O que quer que tenha levado Blake Edwards a realizar este filme, seja o desejo de homenagear Peter Sellers (morto em 1980) ou acertos artísticos envolvendo o estúdio, não foi motivo suficiente para garantir o mesmo nível de qualidade dos episódios anteriores da série. A exumação de cenas filmadas para os longas anteriores mas relegadas ao chão da sala de edição tenta desesperadamente se adequar a um roteiro que perde completamente a força antes de chegar ao seu final, resultando numa colcha de retalhos que representa o início do declínio dos filmes com a marca Pantera Cor-de-rosa.
O famoso diamante Pantera-Cor-de-rosa é roubado pela terceira vez de um museu num pequeno país do Oriente Médio, e seu governante exige que as investigações sejam comandadas pelo inspetor-chefe da polícia francesa Jacques Clouseau (Peter Sellers), uma vez que foi ele quem comandou as operações nas duas outras vezes em o diamante desaparecera (em A Pantera Cor-de-rosa, de 1963, e O Retorno da Pantera Cor-de-rosa, de 1975). Mais uma vez o desastrado detetive parte em missão, mas um acidente com seu avião seguido de seu misterioso desaparecimento deixa todos atônitos. Uma repórter de TV enxerida (Joanna Lumley) inicia uma série de entrevistas com as pessoas mais próximas de Clouseau, incluindo o comissário Charles Dreyfus (Herbert Lom), seu ajudante Cato (Burt Kwouk), seu antigo auxiliar Hercule (Graham Stark) e até mesmo sua ex-esposa (Capucine) e seu atual marido Charles Lytton (David Niven), em tempos remotos o maior suspeito de ser o famigerado ladrão Fantasma. A repórter chega até mesmo a conhecer o pai de Clouseau (Richard Mulligan), mas pode ver sua investigação ir para as cucuias com as ameaças do novo chefão do crime local (Robert Loggia), remanescente da última aventura.
Quase dá para acreditar que este filme pode dar certo, a julgar de sua primeira meia hora. Infelizmente, de qualquer forma que se olhe, as dificuldades em colocar as cenas previamente filmadas com Peter Sellers dentro do roteiro ficam logo evidentes. Há de se considerar que, mesmo para o nível de palermice de Clouseu, viajar à Inglaterra à procura do Fantasma é uma afronta ao bom senso que não encontra explicação alguma na história. O aproveitamento do material chega ao cúmulo de reutilizar uma mesma seqüência de A Nova Transa da Pantera Cor-de-rosa com apenas algumas cenas a mais (a chegada de Clouseau ao seu apartamento e a infame dança de "singin' on the rice"), com o carro desandando de vez a partir daí e ferindo irremediavelmente a inteligência do fã mais ardoroso da série, como eu. Todas as demais reminiscências aparecem dentro dos depoimentos dos personagens coadjuvantes, o que é menos grave, mas isso em nada acrescenta ao desenvolvimento da história, que praticamente morre em sua metade.
Capucine e David Niven, integrantes do elenco do primeiro filme, fazem somente uma participação de luxo. Os poucos momentos de originalidade criativa talvez estejam a cargo do sempre hilário inspetor Dreyfus de Herbert Lom, e da aparição surpresa de Richard Mulligan como o pai de Jacques Clouseau. A breve viagem através da infância e da adolescência do desastrado detetive é a outra única coisa em todo o filme capaz de chamar a atenção. Ainda que esta obra consideravelmente menor de Blake Edwards tenha a infelicidade de decepcionar os fãs, ela não tem um final, e conclama o espectador a assistir ao próximo filme, A Maldição da Pantera Cor-de-rosa, para saber o que verdadeiramente aconteceu com Clouseau.
Como nos outros DVDs isolados da série da Pantera, o disco da MGM tem como extra somente com o trailer de cinema do filme.
Texto postado por Kollision em 19/Maio/2006