Thomas Crown - A Arte do Crime (John McTiernan, 1999)
Com: Pierce Brosnan, Rene Russo, Denis Leary, Frankie Faison, Faye Dunaway
É bem possível que a meia hora final deste filme esteja entre as grandes realizações cinematográficas americanas da década de 90. A parte inicial da história, no entanto, não mantém a mesma qualidade e infelizmente evita que este seja um dos mais bacanas filmes de assalto já feitos – na verdade, uma refilmagem de outra obra homônima estrelando Steve McQueen e Faye Dunaway, que aqui faz uma ponta como a analista/consciência do ladrão de arte e megaempresário feito por Pierce Brosnan. Na cola do cara está Rene Russo, a investigadora da agência de seguros do Monet que ele surrupia logo na abertura do filme. Um vê no outro uma espécie de igual, apesar de ambos estarem de lados opostos da lei. Pródigo em estabelecer clima com sutileza, Thomas Crown no geral agrada pela química entre os atores e por alguns relances de Rene Russo de topless (oh yeah!), mas sofre terrivelmente com a narrativa meio morta em seu trecho intermediário.
Konketsuji Rika - Hitoriyuku Sasuraitabi (Kô Nakahira, 1973)
Com: Rika Aoki, Ryunosuke Minegishi, Taiji Tonoyama, Mizuho Suzuki, Masami Souda
A.K.A. Rica 2 - Lonely Wanderer – A delinqüente Rica está de volta. Após sair de mais um reformatório com a ajuda de uma amiga, ela parte atrás da colega negra do primeiro filme disposta a salvá-la de uma conspiração maluca que envolve a explosão de um barco e o domínio de uma gangue misteriosa sobre a polícia. Ainda bem que mudaram um pouco o riscado na continuação, que não faz a protagonista entrar e sair de reformatórios e cadeias, e até se arrisca a lhe dar um provável companheiro de aventuras. Isso não é suficiente para que o longa supere o original, pois o nível largado da narrativa continua, e para piorar sem qualquer cena de nudez de Rika Aoki. Para falar a verdade, o nível de pele à mostra aqui é pífio, num grande distanciamento da estética pink-violence que dominou o primeiro filme.
De Volta Para o Futuro II (Robert Zemeckis, 1989)
Com: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Thomas F. Wilson, Lea Thompson, Elisabeth Shue
Se a inevitabilidade de uma seqüência para o insuperável De Volta para o Futuro sempre foi fato desde o seu lançamento em 1985, o mesmo pode-se dizer do nível de hype gerado sobre a segunda aventura envolvendo um cientista maluco, um adolescente e uma máquina do tempo instalada num carro maneiro. Pode-se dizer que a continuação é sólida, fiel à mitologia criada no original (ao ponto de entrelaçar eventos passados de forma ousada e perigosa) e, na maior parte do tempo, divertida. Só que no geral a experiência não tem o mesmo impacto, basicamente por dois motivos: o começo deveras apressado e a ausência de Crispin Glover, o George McFly original. A troca de Claudia Wells por Elisabeth Shue como a namorada de Marty nem chega a ter qualquer impacto.
Mesmo sendo o mais fraco da trilogia, o longa ainda é muito melhor que muita coisa feita em sua época, e vale a pena pela nostalgia e pela megalomania de Biff Tannen – um vilão como há muito tempo não se vê igual.
Em Busca da Terra do Nunca (Marc Forster, 2004)
Com: Johnny Depp, Kate Winslet, Julie Christie, Radha Mitchell, Dustin Hoffman
Realidade + sensibilidade + liberdade poética. Combinação perfeita para uma indicação ao Oscar, digamos assim, o que não chega a ser nenhum demérito. O pequeno problema com este filme é a apatia que permeia praticamente todos os papéis do elenco adulto, característica que cai bem somente à esposa distante feita por Radha Mitchell, e confere aos demais um ranço que não deixa a história atingir o intento dramático pretendido. Ainda bem que as crianças fazem bem a sua parte, em especial Freddie Highmore, que daí passou a alçar vôos mais ambiciosos em sua ainda curta mas prolífica carreira no cinema. Bonitinho e quase ordinário, Em Busca da Terra do Nunca enternece como uma Sessão da Tarde ensolarada e sem pretensões.
O Gângster (Ridley Scott, 2007)
Com: Denzel Washington, Russell Crowe, Chiwetel Ejiofor, Josh Brolin, Ruby Dee
Ridley Scott realiza neste filme sua contribuição definitiva ao gênero dos filmes de gângster, inaugurado com o insuperável O Poderoso Chefão (Coppola, 1972). Assim como na obra de Mario Puzo, só que desta vez baseada em fatos reais, a história é centrada na construção de um império do crime liderada por um homem fora do comum. No caso, o negro Frank Lucas (Denzel Washington), um aspirante a mafioso do Harlem que rapidamente galga os degraus do crime de forma sutil, apoiando-se no tráfico de drogas. Russel Crowe faz o papel do único e incorruptível policial que suspeita de Lucas. O filme vai se afunilando até o embate final entre os dois, com um desfecho que, dizem, segue o desfecho da vida real à risca.
O Gângster é excelente não somente pela técnica, mas também pela carga de exemplos que seus protagonistas trazem para a tela. Desde que assisti ao filme, várias foram as vezes em que me deparei pensando na índole e na linha de conduta de Frank Lucas, numa associação não muito distante daquela representada pelo legado de um Don Corleone, por exemplo. Não que a vida no crime deva ser o objetivo de um jovem ambicioso – porém, como Lucas e Corleone atestam, muitos dos melhores modelos de vida podem ser encontrados neste universo.
Juno (Jason Reitman, 2007)
Com: Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman, Allison Janney
Sucesso inesperado, este pequeno filme joga um pouco de frescor sobre os pastiches adolescentes que tentam ser trágicos e engraçados ao mesmo tempo. Aqui, o trágico fica por conta da gravidez indesejada de Juno (Ellen Page), uma adolescente precoce de 16 anos. O engraçado fica por conta de como as pessoas à sua vida reagem ao fato, incluindo aí seus pais, o pai da criança e o casal que a garota procura para adotar o bebê assim que ele nascer. Entremeando momentos ternos, diálogos espertos e referências espetaculares (há menções conjuntas a Herschell Gordon Lewis e Dario Argento!), o filme consegue ser divertido, acredito que principalmente por sua capacidade de incitar identificações imediatas em seu público-alvo. Eu, por exemplo, não consigo dissociar minha imagem da de Jason Bateman, que faz o marido do casal que deseja adotar a criança... Assustador, para dizer o mínimo.
A história possui um grande ponto fraco: se Juno é uma garota tão inteligente, por que diabos ela cometeria um erro tão imbecil e se deixaria engravidar de forma tão boba? Nem tudo pode ser perfeito, mas bem que poderiam ter arranjado uma motivação um pouco mais explícita pra isso.
Vestida para Casar (Anne Fletcher, 2008)
Com: Katherine Heigl, James Marsden, Malin Akerman, Edward Burns, Judy Greer
Felizmente, esta é mais uma comédia romântica daquelas que conseguem "brilhar" em meio à batelada de filmes do gênero que entulham o acervo de qualquer locadora ou coleção que se preze. Por "brilhar" entenda-se carisma do elenco, pois é óbvio que neste tipo de filme não há muito espaço para, por exemplo, malabarismos do roteiro. A heroína da vez (Katherine Heigl) é uma mulher solteira que tem tara por organizar e participar de casamentos. Sua vida sai da rotina quando sua paixão secreta (Edward Burns, o chefe) começa a cortejar sua recém-chegada irmã mais nova (Malin Akerman), enquanto um escritor bisbilhoteiro (James 'Ciclope' Marsden) passa a persegui-la a fim de pesquisar sua fixação patológica por casamentos. O final é anunciado logo de cara, mas a história traz sutilezas que tentam tirar o filme do lugar comum. Além disso, aqui simplesmente não dá para reclamar do elenco feminino, se é que vocês me entendem...
Divagações postadas por Kollision entre 12 e 20 de Fevereiro de 2008