Depois do festival de pancadas mostrado em Rocky IV, que já era em si uma repetição exacerbada do melhor e do pior de todos os filmes anteriores, ficou difícil imaginar que ainda haveria algo a ser contado sobre o pugilista que, há muito tempo atrás, tinha acertado na loteria ao ser escolhido a esmo para uma luta de exibição contra o campeão dos pesos pesados. Para onde ele poderia ir, se já havia conquistado tudo dentro e fora dos ringues? O que ele poderia ganhar que já não tinha?
Uma das respostas mais óbvias à questão foi, de fato, absorvida pelo roteiro novamente escrito pelo próprio Sylvester Stallone. O garanhão italiano ganha, nesta quinta parte, uma lesão no cérebro decorrente das incontáveis surras que levou de gente como Apollo Creed, Clubber Lang e Ivan Drago. Em especial deste último, que vira e mexe continua a assombrá-lo. Impedido pelos médicos de voltar aos ringues e falido devido a um erro financeiro do cunhado Paulie (Burt Young), Rocky Balboa se aposenta e desperta a ganância de um promotor inescrupuloso (Richard Gant), que tenta de tudo para fazê-lo lutar novamente. Após se mudar com a família de volta ao subúrbio da Filadélfia, Rocky encontra novo rumo no esporte ao aceitar treinar o novato Tommy 'Machine'-Gunn (Tommy Morrison). Mesmo que para isso tenha que deixar a família, e principalmente o filho pré-adolescente (Sage Stallone), em segundo plano.
A paternidade e o fim da carreira são os principais temas desta que é, como poucas continuações de séries longevas, uma verdadeira volta às origens. Mais uma vez o cunhado preguiçoso é usado como muleta para a introdução da história, assim como em todas as continuações anteriores. Rocky vai rapidamente do topo para o fundo do poço, e no processo até mesmo o finado treinador Mickey (Burgess Meredith) aparece para dar uma palhinha numa recordação. O retorno do diretor da primeira parte e do compositor Bill Conti não chega a imprimir uma diferença muito grande entre este e os últimos filmes, sinal de que a cria sempre foi do astro/roteirista Stallone. O drama entre pai e filho não sai do clichê, mas o empresário inspirado pelo promotor de boxe Don King responde pelas melhores passagens do filme. O que importa é que, para os fãs, trata-se de mais do mesmo, com nenhuma dúvida de que haverá um empolgante duelo final. E com uma boa representação da máxima "não cuspa no prato em que come", ditada por Rocky numa briga de rua ao melhor estilo Street Fighter.
Uma das maiores curiosidades sobre Rocky V é que, além de escalar o próprio filho como seu garoto nas telas, Stallone contratou como coadjuvantes no ringue pugilistas de verdade, coisa que ele já havia tentado fazer sem sucesso em Rocky III. Tommy Morrison quase chegou a lutar com Michael Williams (o boxeador que assume o título após a aposentadoria de Rocky) após o lançamento do filme. Daí entende-se o fato de, como atores, ambos terem desaparecido na obscuridade. Suas carreiras como pugilistas seguiram caminhos diversos, sendo o de Tommy o mais tortuoso. Diagnosticado portador do vírus HIV em 1996, o pugilista teve que deixar o esporte e, desde então, tem perseguido uma infrutífera carreira como ator.
Stallone ainda voltaria para realizar o canto do cisne do personagem em Rocky Balboa (2006).
O trailer da produção é o único extra que acompanha o filme no DVD.
Texto postado por Kollision em 7/Novembro/2005