All'Onorevole Piacciono le Donne (Lucio Fulci, 1972)
Com: Lando Buzzanca, Laura Antonelli, Lionel Stander, Francis Blanche, Corrado Gaipa
A.K.A. The Senator Likes Women – Comédia político-religiosa que tira sarro sem dó nem piedade da sociedade italiana do início da década de 70. Tudo neste filme é inusitado, a começar por seu diretor, notório por realizar longas de terror de baixo orçamento. O espanto em vê-lo fazendo uma comédia pastelão como esta vai embora, no entanto, com o final maluco da história do senador Puppis (Lando Buzzanca), o principal candidato à presidência do país e também "vítima" de um distúrbio mental que o leva a botar as mãos nos traseiros de todas as mulheres que vê pela frente. Como ele não passa de um peão na mão da igreja, seu tratamento passa a ser feito num convento, e lá ele se depara com uma freira que é tudo o que ele sempre quis e muito mais (Laura Antonelli). O resultado geral é bastante irregular, mas o filme consegue fazer rir enquanto destila agulhadas ríspidas contra o sistema.
Uma pena que o DVD da distribuidora Dagored Films tenha uma das transferências de imagem mais porcas que eu já vi na vida.
Ellie Parker (Scott Coffey, 2005)
Com: Naomi Watts, Scott Coffey, Mark Pellegrino, Rebecca Rigg, Johanna Ray
Filmeco indie co-produzido e estrelado por Naomi Watts, Ellie Parker é a extensão de um curta-metragem que ela havia feito quatro anos antes de seu lançamento. Capturado em vídeo digital de alta resolução, o longa ganhou um certo charme pela presença chamativa de Watts, que encarna uma atriz iniciante perdida em Los Angeles, vivendo dia após dia à espera do chamado que a tirará da rotina incessante e interminável de testes para estrelar em produções de caráter pra lá de duvidoso. É o retrato cru de 90% das pessoas que vivem neste mundo de ilusões, numa metrópole inclemente com aqueles que não conseguem se encaixar. No começo parece que sua personagem deriva diretamente da atriz sonhadora que ela interpretou em Cidade dos Sonhos (David Lynch, 2001), mas não demora muito para que tudo descambe para o trivial. Falta graça à história sem rumo, que faz algumas referências ao meio e traz o sumido Chevy Chase numa ponta de luxo.
Capitão Sky e o Mundo do Amanhã (Kerry Conran, 2004)
Com: Jude Law, Gwyneth Paltrow, Giovanni Ribisi, Angelina Jolie, Michael Gambon
A ficção científica retrô bem que tenta se firmar como algo de substância nesta animação ambiciosa do estreante Kerry Conran. O elenco é praticamente a única coisa real em cena, sendo todo o resto criado sobre o fundo verde em programas de computador. Passada no final dos anos 30, a história traz um ás da aviação (Jude Law) à procura de um vilão chamado Totenkopf (Laurence Oliver recriado digitalmente), que deseja erradicar a humanidade decadente e criar o tal "Mundo do Amanhã". Adicione ao herói de contornos rasos a companhia de uma repórter enxerida à la Lois Lane (Gwyneth Paltrow) e um par de coadjuvantes, e temos uma sessão da tarde que até esbanja algum charme, mas infelizmente não empolga como deveria.
Um Crime de Mestre (Gregory Hoblit, 2007)
Com: Anthony Hopkins, Ryan Gosling, David Strathairn, Rosamund Pike, Billy Burke
Pode ser que eu esteja sendo condescendente demais com este trabalho de Gregory Hoblit, que sempre me pareceu meio perdido no comando de seus filmes anteriores. Um Crime de Mestre é provavelmente seu melhor longa, um suspense que vira do avesso a estética da procura pelo culpado e transforma a missão do protagonista (o promotor feito por Ryan Gosling) numa investigação angustiante sobre as tramóias de um assassino confesso a caminho da liberdade (Anthony Hopkins, tentando fugir sem muita eficiência da carapuça de Hannibal Lecter). A reviravolta final faz bastante sentido e atesta a qualidade do roteiro, que caracteriza a admiração mútua entre acusador e acusado como um civilizado e traiçoeiro jogo de gato e rato.
Extermínio 2 (Juan Carlos Fresnadillo, 2007)
Com: Robert Carlyle, Imogen Poots, Mackintosh Muggleton, Rose Byrne, Jeremy Renner
Tirem o chapéu para Fresnadillo, o diretor desta continuação de respeito. Danny Boyle, a mente por trás do primeiro Extermínio, atua somente como produtor e ajuda a entregar um trabalho original, que amplia a mitologia criada pelo próprio e impressiona pelo gore, pela violência e pelo enfoque dado ao espetáculo recheado de zumbis em toda sua plenitude assassina. 28 semanas se passaram desde que o vírus zumbi se espalhou pela Inglaterra. Com a situação controlada, um pai de família (Robert Carlyle) recebe os filhos adolescentes em Londres para ajudar na reconstrução do país. Sua família se tornará o epicentro, esperança e perdição (não necessariamente nessa ordem) de uma nova epidemia que não demora a irromper. A narrativa permanece tensa durante todo o tempo, e tem somente uma ressalva relacionada à figura do próprio Robert Carlyle e sua participação no clímax da história. O resultado geral, no entanto, é de encher os olhos dos aficcionados.
Premonições (Mennan Yapo, 2007)
Com: Sandra Bullock, Julian McMahon, Irene Ziegler, Nia Long, Peter Stormare
O que Sandra Bullock tinha na cabeça para aceitar estrelar essa grande porcaria só pode ser o tal do frasco de pílulas de lítio que sua personagem ganha de presente no filme. Fazia tempo que uma baboseira tão grande foi aos cinemas pela última vez. Mulher (Bullock) surpreendida pela morte trágica do marido (Julian McMahon) descobre estar vivenciando vários momentos precognitivos (ou não) que não têm outro objetivo senão testar a paciência do espectador com um vai-e-vem inútil e um roteiro infestado de passagens de inteligência completamente asinina. Tudo é uma grande perda de tempo e, quando parece que o final vai pelo menos render alguma coisa que salve o filme da nota zero, lá vem uma bomba de merda. E preparem-se, é merda em doses múltiplas.
Sukeban Gerira (Norifumi Suzuki, 1972)
Com: Miki Sugimoto, Reiko Ike, Masataka Naruse, Michitaro Mizushima, Toru Abe
A.K.A. Girl Boss Guerilla – A Yakuza tem uma representação tão extensa quanto densa dentro do cinema japonês. Nos anos 70, o diretor Norifumi Suzuki foi um dos grandes responsáveis por desvirtuar o gênero de várias formas, e uma das mais interessantes é a que transparece neste filme. Nele, gangue de motoqueiras liderada pela atriz Miki Sygimoto chega a Kyoto para tomar a área das demais gangues femininas à força. Não demora para que surjam eventuais rusgas com a Yakuza local, mas a proximidade da ex-chefe Reiko Ike pode vir a ser útil no conflito maluco.
Cenas de mulheres caindo no tapa entre si e tendo as roupas rasgadas no meio da luta misturam-se a passagens de alívio cômico quase infantil e uma ou duas cenas sentimentais que espantam por estarem inseridas num filme como este, enquanto Suzuki aproveita para polemizar sobre a igreja católica. Às vezes a narrativa é folhetinesca em excesso, mas nunca enfadonha. Somente pelo aspecto singular e cult o filme já mereceria uma sessão, mas a boa notícia é que a fotografia é ótima, assim como o trabalho de câmera e a inconfundível trilha sonora nipônica. E onde, em qualquer outro recanto do cinema mundial, um filme irá exibir os seios de suas protagonistas marcados por enormes tatuagens com dragões? Alguém já imaginou de onde vieram as idéias mais malucas de Quentin Tarantino? Eis aqui uma chance e tanto de conferir isso.
Nove Vidas (Andrew Green, 2002)
Com: Amelia Warner, David Nicolle, Ben Peyton, Lex Shrapnel, Paris Hilton
Horror bobo e descartável, cujo trabalho de marketing tenta desesperadamente capitalizar em cima da imagem de Paris Hilton para vender o peixe. A magricela tem muito pouco tempo em cena – é a primeira a morrer dos nove – e o mais triste de tudo é ter que admitir que ela faz falta à história a partir de então. Nela, um grupo de amigos de escola se reencontra para celebrar o aniversário de um deles, mas um espírito maligno se apossa de seus corpos um a um e promove a matança. O suspense é inexistente, o sangue é pífio, o roteiro é ridículo e a pretensão dos realizadores obviamente fora dos parâmetros. O filme só ganha nota 1/10 por causa de Amelia Warner, como sempre um colírio para os olhos de qualquer cinéfilo.
Cassino (Martin Scorsese, 1995)
Com: Robert De Niro, Joe Pesci, Sharon Stone, James Woods, Frank Vincent
No que diz respeito aos cenários, aos valores de produção e ao cuidado com a reconstituição histórica, Cassino fica com certeza entre os melhores trabalhos de Martin Scorsese. Trata-se de um épico urbano que mostra a era de ouro do controle da máfia sobre a meca do jogo em Las Vegas, desde a ascensão de um jogador e administrador brilhante (Robert De Niro) no início dos anos 70 até o estabelecimento da violência desenfreada nos anos 80, a queda dos chefões e a conseqüente institucionalização dos cassinos. O filme é excessivamente longo, e possui um aspecto derivativo de trabalhos anteriores de Scorsese, em especial Os Bons Companheiros (1990), o que fica muito evidente através do personagem de Joe Pesci. A sensação geral é de que estamos vendo o ator no mesmo papel estourado que ele fez "naquele outro filme". Com uma exceção louvável em De Niro, todos os demais personagens inspiram somente antipatia, especialmente a puta de luxo desmiolada feita por Sharon Stone. Num filme com três horas de duração e dois atores fazendo narrativa em off (atenção para o momento em que um terceiro personagem também passa a narrar os acontecimentos), o resultado disso é mais uma grande crônica mafiosa que às vezes soa enfadonha e repetitiva, mas transpira beleza cinematográfica em momentos-chave (a tomada do carro se aproximando pelo deserto através dos óculos de De Niro é sublime).
Quarteto Fantástico (Tim Story, 2005)
Com: Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Chris Evans, Michael Chiklis, Julian McMahon
De todas as adaptações de HQs surgidas nos últimos anos, esta é com certeza uma das mais simpáticas em sua despretensão. O nível de diversão proporcionado pelo roteiro – que acerta grandemente ao retratar as personalidades dos heróis, vide a rixa entre o Coisa e o Tocha Humana – praticamente abona as pequenas falhas em alguns efeitos especiais e diálogos bregas. Foi somente nessa revisão, no entanto, que me dei conta de que, fora os cinco atores principais, quase ninguém mais tem papel relevante na história. A exceção é Kerry Washington como Alicia Masters.
Le Scomunicate di San Valentino (Sergio Grieco, 1974)
Com: Jenny Tamburi, Françoise Prévost, Paolo Malco, Corrado Gaipa, Franco Ressel
A.K.A. The Sinful Nuns of Saint Valentine – Variação bizarra da história de Romeu e Julieta, com toques de nunsploitation e estrutura dramática que no trecho final descamba para um festival macabro digno de Edgar Alan Poe. Contrariando o título pra lá de chamativo, o filme é bastante inocente na ousadia erótica, e se concentra sobre a história de uma moça (Jenny Tamburi) internada num convento para ficar longe do amado (Paolo Malco), que está sendo implacavelmente perseguido pela Santa Inquisição. Suas tentativas de ficarem juntos são frustradas por um padre fanático (Corrado Gaipa) e pela madre superiora do convento (Françoise Prévost). A história melhora consideravelmente em sua segunda metade, o que ajuda a tirar o filme da categoria do medíocre.
Divagações postadas por Kollision entre 5 e 11 de Junho de 2007