Dez anos depois do final da trilogia sobre Damien Thorn, o anticristo mais famoso da história do cinema, alguém dentro da equipe que detinha os direitos do material achou que era uma boa idéia recauchutá-lo para o meio televisivo. E dá-lhe um quarto capítulo lançado diretamente na tela pequena e por muitos sumariamente ignorado. O negócio não foi muito bem já durante as filmagens, uma vez que o diretor Dominique Othenin-Gerard abandonou o barco e obrigou a produção a contratar John Montesi para a finalização da obra, que não passa de uma releitura meio desavergonhada do filme original.
Damien está morto, mas seu legado continua na figura de Delia (Asia Vieira), que ainda bebê é adotada pelo casal de advogados Gene (Michael Woods) e Karen (Faye Grant). Gene logo está dentro da corrida política para congressista de renome e talvez algo mais dentro da esfera americana, enquanto Karen se transforma em testemunha do comportamento cada vez mais errático da filha adotiva e dos fenômenos estranhos que ocorrem quando ela está por perto. Várias pessoas vão fornecer-lhe algum conhecimento sobre o assunto, incluindo uma empregada prestativa (Ann Hearn), um padre experiente nos temas do Apocalipse (Duncan Fraser) e um detetive que ela contrata para investigar o passado de Delia (Michael Lerner).
Alguém aí deixou de notar alguma semelhança entre a sinopse acima e a narrativa do hoje clássico A Profecia, dirigido com fleuma satânica (de boa) por Richard Donner em 1976? Praticamente todos os personagens reaparecem, alguns praticamente na mesma situação e outros em circunstâncias somente um pouco diferenciadas. Se a intenção era dar continuidade à saga de Damien, mesmo contrariando todas as implicações lógicas e religiosas estabelecidas pelos filmes anteriores, por que então apresentar uma refilmagem disfarçada do original, reduzindo a estatura de um filme tão bom ao nível de exibições esquecidas na programação da madrugada? Alguém tem alguma dúvida de que o equívoco não foi pequeno?
Não que a execução seja deplorável, o que não é verdade. Para um trabalho televisivo, A Profecia IV não faz feio. Com valores de produção num padrão mínimo de qualidade e o reaproveitamento de partes da inesquecível trilha sonora de Jerry Goldsmith, o maior pecado do longa fica mesmo na repetição inútil da história. Asia Vieira, o alter-ego do capeta, faz direitinho o papel da criança endemoniada. Dentro do elenco adulto, Michael Lerner é o único capaz de fazer-nos lembrar de seu personagem depois que o filme acaba. A história faz uma bagunça danada com a trama final da gravidez da mãe e atesta a completa falta de originalidade do roteiro, que traz um desfecho que nem vale a pena comentar.
Pelo fato de não acrescentar nada de novo, apesar de ser mais convidativo que o decepcionante A Profecia III - O Conflito Final, este filme cai na categoria do completamente descartável. Até mesmo para quem porventura tenha gostado muito de TODA a trilogia original.
O único extra presente no DVD é o trailer de cinema.
Visto em DVD em 5-JAN-2007, Sexta-feira - Texto postado por Kollision em 9-JAN-2007