Que este filme figura no panteão dos grandes musicais de todos os tempos todo mundo está careca de saber. Antes de revê-lo no caprichado DVD duplo lançado em comemoração aos seus 40 anos de vida, lembrava-me vagamente de algumas cenas esparsas, e meio que em nível subconsciente já conhecia algumas das canções, como qualquer cinéfilo inserido no universo cinematográfico é capaz de reconhecer ao assistir a especiais e mais especiais sobre a sétima arte.
No gênero musical em si, um terreno que ainda me é relativamente desconhecido e sobre o qual nunca tive lá muita ânsia de me aprofundar, devo dizer que A Noviça Rebelde não me empolgou como eu esperava, dados os elogios rasgados e as demonstrações de amor nostálgico de quem sempre o indicava. Apesar de muito bem realizado e de ser verdadeiramente dotado da alma que somente os grandes clássicos possuem, o filme é longo demais para uma história sobre uma família, seja ela composta de dois ou três atos distintos, e boa parte das canções se repete várias vezes até a chegada do "THE END".
A maior parte das músicas gruda na mente sem muita força. Agora basta sussurrar Dó-Ré-Mi para que me venha à cabeça a melodia... Edelweiss também se destaca, apesar de só ter sido interpretada na voz fraca com que dublaram Christopher Plummer, um ator que compensa muito bem a debilidade musical com uma grande presença cênica. O ponto mais baixo é a seqüência pouco inspirada que o diretor Robert Wise elaborou para o conselho que a madre superiora (Peggy Wood, indicada ao Oscar de coadjuvante) dá à heroína da história, numa canção que dá vontade de apertar o botão de Fast Forward de tão empolada e chata (a voz de Wood também foi dublada, não dá para culpá-la). Julie Andrews dá o necessário tom inocente e romântico à película, marcando para sempre a sua imagem dentro da história do cinema (cantora de talento, sempre de cabelos curtos). Das crianças, o destaque vai para a bela voz da também bela Charmian Carr, no papel da adolescente apaixonada por um rapaz que se revela, mais tarde, uma porcaria dum rebentozinho nazista.
Uma das novidades para muita gente, que o DVD esclarece logo no início de seu making-of, é que o musical para os palcos foi baseado num filme alemão da década de 50, que por sua vez fôra idealizado a partir de um livro escrito pela verdadeira Maria von Trapp. Ou seja, na própria Salzburg, na Áustria, houve um capitão da marinha chamado Georg von Trapp, que ficou viúvo e entregou os sete filhos à guarda da espevitada e alegre freira Maria, que mais tarde viria a se casar com o patrão, sobreviver às agruras da Segunda Guerra Mundial, transformar a família num fenômeno musical sem precedentes e escrever um livro sobre sua história. No filme, Georg é um jovem Christopher Plummer, Maria é Julie Andrews, e no elenco de crianças estão nomes futuramente conhecidos como o da atriz Heather Menzies e o do garoto Nicholas Hammond, famoso por vestir o uniforme do Homem-Aranha na série de pouca longevidade dedicada ao herói durante o final da década de 70.
Robert Wise colheu com este filme o seu segundo Oscar de melhor diretor, sendo que o primeiro foi para Amor Sublime Amor, outro dos grandes musicais de um gênero hoje extinto. Nenhum dos dois, no entanto, me agradou tanto quanto My Fair Lady, dirigido por George Cukor em 1964. E quem liga para essa inhaca de Oscar? As melhores contribuições de Mr. Wise para o cinema, com toda a certeza, parecem ter sido os filmes que ele dirigiu dentro do gênero da ficção científica.
O filme vem acompanhado de uma introdução curta de Julie Andrews, além de duas faixas de comentários separadas: uma de Robert Wise e outra de Andrews, Christopher Plummer, da coreógrafa Dee Dee Wood e de Johannes von Trapp, filho da verdadeira noviça rebelde. Outro recurso interessante do primeiro disco do DVD duplo é o acesso direto às canções do filme com opção de singalong, ou seja, legendas para acompanhamento das músicas como num videokê. O segundo DVD vem com outra introdução de Andrews, um making-of de uma hora, especial de 20 minutos com as lembranças de Julie Andrews e Christopher Plummer para o filme, especial de 20 minutos sobre as locações em Salzburg, uma reunião de meia hora atual com todos os intérpretes dos filhos da família von Trapp, apresentação do Singalong que reuniu 18.000 pessoas no Hollywood Bowl (Los Angeles) para a comemoração dos 40 anos do filme, um documentário de 45 minutos da A&E sobre a história da verdadeira família von Trapp, especial sobre o processo de restauração da película, teste de cena de Mia Farrow (que não cheguei a ver porque o DVD está com crepe) e três galerias de fotos da produção.
Visto em DVD em 19-AGO-2006, Sábado - Texto postado por Kollision em 24-AGO-2006