Única colaboração entre Peter Sellers e Blake Edwards fora da série da Pantera Cor-de-rosa, Um Convidado Bem Trapalhão representou uma encruzilhada nas carreiras de ambos, que voltavam a se cruzar após os desentendimentos surgidos durante a produção de Um Tiro no Escuro (1964). Foi graças à harmônica simbiose notada neste filme, pelo menos nos meandros técnicos, que a série do inspetor Clouseau pôde prosseguir meia década mais tarde, com o lançamento de O Retorno da Pantera Cor-de-rosa (1975).
Não há muito de história propriamente dita neste filme. Hrundi V. Bakshi (Sellers) é um ator indiano trabalhando numa típica produção hollywoodiana. Para o desespero do diretor do filme, Bakshi é um desastre no set, o que o obriga a despedí-lo e praticamente expulsá-lo de qualquer outra produção em que ele tente atuar. A grande ironia é que Bakshi acaba sendo convidado por engano para uma festa organizada por ninguém menos que o produtor do estúdio (J. Edward McKinley). O que se segue é um festival de nonsense e gags desastradas que giram em torno do abobalhado Bakshi, que mesmo em meio às trapalhadas consegue conquistar a simpatia de uma bela atriz iniciante (Claudine Longet).
Para uma obra que se desenvolveu com base num roteiro de cerca de 60 páginas e com forte ênfase no improviso, o filme não corresponde às expectativas esperadas dos nomes por trás da hilariante saga da Pantera Cor-de-rosa, que é na realidade a franquia pela qual Peter Sellers ou Blake Edwards sempre serão lembrados, para o bem ou para o mal. Há a nítida impressão de que o filme poderia ter metade da sua duração, como demonstram algumas seqüências esticadas até o limite do razoavelmente admissível. O humor é ingênuo, inofensivo, às vezes forçado e em muitos momentos bastante infantilizado, num claro sinal de que a obra envelheceu mais rápido do que deveria para o status que possui.
O sotaque de Peter Sellers, como sempre a verdadeira razão de ser do filme, está simplesmente impecável. O ator protagoniza logo na cena de abertura do longa uma de suas mais famosas seqüências, aquela em que ele é baleado por todos os lados por tropas de soldados revoltados com a sua insistência em soar uma trombeta irritante. É uma pena que o potencial para o humor rasgado seja confundido com um humor forçado, numa tentativa de espontaneidade narrativa que não é lá muito sutil. Além de Sellers, chega a brilhar por alguns momentos a figura do garçom bêbado feito por Steve Franken, e só. Em sua segunda metade a película vai perdendo o gás praticamente por completo, caminhando para um final que chega a lembrar as comédias mais românticas de Chaplin. Infelizmente, o resultado fica longe de ser tão satisfatório. Nem tudo no filme, porém, fica abaixo da média. Se há um aspecto que pode ser taxado de impecável, trata-se da trilha sonora do inigualável Henry Mancini.
O único extra do DVD é o trailer original de cinema do filme.
Texto postado por Kollision em 5/Junho/2006