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Filmes Vistos em Novembro - Parte 1

Corrida Mortal (Paul W.S. Anderson, 2008) 6/10

Com: Jason Statham, Joan Allen, Ian McShane, Tyrese Gibson, Natalie Martinez

Pai do filme original do qual este aqui é refilmagem, Roger Corman foi um dos que deu o aval a esta mistura rasteira de Velozes e Furiosos com Mad Max. Se as expectativas não forem muito altas, é até possível se divertir com as cenas de ação e com o escapismo obviamente influenciado pelo virtuosismo frenético dos vídeo-games modernos – coisa normal vindo do diretor Paul Anderson. Num mundo futurista onde os Estados Unidos são um país falido e as cadeias se tornaram as novas arenas de gladiadores para a diversão das massas, Jason Statham é o ex-corredor da Nascar que acaba incriminado e é enviado à prisão de segurança máxima comandada por Joan Allen, uma dama de ferro que promove corridas sanguinárias entre os presos, prometendo-lhes em troca a preciosa liberdade. O carecão de cara amarrada é convencido a participar das corridas, que são vistas por milhões de pessoas ao redor do mundo, e ganha como co-piloto uma das mulheres da ala feminina da prisão (a gatíssima Natalie Martinez). O roteiro não tem complicações, a violência não é amaciada (milagre!) e as seqüências de ação são bem-feitas. No final ninguém é totalmente inocente, mas é preciso tomar cuidado com a simpatia demasiada direcionada a um personagem desequilibrado como o de Tyrese Gibson.

Jogos Mortais IV (Darren Lynn Bousman, 2007) 3/10

Com: Tobin Bell, Costas Mandylor, Scott Patterson, Lyriq Bent, Athena Karkanis

É... Não tem jeito mesmo, a fórmula se esgota nesse quarto filme. Com Jigsaw (Tobin Bell) morto, os roteiristas fizeram um malabarismo que simplesmente não se sustenta, o que ficou evidente nesta revisão. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, muitos personagens cujas linhas narrativas se cruzam, uma pancada de gente sem um pingo de carisma e uma cadeia de flashbacks que praticamente nada acrescenta à história. O interesse aumenta um pouco quando há alguma das armadilhas malucas do assassino em cena, ou quando ele aparece em carne e osso para destilar sua carranca sinistra. E só.

Garotos Perdidos - A Tribo (P.J. Pesce, 2008) 2/10

Com: Tad Hilgenbrink, Angus Sutherland, Autumn Reeser, Corey Feldman, Gabrielle Rose

Infelizmente, temos aqui mais um caso de continuação sem-vergonha que, de tão ruim, nem chegou a ser lançada nos cinemas. Por que não queimam logo esse tipo de porcaria antes que alguém fuja com uma cópia do estúdio? Foram mais de 20 anos entre Os Garotos Perdidos (Joel Schumacher, 1987) e esse A Tribo, resultando numa história sem inspiração e sem emoção, cujo único atrativo é a curiosidade de rever Corey Feldman no papel do caçador de vampiros Edgar Frog. A história é quase a mesma: irmãos órfãos chegam a uma cidade costeira infestada de vampiros adolescentes, a garota é seduzida para o lado do mal e o vampiro-chefe (Angus Sutherland, meio-irmão de Kiefer) precisará mais tarde entrar na estaca. As cenas de ação são em sua maioria uma piada, assim como a escolha de um protagonista absolutamente sem carisma algum. Muito da culpa pela sensação de desperdício que transparece em todo o filme vem da péssima influência de anos e anos de seriados rasteiros como Buffy e Smallville. E que palhaçada é essa de vampiros que não aparecem em espelhos mas podem ser filmados? Fãs do original podem até querer passar pelo martírio, nem que seja para ver Edgar Frog proferir as mesmas frases de efeito de 20 anos atrás, ou para conferir a surpresinha que rola nos créditos finais. Os demais podem passar longe.

Jogos Mortais V (David Hackl, 2008) 6/10

Com: Tobin Bell, Costas Mandylor, Scott Patterson, Betsy Russell, Julie Benz

Depois de assistir a Jogos Mortais V, a última continuação da franquia de horror mais longeva em muito tempo, é possível constatar no mínima duas coisas: (1) que Jogos Mortais IV é de fato uma bagunça e só serve mesmo como uma mal-ajambrada ponte entre o terceiro e o quinto capítulos da série e (2) que Jogos Mortais é a única série onde as continuações diretas são ao mesmo tempo prequels de todos os filmes anteriores. Afinal, de que forma seria possível manter Tobin Bell em cena com top billing se o cara morreu na parte III? A desculpa fica por conta da necessidade em relatar como surgiu a relação entre Jigsaw (Bell) e o detetive Hoffman (Costas Mandylor), enquanto um novo grupo de vítimas é reunido para passar por mais uma batelada de armadilhas mortais. A troca de diretor parece ter feito bem à história, que passa a ter um tom mais investigativo (apesar de raso) enquanto se aproveita e ao mesmo tempo destrincha muito do que foi mostrado em todos os filmes anteriores. A cena que encerra o longa, pelo menos, é ótima.

007 - Quantum of Solace (Marc Forster, 2008) 8/10

Com: Daniel Craig, Mathieu Amalric, Olga Kurylenko, Judi Dench, Giancarlo Giannini

Sem qualquer pausa para respiração, 007 - Quantum of Solace começa exatamente onde parou 007 - Cassino Royale. Isso não significa, porém, que se faz obrigatoriamente necessário ter visto o anterior, desde que se saiba que James Bond (Daniel Craig) perdeu a namorada em circunstâncias tão trágicas quanto ambíguas, o que aparentemente o motiva em uma solitária e truculenta investigação que o coloca na cola de uma organização secreta comandada por um poderoso empresário francês, na verdade um lobo que posa como defensor do meio ambiente (Mathieu Amalric).

A ação é crua e vertiginosa, e desvia com relativo sucesso a atenção de uma história que não se fecha e, após todo o desenvolvimento, não chega a mostrar o verdadeiro inimigo. Novamente, fãs saudosistas de Bond podem torcer o nariz para a caracterização do personagem – altamente influenciada pelo concorrente Jason Bourne – mas é inegável que o ritmo mais dinâmico e a sobriedade tecnológica melhorou e muito o conceito da série. Além de ser um excelente filme-pipoca e, bem, colocar uma bela ucraniana na pele de uma bolivina, Quantum of Solace solidifica Daniel Craig como herói de espionagem viável.

Uma Lição de Amor (Ingmar Bergman, 1954) 9/10

Com: Gunnar Björnstrand, Eva Dahlbeck, Åke Grönberg, Yvonne Lombard, Harriet Andersson

Os companheiros amantes de cinema que por algum motivo têm dificuldade de absorver os filmes de Ingmar Bergman devem, urgentemente, assistir a este Uma Lição de Amor. Ainda mais acessível que o posterior Sorrisos de uma Noite de Amor, este trabalho representa para todos os efeitos um ensaio leve e engraçado do que mais tarde seria usado como material bruto para as mais densas obras da carreira do premiado cineasta sueco. O tema central é o fim do casamento, no caso o do ginecologista David (Gunnar Björnstrand) e sua esposa Marianne (Eva Dahlbeck). Depois de dar o pé na bunda da amante (Yvonne Lombard), ele decide interceptá-la numa viagem de trem para tentar salvar o relacionamento, que corre o risco de morrer porque ela quer retornar para os braços de um amor do passado (Åke Grönberg). Momentos como os deste filme são raros na filmografia de Bergman, e merecem ser vistos e/ou redescobertos. Os diálogos afiados simplesmente destroem os pretensos roteiros modernosos que pululam por aí hoje em dia, e o domínio do diretor no uso de flashbacks é uma verdadeira aula de exposição narrativa. Ao final do filme, que conta com uma atuação magistral de Björnstrand (sempre ótimo), fica a critério da platéia julgar se a lição do título é pertinente ou não.

Divagações postadas por Kollision de 13 a 17 de Novembro de 2008