O oportunismo providencial de Blake Edwards foi o grande responsável por este filme ser realizado, já que em sua concepção original ele jamais esteve destinado a fazer parte da série cômica sobre o desastrado inspetor Clouseau. O filme deveria ter sido uma adaptação fiel de uma peça de teatro, o que não aconteceu graças à birra de Peter Sellers, mas mesmo assim o autor original manteve seu nome nos créditos. Todos os personagens, contudo, foram remodelados para se encaixarem em mais uma peripécia investigativa que foi, estranhamente, filmada basicamente ao mesmo tempo que o filme de estréia da série, A Pantera Cor-de-rosa, que fôra lançado nos cinemas apenas três meses antes deste.
O assassinato à queima-roupa do motorista do bilionário Benjamin Ballon (George Sanders), em sua própria mansão, é tratado com total descaso pelo oficial de polícia, que só percebe a gravidade do caso após tê-lo designado ao incomparavelmente incompetente inspetor Jacques Clouseau (Peter Sellers). Sem se fazer de rogado, Clouseau assume o caso e logo cai de amores pela principal suspeita, a formosa empregada Maria Gambrelli (Elke Sommer), que tinha um caso com o morto e segurava a arma do crime quando foi encontrada. Disposto a provar a inocência da moça a qualquer custo, o atrapalhado detetive e seu complacente ajudante Hercule (Graham Stark) empregam meios de investigação que levam à loucura o seu chefe, o comissário da polícia Charles Dreyfus (Herbert Lom).
Tão ou até mais engraçado que a estréia de Clouseau, sua segunda aventura tem como maior diferencial, bem, tê-lo como personagem principal absoluto da história, papel destinado anteriormente ao ladrão feito por David Niven. Esta seqüência também é atípica por não trazer nos desenhos dos créditos de abertura a famosa pantera. É aqui que aparecem pela primeira vez os dois mais famosos coadjuvantes da série: o comissário Dreyfus e seu hilário tique de piscar o olho, e o ajudante e parceiro de treino de Clouseau chamado Cato (Burt Kwouk), um meio-clone de Bruce Lee que responde por alguns dos momentos mais engraçados de Um Tiro no Escuro. O brilho feminino fica por conta da estonteante Elke Sommer, que faz com que Clouseau joque pela janela sua quase inexistente sensatez e protagonize uma comédia de erros com muito humor negro. Não fosse Sommer a atriz escolhida para o papel da empregada que vive sendo surpreendida nas cenas dos crimes, a escalação teria sido a italiana Sophia Loren ou a alemã Romy Schneider.
Henry Mancini permanece fazendo um trabalho colossal na trilha sonora, evitando a repetição e pontuando com eficiência vários dos momentos mais sarcásticos das trapalhadas de Clouseau, como sua ida a um clube de nudismo e sua noitada desastrosa num restaurante russo. O ponto baixo do filme fica por conta do final abrupto e exagerado, que decepciona completamente. Com um desfecho menos pastelão e mais objetivo, o filme com certeza se aproximaria da perfeição.
O DVD da MGM traz como único extra o trailer de cinema do filme.
Texto postado por Kollision em 30/Abril/2006