Uma das obras da fase muda de Alfred Hitchcock, O Ringue foi um dos primeiros filmes a lidar com o mundo do boxe. Basicamente um drama romântico de estrutura simples, a história foge da sempre aclamada característica de suspense pela qual o diretor ficou mundialmente famoso.
'One Round' Jack Sander (Carl Brisson) é um lutador de boxe que se apresenta numa espécie de circo como desafio aos transeuntes que desejarem enfrantá-lo. Certo dia ele encontra um desafiante à altura, o campeão Bob Corby (Ian Hunter), que o derrota sem que ele saiba que está enfrentando um lutador profissional. Após passar no teste, Jack é chamado por Bob e seu treinador para ingressar no boxe profissional. Porém, além de se esforçar para conseguir derrotar seus adversários no ringue, ele também terá que lutar contra as liberdades que o bonitão Bob toma com sua noiva Mabel (Lillian Hall-Davies), iniciando uma inimizade que toma rumos cada vez mais dramáticos.
É preciso ser realista com O Ringue: a única coisa que realmente vale a pena no filme, e que remete à real fama de Alfred Hitchcock, é o clímax da história, que apresenta uma luta simplesmente emocionante. Todo o resto é, basicamente, de uma chatice de dar medo, numa história cheia de equívocos e que irrita por vários motivos.
Em primeiro lugar, não há uma apresentação eficiente de personagens. A ligação entre o lutador de circo Jack e sua namorada, que trabalha na bilheteria do lugar, em nenhum momento chega a ser esmiuçada ou introduzida de forma eficiente. A falta de carisma do elenco, principalmente de Lillian Hall-Davies, também não ajuda. Como se isso não bastasse, tudo o que o roteiro consegue fazer é torná-la antipática aos olhos da platéia, ou pelo menos da maior parte dela. A inserção de uma adivinha de supostamente vital importância para a história é uma bobagem que só é superada pela conduta libertina de Mabel e pela apatia do então marido Jack. O roteiro do próprio Hitch ainda tenta se recuperar no desenlace final, durante a ótima seqüência da luta, mas aí já é tarde demais para apagar a má impressão de todo o desenvolvimento apático e frouxo.
Para completar, a transferência digital da cópia disponibilizada pela distribuidora brasileira estranhamente corta boa parte da fotografia do filme na parte superior. Assim, esta se tornou a transposição com mais cabeças cortadas que já vi em toda a minha vida. Mas o filme é fraco mesmo. O pior é que a culpa não é do corte da composição, e sim do próprio Alfred Hitchcock.
A seção de extras de O Ringue é a mesma de todos os outros DVDs da coleção que traz ainda O Pensionista e Chantagem e Confissão: uma biografia de Alfred Hitchcock, uma galeria de fotos do diretor, outra galeria de pôsteres dos seus filmes e o trailer da edição em DVD da série Bonanza.
Texto postado por Kollision em 7/Junho/2005