Este é, com toda a certeza, o maior triunfo da carreira de Sylvester Stallone. Ganhador do Oscar de melhor filme em 1977, Rocky - Um Lutador estabeleceu um padrão de 'cinema de superação' muito aplaudido na época de seu lançamento. O estilo seria copiado à exaustão nos anos seguintes, de tal maneira que a fórmula, que hoje soa gasta e clichê, parece ter envelhecido e perdido o fascínio de quando foi pela primeira vez apresentada. Pura injustiça. O filme tem seus méritos e merece figurar no panteão de clássicos do cinema.
Vivendo de bicos como cobrador de um agiota e dos trocados que consegue com lutas de quinta categoria em clubes velhos e empoeirados, Rocky Balboa (Stallone) leva uma existência sem perspectiva no subúrbio da Filadélfia. Ignorado pelo próprio treinador (Burgess Meredith) na academia onde pratica o boxe, Balboa ainda arranja tempo para cortejar a irmã excessivamente tímida (Talia Shire) de seu único amigo (Burt Young). Sua vida ganha um novo sentido quando o campeão dos pesos-pesados Apollo Creed (Carl Weathers) decide dar uma chance a um desconhecido e chamá-lo para uma luta pelo título. Para Apollo, a luta não passa de mais um espetáculo. Para Rocky, é a chance de uma vida, e ele está disposto a fazer de tudo para agüentar até o fim um combate que ele sabe que tem muito poucas chances de vencer.
A criação do personagem Rocky é coisa de Sylvester Stallone, e ele apenas. O cara idealizou o roteiro em apenas três dias (após ver o campeão Muhammad Ali ir ao chão pelos punhos de um desconhecido), bateu o pé quando exigiu que ele próprio protagonizasse o filme e soube, mesmo que inadvertidamente, canalizar o sentimento da América em algo inebriante, empolgante e inspirador. O povo norte-americano tinha a moral baixa devido às conseqüências polêmicas da guerra do Vietnã, e a figura de um herói dos guetos como Rocky era, naturalmente, algo que todos na época pareciam necessitar. A própria história de como o filme veio a ser feito é um exemplo de triunfo pessoal, pois Stallone não passava de um pé-rapado sem rumo na vida, mais ou menos como seu personagem, quando iniciou a carreira de forma meteórica com Rocky. Outro que também criou uma espécie de marca pessoal para si foi o diretor John G. Avildsen, que a partir de então se especializou em dirigir produções sobre heróis que superam todas as dificuldades para chegar ao topo.
Ao contrário dos últimos filmes da série, o primeiro Rocky foi, basicamente, um drama intimista e pungente que tinha as seqüências de boxe propriamente ditas como passagens coadjuvantes. A situação visivelmente se inverteria a partir de Rocky III, mais ou menos à medida que Stallone perdia de vez a aura de ator promissor para encarnar, ao lado de Arnold Schwarzenegger, o arquétipo do brucutu descerebrado em longas de ação. É por isso que Rocky - Um Lutador é o filme em que Stallone mais surpreende como ator, numa interpretação dramática correta e bem-humorada, que chegou a lhe render a indicação ao Oscar na categoria. Ele não ganhou, mas é irônico que, ao contrário do que acontece com outros atores atualmente, seu nome no cartaz nunca venha precedido do chamativo 'Oscar nominated' ou 'Academy award nominee'. Taí um estranho exemplo de preconceito provocado pelo próprio sucesso.
O elenco de apoio do filme é de primeira, com destaque para Talia Shire e Burgess Meredith. Ambos foram indicados a Oscars, assim como Burt Young (indicado junto com Meredith para ator coadjuvante). As composições heróicas de Bill Conti para a epopéia do pugilista, hoje imediatamente reconhecíveis com um simples assovio, se tornaram clássicas. Não soa exagero dizer que o enorme sucesso alcançado pelo longa meio que transformou Rocky numa espécie de ícone cultural criado pelo cinema, assim como o vagabundo de Chaplin, o aventureiro Indiana Jones ou o cavaleiro jedi de Guerra nas Estrelas.
O DVD tem como extras meia hora de Stallone falando francamente sobre o filme, além de três featurettes curtos com o diretor John Avildsen discorrendo sobre seu processo de ensaio cenográfico das lutas e tributos a Burgess Meredith e James Crabbe, o diretor de fotografia. Completam o disco dois trailers e três spots de TV do filme, acompanhados dos trailers originais de todos os demais episódios da saga.
Texto postado por Kollision em 7/Outubro/2005