Revisto em DVD em 6-SET-2008, Sábado
Tudo bem que O Albergue é um trabalho de ficção, mas eu não sabia – até assistir aos extras do DVD – que a idéia havia surgido a partir de um site que vendia (por brincadeira, espero) vítimas para serem assassinadas ou algo assim. Num mundo onde bizarrices similares são passíveis de ocorrer na casa do vizinho, há de se admirar a iniciativa de Eli Roth de transformar a premissa em filme. Nesta revisão, posso dizer que gostei mais do final do diretor, que aparece no DVD e é radicalmente diferente (e de certa forma mais cruel) daquele que foi exibido nos cinemas.
O filme continua divertido, apesar da violência mostrada não ser para qualquer um.
A edição dupla do DVD possibilita assistir ao filme com os dois finais, o do cinema e o da versão de Eli Roth, sendo que este último aparece em separado nos extras do disco principal, que também traz nada menos que quatro faixas de comentários em áudio para a versão do diretor do filme: uma delas somente com Eli Roth e as outras três lideradas por ele e com participação dos produtores executivos, do documentarista Gabriel Roth (irmão de Eli) e de Harry Knowles, do site aintitcoolnews.com. O material adicional consiste de um making-of dividido em três partes de 15 a 30 minutos cada, recurso muilti-ângulo para a cena da destruição do carro pela gurizada sinistra e os trailers de O Albergue 2, Temos Vagas, Sangue & Chocolate e Rise - Blood Hunter. O segundo disco vem com vários especiais de 5 minutos a meia hora que discorrem sobre a trilha sonora, a direção de arte, as origens do filme e a empresa responsável pelos efeitos de maquiagem e sangue. Há ainda uma apresentação de Eythor Gudjonsson para um dos quitutes da culinária islandesa (urgh!), dez cenas excluídas, quatro galerias de desenhos e fotos, uma entrevista de rádio de quase meia hora com Eli Roth e uma entrevista de 10 minutos com o diretor japonês Takashi Miike, que faz uma ponta no filme. Sim, uma tonelada de extras, hein? A má notícia é que nenhum deles tem legendas em português!
Texto postado por Kollision em 29-ABR-2006
A mera presença do nome de Quentin Tarantino no primeiro crédito de abertura de um filme já é garantia de respeito por parte de qualquer platéia cinéfila que freqüentou os cinemas da última década. Sendo hoje um multi-homem em se tratando de cinema e TV, obviamente não é ele quem dirige este filme, mas sim seu apadrinhado Eli Roth, o alucinado que concebera alguns anos antes o mediano Cabana do Inferno. O Albergue é um esforço mais bem-acabado dentro do mesmo sub-gênero, o terror sobre adolescentes idiotas que se tornam vítimas de um destino macabro e sangrento.
Três amigos viajam com mochilas nas costas pela Europa, em busca de muita diversão e sexo. Os americanos Paxton (Jay Hernandez) e Josh (Derek Richardson) encontram o islandês Oli (Eythor Gudjonsson) em algum lugar de Paris e, já em Amsterdam, ficam sabendo que o maior reduto de mulheres bonitas e dispostas a todo tipo de experiência fica na distante Eslováquia, num albergue localizado nas cercanias de Bratislava. Assim que chegam lá eles logo são recepcionados pelas belas Natalya (Barbara Nedeljakova) e Svetlana (Jana Kaderabkova), não demorando para obterem o que querem. O que eles nem fazem idéia, e que os aguarda logo no segundo dia de estadia no albergue, é o tratamento especial dado aos forasteiros por um senhor local (Jan Vlasák), que inclui muito sadismo, tortura e morte das piores formas possíveis e (in)imagináveis.
É bem possível que o espectador desavisado seja enganado pela primeira metade do filme, que em nada remete ao desespero e ao show de sangue e desmembramentos de sua segunda metade. Mais perto de um road movie ou de uma típica comédia adolescente durante sua longa introdução, O Albergue tem uma guinada súbita em sua história, numa clara tentativa de chocar ainda mais a platéia a partir das atrocidades cometidas contra o trio de protagonistas, que é logo reduzido a apenas uma pobre vítima lutando contra a morte num ambiente completamente estranho e hostil. O estratagema funciona, graças à boa performance de Jay Hernandez, que incorpora e transmite a sensação de perplexidade e desespero de forma bastante convincente.
Pontos positivos na obra de Eli Roth aparecem também no bom uso dos cenários naturais da Europa Oriental, que colaboram bastante para a criação de um ambiente de desolação, na colocação sempre bem-vinda (neste tipo de filme somente) de muita mulher pelada e no emprego macabro e quase doentio de humor negro nas cenas mais tenebrosas de tortura. Com certeza estão aí embutidas algumas homenagens a clássicos do gênero, como O Massacre da Serra Elétrica (Tobe Hooper, 1974) e Uma Noite Alucinante (Sam Raimi, 1987). Puxa, até mesmo uma velada homenagem ao recente horror oriental Roth acaba colocando em seu filme, não necessariamente associando a sua gracinha a fantasmas de adolescentes mortas com cabelos escorridos. Obviamente, a influência do trabalho mais escatológico de Quentin Tarantino paira sobre o estilo de Roth com nitidez, principalmente nos momentos de humor ácido.
Dentro da proposta do filme, há um material realmente diverso de horrores reais, numa jornada macabra que poderia muito bem ser denominada de "O Açougue" ao invés de O Albergue. Os clichês são inevitáveis, mas o longa tenta fugir deles com alguma sinceridade, terminando por entregar um prato cheio para os aficcionados. Gostei particularmente do final, este sim bem diferente do que foi visto nos últimos anos de produção no cinema de horror norte-americano.