O maior conflito da história da humanidade foi a Segunda Guerra Mundial, que se estendeu por quase seis anos e infligiu perdas inomináveis em praticamente todos os continentes. Nela, Alemanha, Itália e Japão chefiaram as forças do "eixo", com suas campanhas bélicas a serviço de um expansionismo territorial que por pouco não transforma o mundo atual numa realidade completamente diferente da que existe nos dias de hoje. Do outro lado, as forças "aliadas", lideradas inicialmente pela Inglaterra, França e Rússia, resistiam bravamente enquanto o resto do mundo assistia de camarote a um massacre de proporções nunca antes vistas em tempos contemporâneos.
Os Estados Unidos, separados do conflito por um oceano inteiro e por questões políticas internas, não tiveram participação ativa na guerra até a fatídica manhã de domingo de 7 de dezembro de 1941, quando a base de Pearl Harbor, nas ilhas do Havaí, foi atacada de surpresa por uma leva de 360 aviões japoneses. Cerca de 3.500 foram as baixas norte-americanas, entre mortos e feridos, sendo que insignificantes foram as perdas japonesas. O episódio causou a entrada incondicional dos EUA na guerra, durante o mandato do presidente Theodore Roosevelt.
Mais do que o sucesso bélico e estratégico do ataque japonês a Pearl Harbor, seu maior efeito na nação americana, e no mundo inteiro inclusive, foi o impacto psicológico que envolveu o restante do mundo numa iniciativa aliada que, futuramente, levaria à derrocada de Hitler, Mussolini e de todo o império japonês. O diretor Michael Bay poderia dizer, sob um ponto de vista ingênuo e poético, que a tragédia de Pearl Harbor representou o fim da "inocência" dos EUA. Com toda a certeza, é isso que sua superprodução de três horas de duração tenta demonstrar, em meio a efeitos especiais acachapantes e, bem, uma trágica história de amor como pano de fundo.
Enquanto toda a Europa chafurda e sofre nas mãos da Luftwaffe alemã, os pilotos e melhores amigos Rafe (Ben Affleck) e Danny (John Hartnett) são separados quando Rafe decide voluntariamente integrar a força aérea inglesa (RAF) e combater os alemães. Ele deixa para trás o grande amor de sua vida, a enfermeira Evelyn (Kate Beckinsale), e entrega ao amigo a responsabilidade de dar qualquer notícia ruim à amada. Esse momento chega quando o avião de Rafe cai no mar, e com ele o inevitável envolvimento de Danny e Evelyn. O súbito retorno de Rafe configura um explosivo triângulo amoroso que é pego de surpresa em meio ao terrível ataque japonês à base de Pearl Harbor, obrigando todos a abandonarem os conflitos pessoais em detrimento do horror sem precedentes que acontece diante de seus olhos.
É tarefa ingrata tentar quantificar o esforço sobre-humano de uma equipe de produção que tem a responsabilidade de filmar uma obra de proporções tão grandes quanto esta. É claro que a responsabilidade sobre o resultado final recai sobre os ombros do diretor, o gargalo que muitas vezes destrói uma história. Michael Bay é um diretor visual, plástico, e as seqüências de explosões e destruição demonstram sua capacidade inata de orquestrar cenas de ação. Já no departamento de atuação, no entanto, não se pode dizer o mesmo, muito embora a presença de Ben Affleck em papel dramático seja algo que diretor nenhum merece. Os diálogos e o nível de pieguice do romance no primeiro ato do filme são de dar medo. A química entre o trio raramente funciona e, quando ela dá lugar à pirotecnia exacerbada, soa até mesmo esquisita. Como se o romance e a ação fossem corpos estranhos um ao outro, unidos por um corte acidental na sala de edição.
O último ato do filme, que mostra uma pretensa e idealista resposta dos EUA comandada pelo major Doolittle (Alec Baldwin) à nação japonesa, poderia muito bem ter sido deixado de fora, economizando aí alguns milhões do produtor Jerry Bruckheimer e melhorando o filme alguns pontinhos. Mas é claro que, mesmo que Pearl Harbor envolva uma das maiores vergonhas dos Estados Unidos, de alguma forma eles teriam que dar um jeito de sair por cima, e além disso apresentar um desfecho ao impossível triângulo amoroso criado no início do filme. Um doce para quem adivinhar o que acontece sem nem mesmo assistir, já que durante o tempo de projeção nem há graça em tentar antecipá-lo.
Na seção de extras há um making-of de 50 minutos detalhando aspectos da produção e apresentando depoimentos de sobreviventes do ataque a Pearl Harbor. Aqui é possível notar que muito do que está contido no filme foi de fato baseado em relatos verdadeiros, de pessoas que passaram por um momento que com certeza foi muito pior do que qualquer festival pirotécnico concebido por Hollywood. Há ainda o trailer de cinema, o vídeo-clipe de There You'll Be, canção-tema cantada por Faith Hill, e um featurette rápido que tenta justificar o modo como os japoneses foram retratados no filme, trazendo entrevistas curtas dos eternos coadjuvantes Mako e Cary-Hiroyuki Tagawa.
Texto postado por Kollision em 15/Novembro/2004