Mais altos e baixos na carreira de Rocky Balboa, o zé-ninguém que se tornou campeão mundial dos pesos pesados ao receber uma chance de ouro. Sylvester Stallone volta ao papel de sua carreira como ator, roteirista e novamente diretor, sacrificando o drama em detrimento de um conto mais dinâmico e condizente com a tendência dominante no cinema mainstream americano, tão disseminada ao longo da década de 80.
Colhendo os louros da suada vitória sobre o rival Apollo Creed (Carl Weathers), Rocky (Stallone) passa a defender o título sob o olhar atento do não-mais-tão-ranzinza mentor Mickey (Burgess Meredith). Após uma série de lutas, surge em sua vida Clubber Lang (Mr. T), um desafiante fortíssimo e sem papas na língua que leva Rocky a desistir de se aposentar para defender o título mundial pela última vez. Acomodado e abalado pela saúde titubeante de seu treinador, Rocky sofre uma derrota humilhante. Para ter a chance de recuperar o título, ele precisa então se submeter ao programa de treinamento da pessoa mais improvável em sua vida. Seu ex-rival, Apollo Creed.
Vou abrir mão dos comentários maldosos sobre as camisetinhas cortadas ao meio com as quais Weathers e Stallone desfilam ao longo do filme. Fica logo mais do que evidente que o diretor/autor resolveu, em Rocky III, valorizar cada músculo bombado dos boxeadores e deixar de lado a ênfase nos conflitos pessoais de cada personagem. Toda a introdução envolvendo o cunhado Paulie (Burt Young) no fundo do poço não serve para muita coisa, a não ser mostrar o contraste existente entre ele e Rocky, decorrente da recente riqueza adquirida pelo último. Então, quando o unidimensional e terrível oponente moicano entra em cena, acaba o tom criado pelos dois primeiros filmes e inicia-se a era moderna da saga de Rocky Balboa: lutas ainda mais espetacularmente coreagradas e filmadas, pouco recheio dramático além da queda e recuperação do herói e a inevitável punição do "homem mau" no final.
Obviamente, a mudança de tom tem lá suas vantagens. O lado aventuresco e heróico-pop do ícone do boxe cinematográfico é exaltado ao embalo de canções-tema de empolgação irresistível. Quem é ligado em cinema e nunca ouviu ou curtiu Eye of the Tiger do Survivor que atire a primeira pedra. Sim, este é o sinal de que Rocky torna-se definitivamente pipoca e não mais drama. A coisa que mais faz falta mesmo neste filme é um desenvolvimento mais decente para o agressivo Clubber Lang, claramente inspirado na figura de Muhammad Ali, mas que aparece praticamente do nada e abre caminho como um rolo-compressor carregado de ódio cego contra o campeão dos pesos-pesados. O sinal mais óbvio da diversão mais rasa que o filme proporciona.
Pena que o trailer original de cinema seja o único extra presente no DVD de Rocky III.
Texto postado por Kollision em 1/Novembro/2005