigantes (como o franco-suíço LHC) possam vir a criar buracos negros e colocar em risco a vida no planeta. Quando o fenômeno ocorre em St. Louis, ele é acompanhado pelo surgimento de uma criatura elétrica que pulveriza todos que encontra pelo caminho. As únicas pessoas que podem fazer algo e tentar impedir o desastre são dois cientistas (Judd Nelson e Kristy Swanson), mas o exército pode não ter a paciência para esperar por uma solução científica.

Não dava para depositar nenhuma esperança nisso, e ainda bem que não o fiz. Dos diálogos vergonhosos ao tratamento exponencialmente estúpido dado ao tema, Buraco Negro é uma grande asneira sem qualquer característica redentora que valha a pena ser mencionada. As atuações são tenebrosas de tão ruins, mas nem são boas atuações o que mais faz falta ao filme. O que ele precisava mesmo é de um roteirista decente e de um consultor técnico para manter o roteiro livre das sucessivas atrocidades que agridem o espectador. Segundo meu amigo Almeida, a ex-esposa do protagonista (Jennifer Quackenbush) e a secretária do presidente (Christa Campbell) definitivamente "tinham cara de atrizes pornôs"... Gostosuras elas são de fato, roubando a cena da veterana Kristy Swanson, e não é que ele estava certo pelo menos quanto a Christa Campbell? Vide uma série intitulada Erotic Confessions... É só por isso que essa coisa disforme não ganha nota zero: por ter dado a chance a uma atriz pornô de se endireitar dentro da indústria de filmes – aham – decentes. Ou não?

Sexta-feira 13 (Marcus Nispel, 2009) 3/10

Com: Jared Padalecki, Danielle Panabaker, Amanda Righetti, Travis Van Winkle, Aaron Yoo

Vindo de uma das melhores refilmagens já feitas recentemente (O Massacre da Serra Elétrica), o diretor Marcus Nispel era uma grande esperança de mais um trabalho decente na releitura do início da saga de Jason Voorhees. Isso não significa que eu tinha altas expectativas, mas não consigo deixar de pensar que o resultado deixou a desejar.

Pegando muito do que apareceu na primeira metade da série original, o roteiro deixa bem clara a origem do maníaco antes mesmo dos créditos iniciais: ele é o filho deformado/retardado de uma louca que matou os monitores do acampamento Crystal Lake em 1980, como vingança por eles o terem deixado se afogar. Dado como morto, Jason na realidade havia se refugiado na floresta. Já nos dias atuais, ele sai da toca para assassinar um grupo de adolescentes idiotas que chega perto do lago para foder e procurar uma plantação de maconha. Algumas semanas depois, um rapaz obstinado (Jared Padalecki) aparece na região à procura da irmã desaparecida (Amanda Righetti), uma das vítimas desta pequena matança de Jason.

Mulher pelada e matança com facões, machados e flechas – marca registrada dos filmes de Jason – aparecem com freqüência razoável ao longo do filme. O nível de gore está bem abaixo dos exemplares recentes do gênero, o que é uma surpresa, e a trilha sonora de Steve Jablonsky homenageia o trabalho clássico de Harry Manfredini enquanto mantém a adrenalina em alta. O maior problema, contudo, está na insistência do roteiro em ser estúpido. Não sei se isso foi proposital, mas nem os filmes antigos eram tão estúpidos assim. Alguns pontos: 1) o que diabos Jason ficou fazendo por quase 30 anos na floresta? 2) por que ele decidiu começar a matar somente depois de quase 30 anos escondido, quando obviamente muitos outros adolescentes idiotas se aventuraram em sua "área"? 3) sendo ele retardado, como é que ele aprendeu a ser eletricista e manter uma casamata subterrânea toda iluminada somente roubando querosene dos vizinhos e sem pagar conta de energia elétrica?

Além dessas incongruências que praticamente matam a credibilidade da história, as situações absurdas em que os adolescentes são colocados não colabora, como na derradeira cena do insuportável anfitrião da festa (que é a cara do Tom Cruise) com uma caminhonete que pára no meio da estrada. A cena que encerra o filme, também inspirada no original e cheia de boas intenções, infelizmente parece ter sido filmada por um retardado de tão mal feita.

Galera, não se deixem levar pelo hype e fiquem com os clássicos mesmo. São filmes ruins, mas são sinceros em sua ruindade e possuem uma simplicidade menos estúpida que este embuste esburacado.

Divagações postadas por Kollision de 11 a 16 de Fevereiro de 2009