Cinema

Wolf Creek - Viagem ao Inferno

Wolf Creek - Viagem ao Inferno
Título original: Wolf Creek
Ano: 2005
País: Austrália
Duração: 99 min.
Gênero: Suspense
Diretor: Greg McLean (Morte Súbita)
Trilha Sonora: François Tétaz
Elenco: John Jarratt, Cassandra Magrath, Nathan Phillips, Kestie Morassi, Peter Alchin, Andy McPhee, Guy Petersen, Jenny Starwall, Gordon Poole, Aaron Sterns
Avaliação: 6

Sub-produto da onda de filmes de desespero inaugurada há mais de 30 anos por O Massacre da Serra Elétrica (1974) e tão em voga hoje em dia, esta produção independente da terra dos cangurus nada mais é que uma reciclagem da mesma idéia que se tornou clássica nas mãos de Tobe Hooper, desta vez adaptada para novas paragens. O velho slogan "baseado em fatos reais" tenta colocar um pouco mais de clima logo no começo, mas basta dizer que nem de longe a história contada pelo filme se assemelha aos casos que o diretor alega tê-lo inspirado.

As vítimas da vez são as amigas inglesas Liz (Cassandra Magrath) e Kristy (Kestie Morassi), que viajam de mochila nas costas pelo deserto australiano em companhia do amigo local Ben (Nathan Phillips). Seu destino final é a tal cratera de Wolf Creek, notória por ter sido criada a partir da queda de um meteoro e ser fonte de inúmeras histórias envolvendo aparições de ovnis. Ao irem embora, seu carro dá pane e eles são obrigados a passar a noite no meio do nada. A cordial ajuda providenciada por um simpático caipira local (John Jarratt) transforma-se numa jornada de terror quando eles adormecem, despertando no dia seguinte em meio ao maior pesadelo de suas vidas.

Primeiro, a alegada informação de que estes eventos são baseados em fatos reais não confere. Segundo, não há nenhum lobo em todo o filme, como o faz crer o nome "Wolf" Creek. Aliás, duvido que este animal sequer faça parte da fauna australiana. Deve-se lembrar que o parque com a cratera realmente existe, mas seu nome verdadeiro é "Wolfe" Creek, estando ele situado a milhares de quilômetros dos locais dos assassinatos que deram o pontapé final no roteiro já pré-concebido pelo diretor Greg McLean. Oportunismo é pouco para caracterizar a estratégia de marketing adotada pelos produtores, mas quem não faria o mesmo para divulgar uma obra de baixo orçamento ao redor de todo o mundo?

Marketing à parte, Wolf Creek tem algum mérito sim. Mas ele está todo concentrado na metade final da história, um sufocante jogo de gato e rato entre a inglesinha Liz e o clone malvado do Crocodilo Dundee. Toda a lenga-lenga que conduz o trio de amigos até o momento decisivo de suas vidas em nada se sobressai: o uso abusivo de câmera na mão incomoda, o rapaz do grupo não possui carisma algum e as mocinhas usam muita roupa (detalhe voyeur sempre notado por aficcionados por terror de baixo orçamento). Ao menos o elenco dá o sangue em cena e não desaponta durante a segunda metade da história.

Em seu filme de estréia, o diretor mostra que aprendeu muito bem a lição destilada ao longo de anos de realização de obras de terror e suspense cada vez mais calcadas na violência gráfica. O maior sinal disso é que a brutalidade do inimigo pode chocar as platéias mais despreparadas, pois o cara usa um arsenal considerável de tortura e assassinato, sempre acompanhado de um senso de humor dos mais mórbidos. Mesmo com toda a distração é quase impossível não reparar as referências a, além dos já mencionados Crocodilo Dundee e O Massacre da Serra Elétrica, aos neo-clássicos Mad Max e A Morte Pede Carona. Em alguns casos o negócio é plágio descarado mesmo, mas já diziam há muito tempo que, em qualquer área de criação, nada se cria, tudo se copia. Muito em parte graças ao pessimismo subliminar de sua história, essa cópia é ao menos digna de uma espiada.

Texto postado por Kollision em 12/Fevereiro/2006