O Albergue 2 (Eli Roth, 2007)
Com: Lauren German, Roger Bart, Bijou Phillips, Heather Matarazzo, Richard Burgi
Vou ser simples e direto: gostei mais de O Albergue 2 que do primeiro O Albergue. Isso se deve, provavelmente, ao descascamento da cebola em torno do mistério sobre a organização clandestina que trafica gente para satisfazer a fissura de assassinos disfarçados de gente normal. Não há nada excepcionalmente original nisso, mas gostei do modo como Eli Roth conduziu a seqüência, desde o fato de dar um desfecho à história do personagem Paxton (Jay Hernandez) até as homenagens explícitas a clássicos da cultura do horror cinematográfico (a mais notória sendo a assassina que emula a condessa "vampira" Elizabeth Bathory). A história gira em torno de três amigas que são atraídas ao albergue eslovaco que serve de amaciamento para o matadouro, enquanto dois executivos entediados se preparam para executar seus primeiros assassinatos. A nudez do elenco feminino é menor, mas o senso de humor desta vez é mais apurado e doentio (no bom sentido), a violência não é tão maior que no primeiro capítulo e as reviravoltas, apesar de simplistas, não são telegrafadas de forma óbvia. Uma pena que este filme nem tenha chegado às telas dos cinemas brasileiros, não podendo fazer o sucesso que merecia.
REC (Jaume Balagueró e Paco Plaza, 2007)
Com: Manuela Velasco, Ferran Terraza, Jorge Serrano, Pablo Rosso, David Vert
Tudo começou com o seminal A Bruxa de Blair (1999). O estilo de fimagem de câmera na mão em função de um trabalho de ficção pode ter tido vários altos e baixos de lá para cá, e não tenho pudor em dizer que o espanhol REC se enquadra na categoria dos altos. Trata-se de um filme de terror claustrofóbico que envolve um grupo de pessoas preso num prédio que, pouco a pouco, é infestado por zumbis brutalmente sanguinários. O início é morno e o longa demora a adquirir um ritmo razoável, mas quando o faz as coisas entram em outra perspectiva, chegando ao ponto de transformar a câmera num instrumento de sobrevivência, ao invés de um mero registrador de fatos. Imprimir originalidade a um gênero tão surrado não é fácil, mas não se pode negar a ousadia presente no desfecho deste filme, que cruza religião e ciência de um modo que eu nunca antes tinha visto numa obra de zumbis. Para quem aprecia esta vertente, é um filme simplesmente imperdível.
El Buque Maldito (Amando de Ossorio, 1974)
Com: Maria Perschy, Jack Taylor, Bárbara Rey, Carlos Lemos, Manuel de Blas
A.K.A. The Ghost Galleon, Horror of the Zombies — A série dos Blind Dead chega ao terceiro filme e toma um rumo inesperado, colocando jovens incautas perdidas dentro de um navio fantasma que leva caixões com os temíveis cavaleiros templários bebedores de sangue. Lá pelo meio do filme, um grupo de pessoas tenta resgatá-las, o que não vai acabar muito bem. O grande problema do longa é que o mistério sobre os tais cavaleiros templários se esgotou completamente. Suas aparições são repetitivas, arrastadas e não causam qualquer sensação de surpresa, que dirá medo. O grupo de atrizes/modelos em cena é digno de nota no quesito beleza, mas não há nenhuma insinuação de lascívia ou exploitation, com muito pouco gore em cena (a única morte digna de nota é a da loira Bárbara Rey). O único personagem que inspira empatia genuína é o professor feito por Carlos Lemos, cujo destino na história é tão idiota quanto o ritmo desconjuntado da narrativa. Pelo menos o baixo nível do todo tem um certo charme classe Z, o que resulta numa diversão um pouco melhor que o insosso El Ataque de los Muertos sin Ojos, feito no ano anterior.
Ecos do Além (David Koepp, 1999)
Com: Kevin Bacon, Kathryn Erbe, Illeana Douglas, Kevin Dunn, Zachary David Cope
Bem mais conhecido por seus roteiros de blockbusters, David Koepp se aventura aqui na direção de um filme baseado num livro do mesmo autor que inspirou obras como Encurralado e Eu Sou a Lenda, adaptando ele próprio a prosa original. Trata-se de um clássico conto de fantasmas com um nível um pouco maior de suspense que o normal. Nele, um homem de classe média (Kevin Bacon) passa a ser assombrado por visões de uma moça em sua própria casa, após ser hipnotizado pela cunhada numa festa. Não há nada de extraordinário aqui, mas o maior mérito do roteiro é o modo como ele se fecha no final, a partir de uma estrutura muito bem construída que aproveita a contento todos os personagens coadjuvantes. Koepp não é muito bem-sucedido ao tentar fugir dos clichês, mas o esforço rende um terror decente que merece ao menos respeito. Recentemente foi lançada uma continuação para a TV/vídeo, estrelada por Rob Lowe (argh).
Os Estranhos (Bryan Bertino, 2008)
Com: Liv Tyler, Scott Speedman, Glenn Howerton, Alex Fisher, Peter Clayton-Luce
Imagine chegar a um rancho isolado de uma casa de campo às 4 da manhã com sua namorada, depois de uma briga que não terminou muito bem. Para piorar a situação, vocês são surpreendidos por uma estranha perdida batendo à porta, e depois por uma série crescente de indícios de que há gente tentando invadir a casa, apesar de não poderem ver ninguém. Não parece assustador escrito assim, eu sei. Mas desde o início tétrico e depressivo, este filme se mostra bem-sucedido em expor o quão assustadora tal situação pode se tornar. A edição de som ajuda sobremaneira, assim com a atuação acertada de Liv Tyler. O mesmo não se pode dizer de Scott Speedman, que só consegue sair do torpor quando faz o tipo sorridente e bonachão, o que em nenhum momento é benéfico a este tipo de filme. Dependendo do ponto de vista, Os Estranhos mostra-se um trabalho frustrante, seja pelo modo como os algozes misteriosos são tratados ou devido a uma ou duas passagens clichezento-estúpidas do roteiro (como, por exemplo, separar-se da única pessoa em quem você confia enquanto há gente por perto querendo te matar). Os fãs do cinema de horror, no entanto, podem se regozijar porque aqui há ótimos sustos guardados, e também porque o final não segue a cartilha de Hollywood.
Morte Súbita (Greg McLean, 2007)
Com: Radha Mitchell, Michael Vartan, Sam Worthington, Caroline Brazier, Stephen Curry
Num universo onde filmes sobre criaturas assassinas já foram feitos aos montes, soa quase como um absurdo vermos nas telas de cinema mais um pastiche com um crocodilo descomunal aterrorizando um grupo de humanos idiotas. Felizmente, neste caso o material mostra uma qualidade inesperada, o que é raro. Em primeiro lugar, os humanos não são tão idiotas assim, pois caem nas garras do bicho ao responderem a um pedido de ajuda durante o percurso de volta de uma excursão. A história é ambientada numa área remota da Austrália, tal qual Wolf Creek - Viagem ao Inferno, o trabalho anterior do diretor Greg McLean, só que no caso do longa do crocodilo o nível de violência e gore não é tão elevado. Radha Mitchell, que coloca o sotaque australiano nativo a favor do filme, é a líder da expedição que dá em merda. Se um trabalho como esse não é estúpido no estabelecimento de personagens já está de bom tamanho, mas Morte Súbita também não faz feio em matéria de suspense. Só não dá para entender o título absurdo com que a distribuidora nacional batizou o filme.
A Capital dos Mortos (Tiago Belotti, 2008)
Com: Pablo Peixoto, Laura Moreira, Gustavo Serrate, Yan Klier, Jean Carlo
O primeiro filme de zumbis brasileiro, feito de forma completamente independente em vídeo digital. O que dizer de tal realização, cuja origem remonta a uma comunidade do Orkut e tenta transformar toda a cidade de Brasília num reduto de mortos-vivos? Para começar: medo, muito medo. E não quero dizer isso no sentido de medo suscitado pelo filme.
Um triunfo da vontade sobre a adversidade, A Capital dos Mortos é cheio de boas intenções, mas falha miseravelmente em praticamente todos os departamentos do que significa uma obra cinematográfica no mínimo decente. O escopo almejado pelo diretor é simplesmente impossível de ser atingido. Se ele tivesse se restringido a uma região mais fechada ao invés de tentar incluir zumbis caminhando até sobre o Palácio do Planalto, o resultado poderia ter sido minimamente melhor. Num trabalho amador como este, pode-se até perdoar o nível claudicante do elenco e as limitações técnicas óbvias, mas a desculpa para a aparição dos mortos-vivos é supérflua e desnecessária, para não dizer ridícula, e as situações abordadas pelo roteiro chafurdam em lugares-comuns sem qualquer aspecto digno de nota. Não há absolutamente nenhuma inspiração no trabalho de câmera, e quem me dera se o roteiro tivesse decidido se focar nas duas adolescentes lésbicas da cena de abertura, ao invés de contar a "história" de um grupo de pessoas que não inspira qualquer simpatia e só faz você desejar que eles morram logo, da forma mais hedionda possível.
Sim, para quem aprecia um cinema de qualidade, seja ele de horror ou qualquer outro gênero, este filme é muito mais que ruim. Um pontinho fica para a trilha sonora instrumental, de longe o melhor aspecto do longa (não aquela pauleira trash sem sentido), e também para o belíssimo pôster do filme, realmente de tirar o chapéu.
O Dom da Premonição (Sam Raimi, 2000)
Com: Cate Blanchett, Greg Kinnear, Giovanni Ribisi, Keanu Reeves, Katie Holmes
Antes de entrar na espiral sem fim em que se tornou a sua vida ao dirigir o primeiro longa-metragem do Homem-Aranha, Sam Raimi realizou esta pequena pérola de horror que, ironicamente, ficou mais tarde conhecida como "o filme em que Katie Holmes mostra os peitos" (muito bonitos, por sinal), devido ao aumento da fama da moça ao se tornar a Sra. Tom Cruise. Tirando essa bobagem de lado, é preciso dizer que o filme se sustenta muito bem como drama, como suspense e como um conto de relances sobrenaturais. Na história, uma mãe solteira e vidente (Cate Blanchett) sobrevive como pode numa cidadezinha caipira americana, quando certo dia é chamada para ajudar a polícia na procura de uma garota desaparecida (Holmes), o que inicia uma série de eventos perigosos à sua volta. Além de ser prova cabal de que Raimi é um exímio diretor de atores, aproveitando ao máximo o extraordinário elenco, O Dom da Premonição cativa o espectador com um enredo envolvente, que recicla a velha fórmula do whodunnit ao lhe adicionar várias camadas dramáticas. Não é tão bombástico quanto o fenomenal Um Plano Simples, mas trata-se de um ótimo exemplo de porque já estava mais que na hora de Sam Raimi dar uma trégua aos filmes do escalador de paredes e voltar a dirigir longas normais.
Amigos, Amigos, Mulheres à Parte (Howard Deutch, 2008)
Com: Dane Cook, Kate Hudson, Jason Biggs, Alec Baldwin, Lizzy Caplan
As comédias românticas vão e vêm, e fico feliz de ver que de vez em quando um veterano volta à ativa para fazer mais uma delas. Realizador de algumas pérolas do gênero nos anos 80, ao lado do também irrepreensível John Hughes, aqui Howard Deutch coloca seu tino a favor de um conto mais adulto que em épocas passadas, protagonizado por personagens nada inocentes, por assim dizer. Dane Cook é o garanhão que mantém um hobby cafajeste: ajudar marmanjos a reaverem ex-namoradas ao mostrá-las o quanto ele pode ser intragável, o que as faz correrem de volta ao pretendente anterior. A coisa está tão feia para seu melhor e atrapalhado amigo (Jason Biggs) que o rapaz o contrata para dar o golpe na garota que não quer lhe dar muita atenção (Kate Hudson). A fórmula, obviamente, não muda muito, mas a execução é acertada e rende boas risadas, com um leve senso de imprevisibilidade que só vai embora na reta final do filme. Dane Cook carrega o longa nas costas, e uma das cenas mais bacanas é a quebra de paradigma sobre o cara mais experiente que tenta ajudar o gordinho a se dar bem com as garotas no baile de formatura. Simplesmente impagável.
Cujo (Lewis Teague, 1983)
Com: Dee Wallace, Daniel Hugh Kelly, Danny Pintauro, Christopher Stone, Ed Lauter
Considerado por quem já leu o livro uma das adaptações mais fiéis de uma obra de Stephen King, Cujo faz parte da vertente do escritor que se concentra no horror doméstico. Neste aqui as nuances sobrenaturais são estirpadas, e o que fica é a história de como um cão São Bernardo contrai raiva e se transforma numa criatura assassina. Por uma série de tristes coincidências do destino, uma mãe (Dee Wallace) e o filho pequeno são cercados pelo animal, enquanto o pai (Daniel Hugh Kelly) está em viagem sem saber se voltará para casa. O roteiro possui um grande preâmbulo que mostra o processo de desmoronamento da família, decorrente de um caso vivido pela esposa, mas em sua segunda metade mostra porque Cujo, o cachorro, é uma fera furiosa capaz de dilacerar pessoas como se dilacerasse coelhos. Cujo é um filme simples que é pelo menos bem feito, fugindo um pouco da atmosfera predominante de Super Cine graças ao nível de violência que o diretor Lewis Teague conseguiu colocar em cena.
Sai da Frente (Abilio Pereira de Almeida, 1952)
Com: Amácio Mazzaropi, Ludy Veloso, Leila Parisi, A.C. Carvalho, Solange Rivera
Sendo um neófito total em matéria de filmes do Mazzaropi (ou mesmo de toda a época de ouro da Vera Cruz, da qual sou ainda um assumido ignorante), que melhor lugar para começar do que no começo? Sai da Frente é o primeiro trabalho de cinema do famosíssimo e hoje desconhecido comediante, o filme que iniciou um longeva e bem-sucedida série de comédias ainda hoje bastante admiradas. Para uma primeira experiência, pode-se dizer que o resultado é agradável. As influências óbvias de Chaplin e Laurel & Hardy estão todas lá, até mesmo no estabelecimento de situações, mas Mazzaropi consegue imprimir um inconfundível estilo próprio que por sua vez se tornaria um modelo a ser seguido por muitos futuros artistas brasileiros. A história de Sai da Frente consiste de um dia na vida do caipira Isidoro, que viaja de São Paulo a Santos com seu calhambeque Anastácio e seu cachorro Coroné levando a mudança de um cliente cada vez mais desapontado. A estética de colagem de situações pode não agradar a todos, mas os momentos genuinamente engraçados compensam essa característica, tal qual os (poucos) deslizes para o lado do musical.
Divagações postadas por Kollision entre 24-NOV a 1-DEZ de 2008