Pequena gema dos anos 80, A Morte Pede Carona permanence ainda hoje como um dos melhores representantes cinematográficos desta década. O filme traz o versátil Rutger Hauer, infelizmente sumido das telas nos últimos anos, como uma espécie de arauto implacável da morte, em performance absolutamente perturbadora.
C. Thomas Howell é Jim, um rapaz que pega a tarefa de conduzir um carro através de todo o continente americano até a Califórnia. Cansado com a longa viagem, ele decide dar carona a um estranho (Hauer) para evitar que caia no sono. Só que, assim que o caronista entra no carro, um pesadelo de proporções avassaladoras fará com que o rapaz se arrependa amargamente da atitude tomada. Misterioso, imprevisível e ameaçador, Hauer passa a atormentá-lo, e começa a matar todas as pessoas que se aproximam dos dois.
O filme é uma mistura muito eficiente de road movie com cenas de ação, mas apresenta-se essencialmente como um suspense com considerável carga de terror psicológico. As paisagens poeirentas e a fotografia correta, aliadas à trilha introspectiva, etérea e intimista de Mark Isham, colaboram para transmitir a esmagadora sensação de desolação e isolamento do personagem de Howell, que é vagarosamente conduzido por um percurso aterrador capaz de levá-lo às raias da loucura. Apesar de tudo isso, a história é entrecortada por algumas seqüências memoráveis de perseguição e destruição de carros, que se destacam facilmente entre algumas das melhores já filmadas na história do cinema.
As pequenas forçadas do roteiro, que simplesmente deixa de explicar alguns movimentos do vilão e fazem com que ele seja uma espécie de Houdini (capaz de entrar e sair de qualquer ambiente) ou Rambo (resistência sobre-humana), parecem querer passar a idéia de que o caronista possa representar algo além de um simples ser humano ensandecido. Quando, a certa altura do filme, o atormentado rapaz parece finalmente entender que o caronista lunático de Hauer é seu nêmesis, esse dilema fica à mercê das diferentes interpretações da platéia.
Aposta que deu certo, A Morte Pede Carona projetou, na época, os nomes dos três principais envolvidos com o filme. O diretor Robert Harmon, infelizmente, nunca repetiu a boa performance, caindo no esquecimento e se dedicando a produções televisivas e filmes de ação de baixo orçamento. C. Thomas Howell, que na época era uma das promessas de novo galã de Hollywood, fez algumas escolhas erradas na carreira e afundou no ostracismo de produções B que quase ninguém conhece. Rutger Hauer, que também passou bastante tempo fora dos holofotes, retornou recentemente em pequenos papéis, como a sua rápida aparição em Confissões de uma Mente Perigosa.
Incrível como um filme tão bom recebeu uma edição em DVD tão pobre. Não há um extra sequer, nem mesmo um trailer!
Texto postado por Kollision em 24/Agosto/2004