Michael Bay pode não ser lá o queridinho da crítica, mas a grande parte dos freqüentadores de cinema continua a fazer com que seus filmes se tornem inegáveis sucessos financeiros. Rei das explosões e das cenas de ação absurdas, Bay aventura-se agora numa ficção científica com toques filosóficos, desta vez sem o aval do parceiro de sempre Jerry Bruckheimer. Pelo porte do filme, não dá para perceber a diferença resultante da troca de produtor. E não há dúvida alguma de que o padrão 'Bay' de espetáculo também continua o mesmo.
Em algum lugar do ano de 2029, a sociedade foi reduzida a um grupo de sobreviventes de uma tal catástrofe que os isolou numa espécie de redoma intransponível. Vivendo dia após dia sob controle social rígido e ameaçados pela sombra da contaminação do mundo exterior, a única expectativa que todos têm é a possibilidade de ganharem na loteria e embarcarem numa viagem à 'ilha', o único lugar do velho mundo onde o sol ainda brilha e os antigos prazeres podem ser vivenciados. O sistema não parece assim tão perfeito para Lincoln Six Echo (Ewan McGregor), que começa a fazer perguntas e procurar respostas para o mistério de sua realidade. Perseguido pelo médico responsável pelo complexo (Sean Bean), Lincoln se vê obrigado a fugir com a amiga Jordan Two Delta (Scarlett Johansson) em busca da verdade acerca de sua própria existência.
A visão do diretor sobre a polêmica da clonagem humana bebe impiedosamente de filmes como THX 1138 (George Lucas, 1971) e Matrix (Wachowskis, 1999). Lincoln e Jordan são clones, e o processo que envolve tal constatação é a melhor coisa que existe em A Ilha. Dá até para acreditar, neste trecho do filme, que Michael Bay deixou de lado a pirotecnia da impossibilidade e resolveu investir numa história mais plausível para variar. A credibilidade do roteiro é bem suportada pelo ótimo elenco, em especial McGregor e Sean Bean, como o médico metido a Deus que desenvolve cópias de seres humanos reais para fins aparentemente nobres. Scarlett Johansson está estonteante em sua estréia num filme de ação. E Steve Jablonsky vai se firmando como compositor de blockbusters, meio que emulando o trabalho mais contemplativo de Angelo Badalamenti.
Os problemas surgem quando a história começa a ficar realmente movimentada. Há aquele punhado de cenas impossíveis de destruição das quais os heróis saem praticamente ilesos, mas nada se compara a algumas decisões bobas que o roteiro é obrigado a tomar. O fato de Jordan conseguir entrar com uma arma no complexo de clonagem e a atitude do chefe de segurança feito por Djimon Hounsou diante de Lincoln e sua contraparte original são os dois lances mais gritantes.
A combinação de polêmica e entretenimento não é de todo convincente, porém não chega a desapontar como diversão escapista. Levantar indagações filosóficas, que é algo logicamente esperado de um filme com este tema, quase fica em segundo plano por causa da ação desenfreada que pipoca lá pela metade da projeção. O futuro não é tão inclemente como parece ser no início, apesar da estarrecedora verdade com a qual a dupla de fugitivos precisa subitamente conviver. Cinematograficamente falando, ele se parece com aquele recentemente concebido por Steven Spielberg em Minority Report - A Nova Lei (2002), com sua fotografia fria e suas várias sondas e geringonças voadoras que parecem nem estar tão distantes assim dos dias atuais.
Texto postado por Kollision em 2/Setembro/2005