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Filmes Vistos em Dezembro - Parte 2

Karate Dog (Bob Clark, 2004) 2/10

Com: Simon Rex, Jon Voight, Jaime Pressly, Ron Lester, Pat Morita

Muitas vezes a intenção de alguns produtores vai além do aceitável quando a idéia é desenvolver uma sátira, a ponto de bobagens como este filme chegarem de fato a serem realizadas. Pat Morita paga mico como o dono e mestre de um cão que fala e luta karatê! Quando o velhinho sábio morre assassinado, o shaolin canino procura a ajuda de um detetive bobalhão (Simon Rex) para descobrir o autor do crime, o que os leva até o empresário feito por Jon Voight. Voight é outro que aqui atinge com louvor o fundo do poço. Declaradamente infantil, o filme é uma sucessão de situações sem pé nem cabeça, com roteiro mais furado que um queijo suíço e efeitos especiais de quinta categoria. Não fossem as tenebrosas lutas do cachorro Cho Cho (voz de Chevy Chase), Karate Dog até passaria como um clone de Dr. Dolittle ou Babe, graças à comédia rasteira. Há passagens tão ridículas que é impossível não rir um pouco. Atenção às várias referências a alguns sucessos do cinema, como Missão Impossível, Matrix, Velocidade Máxima e O Silêncio dos Inocentes.

Baza Ludzi Umarlych (Czeslaw Petelski, 1959) 6/10

Com: Zygmunt Kestowicz, Leon Niemczyk, Teresa Izewska, Emil Karewicz, Tadeusz Lomnicki

A.K.A. The Depot of the Dead – Num recanto desolado de uma montanha castigada pelo inverno, um novo chefe (Zygmunt Kestowicz) chega para supervisionar a perigosa atividade de extração e transporte da madeira. Ele obriga todos os trabalhadores, em sua maioria ex-criminosos que estavam prestes a irem embora, a permanecer no lugar. Conflitos se sucedem, agravados pela presença da bela esposa do chefe (Teresa Izewska), que também está ali contra a sua vontade e fará de tudo para voltar à cidade.

A fotografia em preto e branco acentua o isolamento do grupo de pessoas cercado por árvores e neve, enquanto eles são submetidos às condições de trabalho mais terríveis possíveis. Uma cena em particular é desconcertante: trabalhador com excesso de confiança ateia fogo num barril de gasolina e a seguir acende um cigarro sobre ele! Embora praticamente todos os operários sejam mostrados como criminosos, alguns deles demonstram uma nobreza inesperada, quase sempre motivada pela presença da esposa do chefe, a única mulher no acampamento. A carga dramática não chega a se impor de forma opressiva, mas faz do filme uma janela interessante para a realidade de um país que então lutava para se reerguer sob o forte domínio comunista.

Kyofu Kikei Ningen (Teruo Ishii, 1969) 6/10

Com: Teruo Yoshida, Tatsumi Hijikata, Teruko Yumi, Asao Koike, Minoru Ohki

A.K.A. Horrors of Malformed Men – Um cartão de visita para mais um dos inúmeros universos bizarros concebidos por nomes proeminentes do cinema fantástico, este filme ganha pontos pelo enfoque trágico aplicado a uma história que não faz nenhum sentido – mas serve bem ao claro propósito de transportar o espectador para um mundo à parte. Nele, há uma sucessão de ecos de estilo que antecipam jornadas tão díspares quanto os vindouros Apocalipse Now (1979) e Ring - O Chamado (1998). Homem sem memória (Teruo Yoshida) escapa de um sanatório e assume o lugar de um rico empresário recém-falecido, muito parecido com ele, para então descobrir um terrível segredo de sua nova família: um patriarca louco (Tatsumi Hijikata) que transformou uma ilha particular num paraíso às avessas, onde atrocidades inomináveis são cometidas por pessoas terrivelmente deformadas.

É fácil compreender porque a obra ganhou a aura de maldita não muito tempo depois de ser lançada. A inacreditável hipérbole narrativa abriga momentos tenebrosos, carregados de uma interessante psicodelia nipônica e marcada por um vilão icônico, que parece transcender os limites do filme com sua loucura emocional e física. O tom detetivesco que aflora na reta final é completamente inesperado, assim como o polêmico desenlace do drama, na minha opinião um pouco ingênuo, mas apropriado ao modo como o tema foi tratado.

Taxi Driver (Martin Scorsese, 1976) 10/10

Com: Robert De Niro, Cybill Shepherd, Jodie Foster, Albert Brooks, Harvey Keitel

De todas as notórias colaborações entre Martin Scorsese e Robert De Niro, Taxi Driver é com toda a certeza a melhor. Um filme de alma pequena, realizado por um espetacular grupo de profissionais e cuja herança atemporal torna-o mais contundente hoje do que na época em que foi lançado. Travis Bickle (De Niro) é um motorista de táxi estigmatizado pela solidão e por um isolamento social cujas conseqüências irrompem de forma desordenada quando ele tenta se relacionar com duas mulheres distintas: uma ativista política (Cybill Shepherd) e uma prostituta menor de idade (Jodie Foster). A sensação de inadequação e incômodo despertada por Bickle fica presente do primeiro ao último quadro do filme, uma obra-prima que não se furta a um final ácido, que aproveita para dar um tapa na cara da mídia – ou não?

Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América (Larry Charles, 2006) 9/10

Com: Sacha Baron Cohen, Ken Davitian, Luenell Campbell, Pamela Anderson, Spirea Ciorobea

O que mais faz Borat funcionar como comédia não é o escracho que permeia praticamente todas as cenas do início ao fim do filme. Não são as diferenças culturais exacerbadas até o ponto do absurdo, e nem a já famosa cena do gordo pelado no quarto de hotel. O segredo está no enquadramento das reações – mais do que o comediante e suas pegadinhas egocêntricas, são as caras das pessoas presentes nas situações que conferem às estripulias a graça que provoca ondas de gargalhadas. Mesmo para aqueles que ainda se chocam com as coisas que Borat apronta, sejam elas combinadas ou não, não dá para ficar impassível diante da desconstrução da altiva sociedade norte-americana.

Banana Joe (Steno, 1982) 4/10

Com: Bud Spencer, Marina Langner, Gianfranco Barra, Mario Scarpetta, Enzo Garinei

Banana Joe foi uma das poucas ocasiões em que o grandalhão Bud Spencer se aventurou num trabalho sem o parceiro Terence Hill. Spencer estrela como um homem simplório, um analfabeto que jamais saiu da aldeia onde vive. O máximo que faz é levar os carregamentos de bananas para a cidade para trocá-los por mantimentos para seu povo. Quando um empresário decide instalar uma fábrica de processamento de bananas na aldeia, "Banana" Joe é obrigado a ir à cidade para registrar o seu negócio, sofrendo com a burocracia do mundo moderno. O humor é na maior parte do tempo bastante infantil e rasteiro, sem grandes atrativos. Além disso, a música-tema é usada à exaustão e cansa a platéia. Indicado somente para quem não deixa passar um filme de Spencer e Hill.

Robocop - O Policial do Futuro (Paul Verhoeven, 1987) 8/10

Com: Peter Weller, Nancy Allen, Ronny Cox, Kurtwood Smith, Miguel Ferrer

Um trabalho que se eleva acima da nítida atmosfera de filme B, que nas próprias palavras do diretor Paul Verhoeven deriva de clássicos absolutos como Metrópolis (Fritz Lang, 1926), mas também bebe com certa personalidade de contemporâneos como O Exterminador do Futuro (James Cameron, 1984) e Mad Max (George Miller, 1979).

O aspecto mais importante a se notar é que, à medida em que o tempo passa, este neo-clássico da ficção científica mostra que consegue se manter atual praticamente com base na sátira/crítica social que impregna cada cena, compondo um universo todo particular para um conto de super-herói que, por incrível que pareça, não se originou das HQs – ao contrário, ele percorreu o caminho inverso. A farta carga de violência e o roteiro enxuto também colaboram neste sentido, apesar dos efeitos especiais já se mostrarem defasados. O personagem-título é um super-ciborgue desenvolvido por uma companhia privada que controla a polícia de uma Detroit futurista, uma metrópole mergulhada em caos e violência. A parte humana do robô, um policial brutalmente assassinado (Peter Weller), não se desliga do passado e acaba se tornando o pivô de um confronto que escancara a corrupção que envolve os mais altos executivos da polícia e o bandido mais procurado da cidade.

Amor Estranho Amor (Walter Hugo Khouri, 1982) 6/10

Com: Vera Fischer, Tarcísio Meira, Xuxa Meneghel, Marcelo Ribeiro, Íris Bruzzi

Provavelmente um dos filmes brasileiros mais obscuros da década de 80 graças à batalha judicial movida por Xuxa contra a sua comercialização, Amor Estranho Amor ganhou recentemente um "relançamento" nas bancas de DVDs piratas de todo o país, tornando possível para qualquer um conferir se de fato a preocupação da apresentadora procede (não existe edição em DVD no Brasil, e a duvidosa edição americana só tem áudio dublado em inglês, sem qualquer legenda).

Pois é, abri mão de meus princípios para ver um filme pirata emprestado de um colega... E no computador, ainda por cima! Percebe-se que a transposição foi com certeza feita a partir de uma fita VHS. A imagem é o que mais sofre, principalmente nas cenas com pouca iluminação, mas o áudio é surpreendentemente bom. Pelo menos a versão pirateada parece ser a integral, que bate na casa das duas horas de duração.

A história se passa em 1937, e mistura o conflito político da época com a descoberta da sexualidade de um garoto (Marcelo Ribeiro) que é deixado pela avó para morar com a mãe (Vera Fischer) num bordel de São Paulo. Ela é a preferida do dono do casarão (Tarcísio Meira), um político influente que se vê encurralado pela ameaça de golpe de estado. Xuxa Meneghel faz a vez de uma prostituta gaúcha (e safada!) que chega ao bordel para ser oferecida de presente a outro político e aproveita para iniciar o garoto nos assuntos da vida – assim como o fazem várias outras profissionais assanhadas. O que sobra em cena é um certo olhar contemplativo dentro de uma perspectiva que não se define entre a política e o drama do menino. Apesar disso, trata-se de um trabalho até bem-feito. O que não tem preço é ver Xuxa fazendo de conta que é uma alemãzinha virgem, com sotaque e tudo!

Divagações postadas por Kollision entre 19-DEZ-2007 e 4-JAN-2008